Sem restauração há 10 anos, rota da celulose sofre com falhas de projeto
Longe de vultosas quantias e da burocracia, está quem enfrenta a rodovia
Num contexto de contrato “fraquinho”, projetos que se arrastam por anos e até a falta de uma pedreira no meio do caminho, a BR-262, principalmente no trecho entre Água Clara e Três Lagoas, é campo fértil para buracos, sacolejo e perigo por falta de acostamento.
As soluções envolvem cifras milionárias, serviços paliativos e previsão de repasse à iniciativa privada em 2016. A BR até já esteve nos planos de privatização do governo federal, mas foi excluída em 2013 por falta de viabilidade. Nos últimos anos, a rodovia virou rota de passagem para o mercado da celulose, o segundo produto mais exportado do Estado e que nos primeiros setes meses do ano movimentou US$ 583,7 milhões.
Longe de vultosas quantias e da burocracia, está quem enfrenta a rodovia. “Acostamento não existe e buraco é constante”, resume o caminhoneiro Claudinei de Oliveira, 51 anos de idade e 32 anos de estrada.
"Não tem sinalização, acostamento, só buraco", reclama o caminhoneiro Paulo Henrique da Silva, 41 anos, que passa pela rodovia nas rotineiras viagens entre a capital de São Paulo e Cuiabá (MT).
Mas para quem roda o Brasil, há trecho da BR-262 que é considerado até razoável. “Tem bem mais ruinzinha, em Porto Velho, por exemplo”, afirma Elcio Carlos Bueno, 30 anos, que é caminhoneiro, mas estava em viagem de motocicleta.
Atualmente, entre Três Lagoas e a intersecção para Santa Rita do Pardo, que corresponde a 189 quilômetros, os reparos são feitos em um contrato "fraquinho". Ha mais de dez anos sem restauração, a BR-262 deveria estar hoje recapeada, com travessias no perímetro urbano, 30 km de terceira faixa, contudo, a vencedora do processo, que se arrastou de 2008 a 2012, desistiu de executar o contrato de R$ 140 milhões. O trabalho foi executado em 10% pela Enpa Engenharia. Na prática, o percentual equivale a 30 quilômetros de asfalto recuperado nos 59 quilômetros que antecedem Três Lagoas.
"A empresa pediu a rescisão porque os preços praticados no contrato contavam com uma pedreira, uma fonte de material que não existia. Foi posta no projeto, mas não tinha viabilidade. Não havendo viabilidade, tinha que fazer alteração total do projeto e aí houve rescisão . Passamos a trabalhar com manutenção até fazer nova contratação”, afirma o supervisor da unidade do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) de Três Lagoas, Milton Rocha Marinho.
De acordo com ele, o TCU (Tribunal de Contas da União) solicitou a inclusão de pedreira em Ribas do Rio Pardo, no meio do caminho, além das de Campo Grande e Três Lagoas, já constantes no projeto original. "A hora que um desses se inviabiliza, altera todo o preço e essa revisão ficaria muito alta, muito complexa e a empresa acabou pedindo rescisão", diz Marinho.
Sem restauração, está vigente contrato de R$ 6 milhões, com duração de dois anos, para conservação e manutenção da rodovia. No papel, deveria ser assegurada as condições de trafegabilidade, o que, na prática, não atende aos usuários.
"Ele é fraquinho, mas dá condição de trafegabilidade. É obrigado a dar condição de trafegabilidade com segurança, que é não ter buraco na rodovia, não ter problemas mais graves. Porque se você olhar, são irregularidades superficiais, ele não é buraco, são desgastes, são ondulações", justifica o supervisor da unidade.
O plano agora é lançar em breve um edital incluindo mais serviços na rodovia. A previsão é de que as melhorias comecem em meados de outubro. "Está sendo lançado o edital, acho que cerca de R$ 20 milhões. Só que ele é plano de trabalho para dois anos de execução, onde tem recuperação de 40 quilômetros, uma série de serviços, acostamento. É um plano de trabalho tão bom, que se eu não conseguir, por alguma dificuldade de recurso, licitar a restauração, vou ter a rodovia boa, bem melhor do que ela está aí', salienta Marinho.
No trajeto de 338 km de Campo Grande a Três Lagoas, percorrido na última quinta-feira (dia 20), somente uma equipe de manutenção foi avistada. A serviço do Dnit, os trabalhadores faziam reparos no acostamento, à frente de Ribas do Rio Pardo, em trecho que pertence à jurisdição do Dnit de Campo Grande.
Nos últimos anos, com a expansão da celulose, os treminhões que transportam eucalipto ganharam a estrada, longos e pesados, impactam tanto no asfalto quanto no fluxo. Placas sucessivas ora informam acostamento com defeito em 123 km ou informam, por exemplo, 41 km se acostamento. Outros avisos é de pista com defeito e orientação para que não se exceda 60 km. Já as melhorias vêm em ritmo ainda mais lento.
A PRF (Polícia Rodoviária Federal) recomenda cuidado na ultrapassagem e que os condutores evitem viajar à noite.