Investigadores criticam soltura "relâmpago" de Puccinelli e do filho
Entre responsáveis pela investigação, comentário é que não seria possível analisar documentos que embasaram prisão
A decisão do desembargador Paulo Fontes que mandou soltar o ex-governador André Puccinelli (PMDB) e o filho dele, André Puccinelli Junior, 30 horas após o cumprimento da prisão pela Polícia Federal, provocou estranhamento e críticas entre os investigadores que cuidam do caso. O Campo Grande News apurou que a principal pergunta entre eles é sobre como, entre a noite de ontem e a manhã de hoje, o magistrado e sua equipe conseguiram analisar os documentos que embasaram a prisão. São quase 300 páginas.
A reportagem conversou com dois dos investigadores e eles sustentaram a opinião de que foi tudo rápido demais para o tamanho do conteúdo a ser analisado. Ontem, durante a audiência de custódia, diante do pedido da defesa de revogação da prisão, o juiz reponsável, Ney Gustavo Paes de Andrade, rejeitou a solicitação e comentou que a decisão, bastante extensa, apresentava elementos que o convenceram da necessidade de prisão preventiva.
São 266 páginas de documentos, considerando a representação pelas prisões, a decisão que concedeu as ordens de prisão e o termo de acordo da delação premiada de Ivanildo da Cunha Miranda, que desencadeou a 5ª fase da Lama Asfáltica, chamada Papiros de Lama, por envolver o esquema que "esquentava" transações consideradas irregulares.
Os investigadores apontam que, para decidir, o magistrado precisava se inteirar dos conteúdos do pedido das prisões, com 156 páginas, do acordo, onde consta as declarações do delator Ivanildo Miranda, com 30 páginas, e da decisão das prisões, com 80 páginas.
O pedido de habeas corpus foi feito pelo advogado Antonio Mariz, amigo pessoal do presidente Michel Temer, no fim da tarde desta quarta-feira (14). Paulo Fontes teve cerca de dez horas – sem considerar o período de repouso – para analisar os documentos, tomar a decisão e redigi-la.
Em primeiro grau, o pedido foi formulado em 25 de setembro e a determinação das prisões do juiz Ney Gustavo Paes de Andrade, da 3ª Vara Federal de Campo Grande, data de 31 de outubro. Foram 36 dias transcorridos até ele acatar parcialmente os pedidos. A PF havia solicitado 10 prisões, mas foram concedidas 4.
Paulo Fontes é o mesmo juiz que, em maio, concedeu parcialmente os pedidos feitos pela defesa de André Puccinelli. O magistrado substituiu o uso da tornozeleira por outras medidas restritivas.
Milhões na lama – A operação, que resultou na prisão do ex-governador, foi feita em conjunto pela Polícia Federal, Controladoria-Geral da União e Receita Federal. A Puccinelli, os investigadores atribuem a chefia do grupo criminoso. André seria o beneficiário e garantidor do esquema de propina com a JBS, que teria repassado no mínimo R$ 20 milhões em apenas um ano.
O volume de recursos que teriam sido repassados ao grupo de forma irregular supera R$ 235 milhões, conforme a PF.