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Cidades

Sem acordo, 70 alunos de Medicina tem problema com Fies e vão deixar curso

Mariana Rodrigues e Liana Feitosa | 11/03/2015 16:56
Segundo informaram os acadêmicos do curso, dos 120 alunos aprovados em Medicina neste ano, 80 já desistiram. (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)
Segundo informaram os acadêmicos do curso, dos 120 alunos aprovados em Medicina neste ano, 80 já desistiram. (Foto: Marcos Ermínio/Arquivo)

Dez dias depois de fecharem as portas do DCA (Departamento de Controle Acadêmicos) da Anhanguera-Uniderp, alunos do curso de Medicina se reuniram novamente com a administração da instituição para receberem respostas da reitora Leocádia Aglaé Petry Leme. A reunião, que contou com a presença de acadêmicos do 1º ao 4º ano do curso, além de um representante do grupo Kroton, que comanda a Anhanguera, aconteceu por volta das 18h de ontem (10).

A conversa teve como ponto principal o valor da mensalidade. Segundo Juliano Falcão, 24 anos, do 1º ano, ficou claro na reunião que a universidade não irá mudar seu posicionamento. Portanto, de 120 alunos da turma do primeiro ano, cerca de 50 conseguiram dar andamento no Fies (Fundo Estudantil), o restante enfrenta problemas. "Ninguém resolve nada. Esses 70 alunos que não conseguem finalizar o Fies não vão ficar na instituição, já disseram isso. Um ou outro vai conseguir pagar a mensalidade por conta, no particular, mas a grande maioria depende do Fies totalmente", diz Juliano Falcão.

Validação - Para contratar o Fies, o primeiro passo que o aluno deve tomar é se cadastrar no site. Depois ele deve levar documentos até a Uniderp, só que os funcionários, mesmo com os documentos em mãos, não conseguem validar o cadastro já feito no site. "A questão é que a gente não pode desistir. Não dá para entrar em um curso e, diante do primeiro problema, decidir sair. Agora já entrei, já fiz uma dívida com o Fies. Só que a gente não sabia disso antes de entrar, ninguém imaginava que teríamos tantos problemas, só soubemos disso tudo depois que entramos. Se eu soubesse antes, nem tinha entrado", afirma outro aluno do 1º ano do curso, que preferiu não se identificar.

Ainda de acordo com o aluno, a reitora apresentou apenas uma proposta durante a reunião de ontem. "Os alunos veteranos, cujo Fies não cobre totalmente o valor da mensalidade, poderão pagar aos poucos, de forma bem diluída, essa diferença. Isso até ajuda, mas não resolve o problema. O curso está absurdamente caro", alega o estudante.

Conforme os alunos disseram, a planilha apresentada durante a reunião aponta que no ano de 2012 a mensalidade de Medicina da Uniderp era de R$ 4.790. Em 2015, a fatura mensal subiu para R$ 10.317. "Ou seja, houve aumento de 100% na mensalidade. Isso está na planilha, mas nada justifica esse valor", desabafa, indignado o estudante.

Os alunos definiram a reunião como uma "enrolação", pois segundo eles nada ficou definido. "O superintendente da Kroton para a região Centro-Oeste tentou explicar sem sucesso a planilha de custos da universidade. Ela é tão resumida que não pudemos perguntar nada sobe ela. Eles utilizaram um modelo proposto por lei, mas que é tão resumida que não permite questionamentos", detalha o aluno.

Os acadêmicos ainda se mostraram insatisfeitos com a infraestrutura da universidade que não condiz com o alto valor cobrado nas mensalidades do curso. "Mostraram a planilha de custo, mas a gente ainda não está satisfeito pelo valor que se paga e pela estrutura oferecida. Na biblioteca faltam livros, um laboratório que era pra ter ficado pronto no meio do ano passado ainda está em construção e a obra parou. Cobram caro e não oferecem retorno", diz o aluno. "A reunião de ontem teve clima bem tenso, os alunos estão bastante apreensivos", completa.

"O ponto principal que nos deixa indignados é a falta de transparência da universidade porque, tudo o que pedimos, é negado. A planilha só foi dada depois que fomos ao Procon. Perguntamos como funciona a bolsa incentivo, por exemplo, que dá super descontos aos alunos, mas ninguém explica, ninguém sabe como é dada, quais são os critérios. Nem os funcionários de lá conseguem explicar, nem eles entram num acordo em relação a isso", lamenta.

Outro lado - A assessoria de comunicação do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), que cuida das questões do Fies, informou ao Campo Grande News, que com relação ao limite de financiamento, "quando a faculdade deseja aderir ao Fies, ela pode fazê-lo com ou sem limite de crédito. Ou seja, se a faculdade adere com limite de crédito, ao se atingir esse limite, estipulado pela própria instituição, o sistema não aceitará novos alunos pelo Fies", explicou.

A assessoria informou ainda que as requisições para novas inscrições são liberadas por instituição de ensino e por curso, em ordem cronológica. "A abertura do Fies 2015 leva em consideração a qualidade dos cursos, com atendimento pleno aos cursos nota 5. Já nos cursos nota 3 e 4 são considerados alguns aspectos regionais, como por exemplo cursos e localidades que historicamente foram menos atendidos".

De acordo com a assessoria de imprensa da Anhanguera Uniderp, na reunião de ontem, "foram esclarecidas todas as medidas que vêm sendo tomadas para encontrar soluções aos problemas referentes às alterações no FIES, como a negociação com representantes do setor de educação, diálogo com o Ministério da Educação e até medidas judiciais".

Ainda por meio de sua assessoria, a instituição ressaltou que obedece à legislação vigente e ao disposto na Lei de Mensalidades Escolares e se mantém à disposição para esclarecimentos adicionais. "A Instituição reafirma que está comprometida na busca por uma solução que preserve os direitos de todos os alunos beneficiários do Fies. Para garantir a excelência nos serviços prestados e, na falta de evolução das negociações com o MEC, a Anhanguera-Uniderp expôs alternativas que viabilizem a continuidade dos estudos dos alunos" .

Desistências - Segundo informaram os acadêmicos do curso, dos 120 alunos aprovados em Medicina neste ano, 80 já desistiram e outros estudantes foram chamados. "A lista de aprovados do vestibular da Uniderp já está no número 200", conta um aluno que não quis se identificar.

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