Cidade ostenta a bandeira confederada dos EUA
Um aroma de frango frito. Música country de Alan Jackson e Johnny Cash. Cookies à venda. Muitas pessoas vestidas com uniformes da guerra civil dos Estados Unidos. Mas só de uniformes sulistas, daqueles que lutaram pela manutenção da escravidão. Para quem chegava à festa era como adentrar a uma cidadezinha norte-americana. Era a "Festa Confederada. Uma festa anual em Santa Bárbara d´Oeste, em São Paulo.
Uma placa explicava "o que a bandeira confederada realmente significa". A festa recebeu 2.500 visitantes. A quase totalidade era de pessoas brancas. A exceção estava nos arredores da festa. Ativistas negros protestavam contra a festa no dia 28 de abril: "Abaixo a bandeira da Confederação", dizia um dos cartazes. Como o debate norte americano sobre o racismo chegou ao Brasil?
Milhares de soldados do sul dos EUA vieram para o Brasil após a derrota.
Não há uma contagem exata. Os estudos de alguns historiadores mostram que aproximadamente 8.000 a, no máximo, 10.000 soldados do sul dos Estados Unidos vieram para o Brasil após a derrota de suas tropas. Lá, a escravidão estava entrando na ilegalidade. Residiam no Brasil, algo como 40% de todos os 11 milhões de africanos trazidos à força através do Atlântico. Para vergonha histórica do Brasil, fomos o último país a abolir a escravidão em 1888 - nada menos de 23 anos depois dos EUA.
Terras baratas para quem viesse com um arado.
A pesquisa histórica mostra que boa parte dos sulistas norte americanos que vieram para o Brasil estava interessada em continuar desfrutando das benesses do trabalho de escravos. Um deles, de nome James Gaston, expressava desapontamento por ser impedido de trazer seus escravos dos EUA. Todavia, outra parte dos que participam da Festa Confederada, negam a vinculação de interesse pela manutenção do trabalho escravo. Os que não admitem a adoração pelo sistema de escravidão, garantem que seus ancestrais vieram ao Brasil devido à promessa do Imperador D.Pedro II de proporcionar terras baratas aos norte americanos que viessem com arados - uma tecnologia da Idade Média que o Brasil carecia.
A crítica tornou a festa sulista norte americana conhecida.
De qualquer forma, milhares de sulistas brancos fizeram do Brasil seu novo lar. Estabeleceram uma comunidade bem fechada e culturalmente homogênea. Mantiveram suas tradições por gerações. Continuam a falar inglês e a praticar suas crenças batistas, metodistas e presbiterianas. Garantem que foram eles que introduziram o protestantismo no país mais católico do planeta. Não deve ter sido nada fácil. Até hoje, católicos são enterrados em um cemitério onde os descendentes dos sulistas dos EUA não podem entrar.
Uma semana após a Festa Confederada, mais de 100 entidades brasileiras assinaram um manifesto criticando o uso no evento de "símbolos que elevam a supremacia branca". A festa, totalmente desconhecida no Brasil, tornou-se um hit racista de sucesso na internet dos novos tempos.