Como o celibato se tornou obrigatório para os padres?
O celibato sacerdotal, ou melhor, a falta dele, voltou às capas dos jornais no mundo. Em meio a acusações de pedofilia e pornografia, o Papa Francisco sugeriu, em entrevista ao jornal alemão Die Zeit, que a igreja católica discutisse a tradição do celibato à luz da crescente escassez de padres especialmente nas áreas rurais da América Latina.
Embora algumas manchetes tenham sugerido que os comentários do Papa indicam uma nova abertura do casamento sacerdotal, nenhum dos recentes acontecimentos deveria ser surpreendente. Padres e bispos têm uma longa história com escândalos. Mas, deveríamos conhecer que o celibato sacerdotal nunca foi praticado uniformemente e é, de fato, um entendimento tardio nas práticas da igreja.
Origens do celibato cristão.
Uma das características distintivas e surpreendente do cristianismo primitivo é o elogio do celibato - a prática de se abster de todas as relações sexuais - como a forma de demonstrar a fé. Dada as origens do cristianismo dentro do judaísmo palestino, ninguém imaginaria que promovessem o celibato, algo impensável nas religiões daquele tempo. O judaísmo valorizava a família e muitos de seus rituais estavam centrados na família e não na ausência dela.
É verdade que os primeiros evangelhos cristãos, que contavam a história da vida de Jesus, nunca mencionaram que ele fosse casado e nem o contrário. Essa lacuna deu margem a muitas especulações em livros, filmes e notícias. O mesmo fato ocorreu com Paulo, o grande criador do cristianismo. Não há documento que fale sobre ser ou não casado.
As histórias dessas figuras fundadoras, no entanto, não explicam o curso do ensinamento cristão sobre o ascetismo - uma ampla gama de práticas de autodisciplina que incluem o jejum, o abandono de posses pessoais, a solidão e, eventualmente, o celibato.Nos séculos III e IV d.C., os escritores cristãos começaram a dar importância ao ascetismo e ao celibato. O fizeram apontado para Jesus e Paulo como modelos de vida ascética.
A influência da filosofia greco-romana.
Do judaísmo, o cristianismo herdou a ideia de um só Deus, seus códigos de conduta ética, práticas rituais, como o jejum, e uma alta consideração pela autoridade dos líderes. Das filosofias greco-romanas, os escritores cristãos adotaram a ideia de autocontrole e abstinência. Deveriam controlar as emoções, pensamentos e comportamentos, bem como ao que comiam e bebiam, o quanto eram apegados às posses e ao controle do desejo sexual. Esse ideário não propunha a ninguém morrer de fome ou nunca ter relações sexuais. A ideia era de autocontrole, de jamais exagerar. Mas o entendimento de alguns foi a de eliminar de suas vidas quaisquer relações sexuais.
O celibato sacerdotal.
Embora clérigos cristão, como bispos e diáconos, comecem a aparecer por volta de 100 d.C., os padres emergem como líderes cristãos muito mais tarde. Eles passaram a ser os encarregados de oficiar rituais como a Eucarestia ou a Ceia do Senhor, mais conhecida como Comunhão. Eram celibatários? As evidências são obscuras e tardias. Há relatos de que alguns bispos no Concílio de Nicéia, convocado pelo Imperador Constantino, em 325 d.C., começaram a defender a prática do celibato. Isto, no entanto, foi rejeitado ao final do concílio. O debate ressurgia eventualmente ao longo dos séculos, mas nunca era aceito.
Celibato como um dos pontos do cisma.
Com o tempo, o celibato tornou-se um sério ponto de discórdia entre o lado ortodoxo (oriental) da igreja e o romano (ocidental). Foi um fator importante para o grande Cisma de 1054. O Papa Gregório VII tentou comandar o celibato sacerdotal, mas os cristãos orientais não aceitaram essa ordem.
Cinco séculos depois, a questão estava novamente na vanguarda do debate quando se tornou um fator significativo no Cisma Protestante durante a Reforma.
Então, as palavras do Papa trarão mudanças dramáticas no seio da igreja católica? É próximo do impossível. É altamente improvável que veremos uma mudança radical na política ou na prática.