Suspenso no ano passado, júri do Caso Veron acontece 2ª feira em SP
Suspenso em maio do ano passado, o julgamento dos acusados pela morte do líder indígena Marcos Verón, de 73 anos, acontece na próxima segunda-feira, em São Paulo. Em 2003, o cacique guarani-caiuá foi morto a pauladas na fazenda Brasília do Sul, em Juti, a 330 quilômetros de Campo Grande.
Estão no banco dos réus três seguranças acusados pela autoria do crime: Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos e Jorge Cristaldo Insabralde.
Eles são acusados de homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e meio cruel, tortura, seis tentativas qualificadas de homicídio, seis crimes de sequestro, fraude processual e formação de quadrilha. Outras 24 pessoas foram denunciadas por envolvimento no crime.
A pedido do MPF (Ministério Público Federal), o julgamento foi transferido de Mato Grosso do Sul para São Paulo. No ano passado, o júri popular foi interrompido após o representante do MPF, o procurador da república Wladimir Barros Aras, abandonar o julgamento.
A decisão veio após a juíza federal Paula Mantovani Avelino indeferir o pedido para que o depoimento das vítimas e testemunhas indígenas fosse colhido em tupi-guarani.
A nova etapa do julgamento terá os procuradores da República, Marco Antônio Delfino de Almeida, de Dourados; Rodrigo de Grandis e Marta Pinheiro de Oliveira Sena, de São Paulo; além do procurador regional da República Luiz Carlos dos Santos Gonçalves.
Para o MPF, a ordem para que os índios falem apenas português, sem auxílio de intérprete, viola convenções internacionais e a Constituição Federal.
Imparcial - Dentre os motivos levantados pelo MPF para pedir a transferência do Tribunal do Júri de Dourados para a capital paulista estão o poder econômico e a influência social do proprietário da fazenda. Ele teria negociado com dois índios a mudança de seus depoimentos.
Este foi o terceiro caso de desaforamento interestadual do Brasil. Os dois primeiros ocorreram no julgamento do ex-deputado federal Hildebrando Pascoal. Dois de seus júris federais foram transferidos de Rio Branco (AC) para Brasília.
Crime - Conforme a denúncia, os índios foram atacados na madrugada do dia 13 de janeiro de 2003. Sete índios foram sequestrados, amarrados na carroceria de uma camionete e levados para local distante da fazenda, onde passaram por sessão de tortura.
Um dos filhos de Veron, quase foi queimado vivo. Já a filha, grávida de sete meses, foi espancada. Marcos Verón foi agredido com socos, pontapés e coronhadas de espingarda na cabeça. Ele morreu por traumatismo craniano.