Apagão do emprego - espera-se um aprofundamento ainda maior dos problemas
O Brasil passou do apagão da mão de obra para o apagão do emprego.
Não há sinais de reversão. Ao contrário, considerando-se o fraco desempenho da economia como um todo, espera-se um aprofundamento ainda maior dos problemas no segundo semestre, o que leva muitos analistas a estimar as taxas de desemprego ao redor de 9% para o final do ano.
Na trajetória recente, o país perdeu a oportunidade de bem utilizar o denominado "bônus demográfico". Com o envelhecimento da população e a recessão que se instalou em 2015, o Brasil terá de enfrentar o desafio do aumento de pessoas mais velhas que passam a ser dependentes dos que trabalham.
Além disso, é preciso considerar que, normalmente a transformação de qualquer país de renda baixa em uma nação de renda média é difícil, mas o salto seguinte é ainda mais desafiador. Isso porque o crescimento inicial parte de uma base muito baixa. Para se obter pequenos resultados, nesse patamar, as conquistas terão de ser muito expressivas. Apenas a título de comparação: nos anos 80, a renda per capita do brasileiro (medida em poder de compra) equivalia a 38% do norte-americano. Nos dias atuais, equivale a apenas 29%. Ou seja, os países de renda alta dispararam, enquanto o brasileiro começou a se arrastar.
Preocupações com a China e Estados Unidos levam investidores a derrubarem os valores das commodities.
Gestores de recursos reduziram para seu volume mais baixo em dois anos e meio as apostas em alta das commodities. Novos dados que mostraram a atividade decrescente da indústria chinesa e ao mesmo tempo o vazamento de um documento do FED - o banco central dos Estados Unidos -, que revelou fraqueza do mercado imobiliário, ampliaram os receios e aceleraram as vendas de commodities. Pela primeira vez desde o longínquo 2006 foi registrado um aumento líquido nas apostas em uma queda dos preços de futuros e opções de ouro. Há uma nuvem de incertezas e dúvidas no ritmo de crescimento dos dois países que alavancam a economia mundial. As notícias ainda estão concentradas nos metais - ouro, prata e cobre - bem como no preço do barril de petróleo. Todavia, os metais são em regra os primeiros de uma longa lista de commodities a mostrarem a tendência das apostas em commodities. Não surpreenderá se no segundo momento, as commodities que mais interessam ao Mato Grosso do Sul - soja, milho e carne - sofrerem o mesmo processo de queda de preços das demais.
Trabalhador qualificado não fica sem emprego?
No primeiro semestre de 2015, um em cada quatro trabalhadores formais desligados das empresas pediu para sair do emprego. No total foram 2,5 milhões de pedidos de demissão em um universo de 9,8 milhões de trabalhadores desligados. Os demais foram demitidos ou aposentados.
De acordo com o Caged - Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o percentual de trabalhadores que pediu demissão - 26% - caiu em relação aos primeiros seis meses do ano passado quando eles eram 29% do total.
Um terço dos 2,5 milhões é de jovens - de 18 a 24 anos - e 58% deles recebem entre um e 1,5 salário mínimo. A crise não acabou com a mobilidade do mercado de trabalho e os trabalhadores ainda continuam trocando de empregos em busca de melhor salário. Os dados do Caged também mostram que as empresas estão demitindo menos do que no ano passado. A maior parte do ajuste do emprego está sendo feito pela não reposição de vagas. Assim, esse trabalhador que pede demissão não está sendo reposto. De janeiro a junho de 2015, as empresas desligaram 9,8 milhões de pessoas, número inferior aos 10,3 milhões de demitidos em igual período de 2014. Ao mesmo tempo, elas admitiram 9,4 milhões de funcionários, resultado bem inferior aos 10,9 milhões contratados nos primeiros meses de 2014. Quando a empresa tem a percepção de que a crise será curta, ela posterga ao máximo a demissão do trabalhador qualificado porque demitir tem um custo alto. Mas agora não se sabe quando sairemos da crise.
Como será o consumo do brasileiro?
Ganhos salariais generosos e crédito fácil impulsionaram o consumo do brasileiro por dez anos. Esses tempos ficaram para trás. A realidade é de aumento de desemprego e crédito difícil. O estoque de empréstimos dos bancos deve crescer por volta de 5% em 2015, metade da expansão de crédito do ano passado. O poder de compra dos consumidores brasileiros, que vinha em expansão desde 2004, devera cair mais de 6% neste ano, segundo a consultoria Tendências. E mais, dizem que em 2016, o crescimento aguardado e de apenas 0,7%. Há uma nova realidade se impondo. Na última década, o consumo cresceu a uma taxa duas vezes maior do que a do PIB. Estourou. Agora, essa expansão será mais condizente com a da economia como um todo. A perspectiva é de um consumo que acompanhe o PIB, a produção do país. Os "economistas-futurólogos" preveem um crescimento de, no máximo, 2% até 2019. Seja o quanto for, a festa acabou.
Crescimento brasileiro - talvez te veja em 2017.
É bom se preparar: a espera para sair da crise será longa. Esqueçam 2016. Talvez, em 2017. Antes de mais nada é preciso considerar que vivemos um ajuste cujo objetivo não é dar início a um ciclo de expansão da economia. As medidas visam conter os gastos públicos e estancar a inflação. As notícias têm decepcionado ao longo dos meses. Agora a expectativa é que a queda do PIB em 2015 esteja na casa dos 2%.
O banco Itaú refez sua previsão: queda do PIB em 2015 será de 2,2% e de 2016 será de 0,2%. O Bradesco também revisou para queda de 2,1% em 2015. O banco francês BNP Paribas estima quedas de 2,5% neste ano e 0,5% em 2016. Se for desse tamanho será bem inferior a que vivemos entre 1981 e 1983 quando o PIB caiu 8,5%. A crise provocada pelo confisco da poupança promovida pelo Collor nos levou a uma queda de 7,5% do PIB no início dos anos 90, apenas alguns casos de crise que vivenciamos nos últimos anos. As bolas de cristal dos "economistas-futurólogos" predizem que esta crise será menos profunda, mas mais longa. Feliz 2017.