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Em Pauta

A fazenda de 5 mi de hectares, muitas lutas e revoluções

Mário Sérgio Lorenzetto | 23/09/2022 09:01
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Um comerciante gaúcho, de nome Thomaz Larangeira, fornecera viveres para a comissão que traçou os limites entre o Brasil e o Paraguai. Assim, passou a tomar contato com  uma região pouquíssimo conhecida no Rio de Janeiro, então capital brasileira. Além do título de Comendador, obteve de Pedro II, uma concessão para a exploração dos ervais, cuja área abrangia os atuais municípios de Ponta Porã, Amambai, Caarapó, Itaporã, Dourados e parte de Porto Martinho. O contrato tinha prazo de trinta anos e dava a Larangeira o direito de explorar a erva-mate e ocupar os campos de criação de vacas. Naqueles tempos, não havia homem branco na região, por lá, transitavam índios Caiuás e Teis.


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Transporte de erva-mate necessitava de 800 carretas e 20 mil bois.

A empresa Matte Larangeira tinha números que dão vertigem. Em seu auge, chegou a ter 5 milhões de hectares. A erva que colhia, em seus imensos campos, era a preferida dos argentinos. Para transportar sua produção até B. Aires, a empresa utilizava nada menos de 800 carretas e 20 mil bois. Seu faturamento médio era quatro vezes superior à arrecadação do governo estadual, chegando à marca de seis  vezes maior. Em verdade, a Matte Larangeira era um truste internacional, com capitais argentinos e paraguaios.


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Compadrio, a marca de Thomaz Larangeira.

Inicialmente, todos os principais auxiliares de Thomaz Larangeira eram brasileiros. O gaúcho também auxiliou homens sem recursos, que chegavam à região, a fundar fazendas de gado. Trindades, Pedrosos, Azambujas, Limas e os Guimarães, são da mesma época de Larangeira. O gaúcho fez-se compadre de quase todos auxiliares e vizinhos. Um touro para um afilhado, cinco novilhas para a afilhada, um petiço para outro... eram presentes de grande valia naqueles confins. Mas o tratamento dado aos paraguaios e indígenas que trabalhavam nessa gigantesca fazenda não era o mesmo. Alguns estudiosos entendem que lá existia um regime de semiescravidão.


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Joaquim Murtinho e Antônio Maria Coelho, os padrinhos da Matte Larangeira.

Tamanha fortuna e o gigantismo da fazenda logo abriram os olhos dos políticos. Muitos começaram a contestar esse verdadeiro Estado dentro do Estado. Mas seus padrinhos políticos eram homens de imenso poder e não só mantinham a concessão como a ampliavam. Os mais respeitados eram Joaquim Murtinho e Antônio Maria Coelho. Não à toa, dão o nome de Porto Murtinho ao local onde ficava a sede dessa fazenda.


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Caetanada e guerra que originou as primeiras terras à futura Dourados.

A vigência do contrato, que findaria em 1.912, gerou uma organização política e militar tão potente que chegou a derrubar Antônio Paes de Barros, o governador do Estado. A essa altura, toda a direção da empresa estava nas mãos de administradores paraguaios e argentinos. A escrituração da empresa era em castelhano. O dinheiro utilizado era tão somente o peso paraguaio. As poucas autoridades brasileiras não tinham recursos e nem forças para cobrar a empresa ou para encerrar o contrato. O poderio econômico se tornara opressor. Como resposta a esse quadro, começaram lutas e revoltas sangrentas. A mais famosa, apelidada "Caetanada", reuniu homens de Campo Grande e Aquidauana contra os "gaúchos da fronteira".

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