Chocolates para aproximar-se de Deus
E o clube dos reis do vinho
Há coisas que se faz só uma vez na vida. Entrar em um convento de monjas de clausura, seguramente, é uma delas. Não, não pretendo colocar o hábito dos monges, por enquanto. O ingresso nesse convento foi por motivação bem prosaica. À procura de livros de história, encontrei os melhores chocolates do mundo. São utilizados nas cozinhas dos melhores chefs da Espanha, portanto, do mundo. Monastério de Santa Clara de Belorado, na cidade de Burgos, Espanha, esse o endereço da pequena fábrica de chocolates mais desejados pelos que conhecem e estudam sua profissão: os chefs mais estrelados do guia Michelin. As religiosas que vivem ali, estão há 18 anos elaborando uns misteriosos chocolates.
Perguntas não respondidas.
O que levou as clarissas a introduzirem-se na produção e venda de derivados de cacau? Como compartilham os palitos de laranja e os bombons com a contemplação? De que são feitas suas famosas trufas? Quantos chocolates podemos comer sem que Deus considere gula? Não responderam a nenhuma das perguntas. Preferiram mostrar os livros e documentos que procurava. Se tiverem oportunidade, comam, comam, comam. Depois, peçam perdão pela gula. Verdadeiro maná dos deuses, inclusive para aqueles que, como eu, não se interessam por chocolate.
Os reis do vinho se reúnem.
O 31 da Avenida Franklin Roosevelt, de Paris, a cinco minutos a pé dos Eliseos, é um hotel, mas não é um hotel. Não admitem hóspedes. É o que os franceses chamam de "hôtel particulier" , um desses refinados palacetes propriedade das mais ricas famílias francesas. O edifício reflete a rígida estratificação de classes da arquitetura haussmanniana. O primeiro e o segundo andar com grandes balcões, janelas ornamentadas e tetos monumentais, hospedavam os proprietários das casas, os andares superiores, sem nenhuma decoração, hospedava o pessoal de serviço. Seu dono é o príncipe Roberto de Nassau, primo dos soberanos de Luxemburgo. Sua família é proprietária do Château Haut-Brion, um dos vinhos "premier grande cru classé" mais caros, mágico e mítico de Bordeaux. Uma garrafa nunca custa menos de R$2.800.
Roberto de Nassau entra no clube dos reis do vinho.
O dono da casa recebeu 11 convidados. É uma reunião íntima, discreta. Nenhum deles gosta de notoriedade. Não são meros jogadores de futebol saídos da pobreza para o estrelato. Nasceram bilionários. São a aristocracia do vinho. Mais importantes que a maioria dos nascidos reis de algum lugar. São cinco franceses, dois italianos, dois espanhóis, um português e um alemão. E o príncipe. Não são conhecidos, mas suas afegãs guardam tesouros de 2.500 anos de tradição e experiência. São as maiores marcas de luxo. Todas são empresas familiares e muito antigas. Sabem que as empresas familiares só existem por até três gerações e, por isso, já não as administram. Cuidam do planejamento das próximas gerações de vinhos. A italiana Antinori é a mais antiga, remonta ao século XV. Haut-Brion é do XVI. A alsaciana Hugel & Fils é do XVII. A mais jovem é a família Perrin, do Vale do Ródano. Eles formam a Primum Familae Vini. Seus nomes estão nas garrafas mais caras do mundo. De Billy, Alvarez, Torres, Rothschild, Hugel, Perrin, Drouhin, Symington, Beaumarchais e Rochetta.