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Em Pauta

A mulher que tem maconha no cérebro e nunca fumou

Mário Sérgio Lorenzetto | 13/04/2019 07:10
A mulher que tem maconha no cérebro e nunca fumou

Jo Cameron é a mulher sem dor. Seu anestesista, Devjit Srivastava, não acreditou em seu relato de ausência de dor e a fez dormir em uma cirurgia. Srivastava, com bom critério profissional, não lhe fez caso, mas pouco a pouco foi se dando conta de que Jo Cameron dizia a verdade.
Esse caso chegou há poucos dias à literatura médica, apoiado por um bom estudo genético que aclarou sua natureza. Cameron tem duas mutações que fazem que seu cérebro produza enormes quantidades dos princípios ativos da maconha. Ela nunca fuma maconha pois já a tem em excesso no cérebro. E isso a libera não só da dor física, como a mantém em estado de "barato" permanente. Sempre está feliz, falante e otimista.

A mulher que tem maconha no cérebro e nunca fumou
A mulher que tem maconha no cérebro e nunca fumou

O caso do menino faquir.

Certamente Jo Cameron não é a única pessoa na história da medicina que tem maconha eterna no cérebro. Há treze anos, um menino faquir de Lahore, no Paquistão, era um usuário habitual dos serviços médicos. Um dia chegava com os pés queimados por andar sobre as brasas, outro com os braços atravessados por facas. Não sentia dor. Morreu por ter pulado de um telhado.
Os médicos de Cambridge e de Lahore encontraram seis familiares do menino que tampouco sentiam dor. Estudaram. Chegaram aos genes que eram responsáveis por essa mudança.

A mulher que tem maconha no cérebro e nunca fumou

A importância de sentir dor.

Certamente muitos estarão sonhando com essas mutações. Seria maravilhoso não sentir dor ou estar em estado de "barato" permanente? Pelo contrário, é perigoso. Esse menino e seus familiares tinham amputações em suas línguas e lábios. Quando mordiam, sem querer, não sentiam e continuavam mordendo. Alguns estavam sem a metade da língua. Também estavam cheios de feridas que não conheciam. Havia um deles que tinha uma fratura óssea há semanas sem ter percebido. A escocesa Jo Cameron conta que já havia se queimado na cozinha muitas vezes e que só o odor de bacon queimado a ajuda de tirar a mão do fogo.

A mulher que tem maconha no cérebro e nunca fumou

A ciência dessa mutação.

Tanto a família do Paquistão tem mutações que afetam o canal de sódio dos neurônios receptores da dor. Neurônios que povoam nossa pele e enviam os sinais de dor medula acima. Assim, a comunicação da dor chega a seus cérebros.
Já a escocesa tem os neurônios iguais aos nossos. É o cérebro que não lhes responde. E o faz por ter essa grande quantidade de maconha cerebral.

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