Prisão de “Fuad” encerra 5 décadas de poder e fortalece PCC na fronteira
Fahd ainda era considerado o mais poderoso chefão do crime entre Ponta Porã e Pedro Juan
“El Padrino”, “Rei da Fronteira”, o “Chefe dos chefes”. Por cinco décadas, essas foram as palavras mais temidas na linha internacional entre o Paraguai e Mato Grosso do Sul, mais precisamente entre Pedro Juan Caballero, a capital de Amambay, e Ponta Porã (MS).
Esses são os apelidos mais conhecidos de Fahd Jamil Georges, o “Fuad”, o criminoso mais respeitado e poderoso da fronteira. Amigo de políticos importantes e acusado de comandar com mão de ferro o tráfico de drogas e de armas e a exploração de jogos de azar, Fahd se entregou hoje (19) à polícia sul-mato-grossense, em Campo Grande.
Fontes da fronteira ouvidas pelo Campo Grande News nesta segunda-feira não têm dúvida: a prisão de “Fuad” pode significar o fim de um reinado que durou quase 50 anos.
Facção criminosa mais poderosa da América do Sul na atualidade, o PCC (primeiro Comando da Capital) deve ganhar ainda mais terreno e comandar sozinha o fornecimento de maconha e cocaína na fronteira.
Todos os sucessores de Fahd já estão mortos e o filho, Flávio Correia Jamil Georges, o “Flavinho”, que poderia tocar os negócios, também é procurado pela polícia e jurado de morte na linha internacional.
Para quem conhece de perto os detalhes do submundo do crime, Fahd Jamil foi o mais engenhoso chefão que a fronteira teve. Com poder e habilidade, se manteve no topo. Primeiro no contrabando e depois no tráfico de drogas e de armas.
Em 40 anos, foi preso uma única vez, no Paraná, e solto logo em seguida. Mas o tempo passa para todo mundo e hoje, aos 80 anos de idade, Fahd (a pronúncia correta é Faad) está de volta à cadeia.
Enquanto boa parte dos “patrões” do crime ia para a cadeia ou para a cova, Jamil manteve seu reinado. “Nenhum teve vida tão longeva como ele nesse ramo na fronteira”, afirmou ao Campo Grande News uma fonte de Ponta Porã.
Dois sucessores naturais de Jadh Jamil seriam o primo Luiz Henrique Rodrigues Georges, o “Tulu”, e o filho Daniel Alvarez Georges, o “Danielito”, mas os dois morreram.
Danielito desapareceu em maio de 2011. Em janeiro deste ano foi oficialmente declarado morto. Teria sido executado por desacerto entre a quadrilha. Tulu foi fuzilado em Ponta Porã em outubro de 2010 aos 44 anos de idade.
Outro bandido muito ligado a Fahd Jamil foi Jorge Rafaat Toumani, executado a tiros de metralhadora calibre 50 no centro de Pedro Juan Caballero em junho de 2016.
Depois da morte de Rafaat, o PCC passou a controlar boa parte do tráfico, mas ainda enfrentava resistência da quadrilha do Rei da Fronteira. Com Fahd Jamil fora do jogo, a facção deve assumir o controle total. Para os analistas da fronteira, o PCC é mais aberto à negociação. “Os inimigos não querem mais o seu Fahd no jogo”, afirma o fronteiriço, que pede anonimato, por medida de segurança.