Rezadeira guarani foi morta pelo sobrinho, que diz não lembrar de nada
Robson Rocha foi preso em Aral Moreira e autuado em flagrante por matar avó e o marido dela em incêndio
A rezadeira guarani-kaiowá Sebastiana Gauto, 92, foi assassinada pelo próprio sobrinho, Robson Rocha, 26, a quem considerava como neto. Ele está preso acusado de ser o autor do incêndio criminoso que na madrugada de ontem (18) destruiu a casa da religiosa na Aldeia Guassuty, no município de Aral Moreira. Sebastiana e o marido, Rufino Velasque, 55, morreram carbonizados.
Ontem, logo após a prisão dele, a Polícia Civil sabia que o acusado era parente das vítimas, mas não tinha conhecimento ainda do grau de parentesco. Nesta terça-feira (19), o delegado Maurício Vargas confirmou que Robson era sobrinho, mas neto de consideração de Sebastiana.
Robson Rocha foi autuado em flagrante no final da tarde de ontem pelo duplo assassinato. Em depoimento, disse não se lembrar do ocorrido devido ao uso de drogas. Ele também não soube explicar o motivo que o levou a ter desavenças com a tia e o marido dela. Segundo a polícia, há algum tempo ele ameaçava matar o casal.
Os investigadores chegaram até o parente de Sebastiana após informações passadas por lideranças da aldeia e uma integrante da família. Ela confirmou que o rapaz ameaçava a rezadora e o marido. Além disso, a perícia encontrou pegadas perto da casa incendiada semelhantes ao calçado usado pelo acusado.
Robson Rocha também foi autuado em flagrante por tráfico de drogas. Na casa dele, a polícia encontrou porção de maconha e balança de precisão. Lideranças indígenas informaram que Robson traficava drogas em várias aldeias da região. No momento em que foi preso pela Polícia Militar, ele estava com uma moto, usada para percorrer as áreas entregando droga.
Corpos carbonizados – A “Ñandesy” Sebastiana e o marido dela dormiam quando a casa foi consumida pelo fogo. Quando outros moradores perceberam, as chamas já tinham tomado conta do casebre de madeira. Os corpos totalmente carbonizados foram encontrados entre as cinzas.
Imediatamente, entidades e ONGs (organizações não-governamentais) que atuam na defesa dos povos indígenas espalharam suspeitas de crime por intolerância religiosa. Em Mato Grosso do Sul há vários casos de ameaças e intimidação contra rezadores tradicionais.
Entretanto, desde o início das investigações, a polícia afastou essa possibilidade e tratou o caso como crime comum. “Trata-se de crime passional, não se trata de crime relacionado a ódio ou preconceito e expõe as questões sociais vividas nas aldeias próximas à fronteira do Brasil com o Paraguai, onde muitos são acometidos pelo vício da droga do álcool e acabam praticando atrocidades”, disse o delegado Maurício Vargas.
Ontem, o Ministério dos Povos Indígenas anunciou que havia pedido à Polícia Federal para assumir as investigações sobre o duplo assassinato na Aldeia Guassuty. Com a confirmação de que se trata de crime comum, no entanto, o caso deve continuar com a Polícia Civil.
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