Vítima da covid, Cícera “morria de medo da doença e não saía de casa para nada"
Família tenta entender como ocorreu o contágio; resultado do primeiro teste foi negativo e diagnóstico diferente veio dias depois
A família de Cícera Aparecida, de 61 anos, a primeira vítima da covid-19 em Sidrolândia e 26ª do Estado, ainda luta para entender como ocorreu o contágio da dona de casa que “morria de medo da doença e não saía de casa para nada”. Segundo eles, o resultado do primeiro teste sobre a presença do vírus foi negativo. Mas cinco dias após a morte, veio a confirmação. Ela estava com o coronavírus.
Única filha mulher de Cícera, a agente de limpeza Maria Lúcia Rosa, de 42 anos, comentou que os irmãos e netos da idosa ainda tentam entender a situação. Eles têm dúvidas sobre as diferenças nos resultados e querem uma investigação.
Segundo ela, Cícera foi ao posto de saúde do distrito de Quebra Coco três dias seguidos porque estava com coriza. A idosa foi medicada e orientada a voltar para casa, segundo a filha, sem passar por exames do coronavírus. “Ela nem saía de casa. Tinha tanto medo dessa doença. Só foi ao posto e de máscara”, comentou.
De sábado para domingo, a idosa passou a se queixar de cansaço e dificuldade para respirar. As reclamações ficaram mais intensas no domingo, quando a família voltou a procurar o posto. Neste dia, Cícera foi encaminhada ao hospital.
Maria Lúcia disse ter sido chamada pelo médico que perguntou se a mãe dela era fumante já que os pulmões dela estavam comprometidos. “Eu respondi que ela tinha fumado durante 40 anos, mas já tinha parado há 10 anos. Ele disse que ela estava com pneumonia e a situação era grave”.
Ela ouviu do profissional que este fator, além do peso e idade agravaram a situação da paciente. Segundo Maria Lúcia, a mãe passou por um teste rápido que deu negativo para a doença.
A idosa foi sepultada sem velório e, a partir daí, começaram a surgir comentários na cidade que a morte teria sido causada pelo coronavírus. “A gente preocupado e nada de sair o resultado”, lembra. O enterro foi no dia 7 e a confirmação só no dia 11.
Desde o sepultamento, 18 pessoas da família estão em isolamento social. De acordo com Maria Lúcia, a medida deve durar mais alguns dias. Para ela, o pior de tudo isso são as dúvidas sobre o resultados dos exames. “Por que não deu positivo logo no teste rápido?”, questiona, afirmando que a família quer uma investigação.
Os testes rápidos atestam a presença de anticorpos enquanto o Swab, aquele feito com o cotonete e retirada de mucosa, avalia a carga viral. Isto quer dizer que, se o paciente fizer o teste rápido antes da produção dos anticorpos o resultado será um falso positivo.
O sentimento da família hoje não é só de tristeza, mas de temor já que, segundo ela, nem todos foram testados. “Testaram sobrinho que morava com ela, um tio que reclamou de dor nas costas e uma prima. Os outros deixaram numa casa. Não pode sair e pronto. Está todo mundo apavorado”, declara.
Em nota divulgada sobre o caso, a Secretaria Municipal de Saúde informou que todas as medidas necessárias estão sendo tomadas pela equipe de vigilância epidemiológica do município. “Temos consciência da responsabilidade dos dados informados, sendo que qualquer outra informação veiculada fora do veículo oficial da Prefeitura Municipal não é de responsabilidade deste órgão”.
A reportagem tentou contato com o prefeito de Sidrolândia para ter entender o porquê de a paciente não ter passado por testes quando procurou o posto pela primeira vez, mas as ligações não foram atendidas.