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Interior

Sem-terra mantêm ocupação e fazem limpeza em prédio do Incra

Líderes do MSTB esperam posição do superintendente do órgão em MS sobre desapropriação de fazendas de Bumlai e de servidor paulista acusado de corrupção

Helio de Freitas, de Dourados | 22/03/2016 09:10
Trabalhadores que ocupam prédio do Incra em Dourados limparam quintal e dependências internas (Foto: Divulgação/MSTB)
Trabalhadores que ocupam prédio do Incra em Dourados limparam quintal e dependências internas (Foto: Divulgação/MSTB)

Trabalhadores rurais do MSTB (Movimento Sem-Terra do Brasil) que desde ontem ocupam a sede do Incra em Dourados, a 233 km de Campo Grande, passaram a noite no local e prometem manter o protesto até uma posição da Superintendência em Mato Grosso do Sul sobre a desapropriação de várias fazendas no Estado, especialmente duas do pecuarista José Carlos Bumlai.

Um dos líderes do movimento disse hoje (22) ao Campo Grande News que os trabalhadores aproveitaram a presença na sede regional do órgão federal, localizada na Vila Aparecida, área nobre da cidade, para fazer uma limpeza no quintal e no prédio.

“Estamos reivindicando terras para nossas famílias, mas também condições de trabalho para os funcionários do Incra, para que possam cadastrar esses trabalhadores que estão em acampamentos à espera da reforma agrária”, disse um dos líderes do MSTB na região de Dourados, identificado como Jair.

Segundo o MSTB, a regional do Incra em Dourados acumula dívidas e mais dívidas por falta de repasse de recursos. Outo líder dos sem-terra, Antonio Silva da Cruz, o Pastor, disse que o aluguel do prédio está atrasado há quatro meses, há seis meses de atraso com a empresa de segurança e há um ano o Incra não paga a oficina que faz manutenção nos carros usados no trabalho em assentamentos da região sul do Estado. Os veículos estão parados, nos fundos do prédio.

Bumlai – O MSTB quer a desapropriação de duas propriedades de Bumlai, a fazenda Santa Inez em Rio Brilhante e a fazenda São Marcos, em Dourados. Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Bumlai está preso na Operação Lava Jato e desde ontem passou a cumprir prisão domiciliar para tratamento de um câncer na bexiga.

O grupo que ocupa a sede do Incra pertence ao acampamento montado na margem da BR-463, em frente à fazenda São Marcos, onde a Usina São Fernando – também de propriedade da família Bumlai – planta cana de açúcar. Em dezembro a fazenda foi ocupada pelas mesmas famílias de sem-terra, despejadas 11 dias depois, após a Justiça conceder a reintegração de posse aos filhos de Bumlai, donos da usina. Existem 437 famílias no acampamento, segundo o MSTB.

O MSTB afirma que a dívida de Bumlai com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e com outros bancos ultrapassa 1 bilhão de reais, o que justifica o confisco das fazendas. “Queremos que essas terras sejam entregues à União. Já entramos com ação pedindo a destinação das fazendas para a reforma agrária”, afirma Pastor.

Fazenda em Ribas – Desde ontem, famílias do MSTB ocupam a fazenda Carolina, no município de Ribas do Rio Pardo, a 103 km da Capital. A propriedade pertence ao agente fiscal aposentado da Secretaria de Fazenda de São Paulo, Ananias José do Nascimento, preso pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) em julho do ano passado.

Ele passava férias na fazenda em Mato Grosso do Sul quando foi preso acusado de receber propina para fraudar fiscalizações do ICMS no estado vizinho. Ananias responde por corrupção passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

Nascimento foi denunciado após o doleiro Alberto Youssef, preso na operação Lava Jato, de dito que pagou R$ 15 milhões em propinas a fiscais da Secretaria e fazenda de São Paulo para deixar de fiscalizar o recolhimento de ICMS de empresas do esquema.

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