Com um buraco na barriga, a saga dos voluntários
Em junho de 1.822, um caçador canadense de 18 anos, que respondia pelo nome de Alexis St. Martin, recebeu um disparo acidental no estômago. O acidente ocorreu enquanto trabalhava em uma tenda de peles, na região dos Grandes Lagos, no Estado de Michigan. No buraco podia entrar um dedo com facilidade. Transladado ao posto sanitário mais próximo, foi atendido pelo médico William Beaumont. Desta maneira tão azarada, a vida daqueles dois homens coincidiram no tempo e no espaço e entrariam para a história.
Depois de tirar a bala, continuou vivendo com o buraco.
Beaumont não se surpreendeu com o buraco ocasionado pela bala. Era médico desde a guerra entre os Estados Unidos e a Inglaterra. O que surpreendeu Beaumont foi que depois de extrair o projétil, St.Martin continuava vivendo com aquele buraco que não cicatrizava. Era uma fístula gástrica pela qual saiam sucos e secreções mal cheirosas que revelavam a má saúde do paciente. Foi quando Beaumont propôs à St.Martin que ele fosse voluntário em um experimento científico.
Digestão é um processo químico e não mecânico.
Até aquele tempo era difícil entender o que ocorria no corpo humano. Os médicos e cientistas só podiam estudar cadáveres. E todos sabem que mortos não fazem digestão. Até então desconheciam que a digestão era um processo químico. Foi Beaumont quem assentou a base da gastro-enterologia. Se não fosse aquela ferida, que nunca fechou, e sobretudo, pela colaboração do paciente, não teríamos descoberto que era o ácido clorídrico o responsável por triturar os alimentos. Também não saberíamos que algumas enzimas hidrolisam as proteínas, um processo químico fundamental.
A experiência causa engulhos.
Até hoje, a experiência encetada por Beaumont causa engulhos. O médico amarrava pequenos pedaços de alimentos e os colocava no buraco aberto no estômago de St.Martin, e os tirava passado um tempo. Fez essa experiência durante oito anos.
Agradecimentos àqueles que se arriscaram tentando as vacinas.
Essa história vem a calhar como forma de agradecimento àqueles que colocaram suas vidas em risco testando as vacinas que estão salvando a vida de milhões. Voluntários nos ensaios clínicos, homens e mulheres que, desde o anonimato, colocaram seus corpos à disposição para que servissem de proveta.
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