A tristeza pós sexo e o capitalismo sexual
Um dos muitos tópicos da imaginação pós sexo é o da mulher sensível e chorosa, que após o ato sexual verte algumas lágrimas. Essa cena chegou ao cinema nas "Pontes de Madison", em que uma lacrimosa e triste dona de casa (Meryl Streep), pede ao fotógrafo da National Geographic (Clint Eastwood) que fale de algum lugar que tenha visitado e ele elege a Itália. A tristeza pós sexo só agora suscitou algum interesse na ciência. Pouco se sabe dela. Ainda que isso já conte com um nome - disforia pós coital - uma onda de tristeza, sensação de vazio ou medo do abandono que algumas pessoas sentem depois da prática sexual. Mesmo que tenham adorado o coito. Não a toa, os franceses denominam o orgasmo de "petite mort".
Há poucos dias "The Jornal of Sex & Marital Therapy" publicou um estudo levado a cabo pela Queensland University, que revelou algo um tanto desconhecido. A investigação incluia mais de 1.200 homens de vários países e chegou à conclusão de que 41% deles haviam experimentado em algum momento da vida esta tristeza passageira pós sexo. Em 2015, "The Journal of Sexual Medicine" publicou outro estudo em que 46% das mulheres já haviam experimentado sintomas de disforia pós coital.
A explicação biológica.
Alguns cientistas buscam por uma resposta química para a disforia pós coito. Relacionam esse estado de ânimo com a explosão de hormônios que inundam o corpo durante o sexo - formam uma "piscina" de endorfinas, oxitocina e prolactina. O orgasmo libera grande quantidade de hormônios que promovem o vínculo afetivo e a sensação de bem estar. Mas essas taxas hormonais são drasticamente reduzidas após o orgasmo, levando a um estado de inércia ou de tristeza.
O outro entendimento vem da atividade da amídala cerebral. Uma zona do cérebro que está relacionada com emoções como o medo, a angústia e a ansiedade. A hipótese, comprovada, diz que a atividade dessa amídala desaparece durante o sexo. Após o orgasmo volta a funcionar a toda velocidade. O sexo inibe os problemas e os medos por alguns instantes, que retornam com maior intensidade após o orgasmo.
O capitalismo sexual.
Existe também o vazio interior após qualquer missão cumprida. E aqueles que concebem o sexo como uma competição - tanto homens como mulheres - em que há de ganhar com muitas performances com o maior número de companheiras (os) possível, são os mais propícios a esses sentimentos. O capitalismo sexual exige quantidade ao invés de qualidade, consumo e produtividade. É como esses viciados na febre consumista, nunca chegam a sentir-se totalmente satisfeitos com suas "compras". Sempre há alguma "liquidação" que têm que ir, alguma loja nova que foi "aberta", algum novo item que tornam imprescindível. Depois de tanto abusar do "capitalismo", só lhes resta a tristeza.