É fácil dar golpe de Estado? Um embaixador dos EUA responde
O senhor Bolton tem as feições de um velhinho adorável que qualquer um gostaria de ter como avô - eu, a esta altura, como primo - com seu enorme bigode branco e um sorriso bonachão. O senhor John Bolton tem quase 820.000 seguidores no Twitter, 73 anos, 50 anos no poder dos Estados Unidos e se tornou, recentemente, o cidadão mais famoso daquele país.
Quem é Bolton?
O senhor Bolton tem grau de embaixador. Ocupou esse posto na mais importante embaixada dos EUA, a das Nações Unidas. Nos últimos decênios, continuou fundamental na óptica norte-americana, ocupava o posto de "Conselheiro de Segurança do Presidente", de qualquer presidente. A fama veio com uma recente entrevista à CNN.
É fácil dar um golpe de Estado?
O jornalista disse ao senhor Bolton que não era necessário ser brilhante para organizar um golpe de Estado. O senhor Bolton se ofendeu e afirmou: "Não estou de acordo com isso. Como alguém que já ajudou a organizar vários golpes de Estado, posso dizer que requer muito trabalho". Se os EUA fossem, verdadeiramente, a terra da justiça, algum juiz ou o Congresso o convocaria para dizer em que países organizou tais golpes.
Em 1989, os EUA desinteressam-se pela América Latina.
Depois de serem donos do mundo, em 1989, a América Latina deixou de interessar aos EUA. Já não havia ameaça bolchevique nem cubana. As técnicas de guerra estavam mudando. Já não necessitavam controlar territórios com bases militares caríssimas. Bastavam alguns mísseis e drones. A economia e os transportes estavam globalizados. Não precisavam de bananas de Honduras, do cobre chileno, do petróleo da Venezuela ou da subserviência dos governantes brasileiros. Havia muitas outras fontes possíveis e, às vezes, alguns dólares mais baratos.
A grande prova do desinteresse dos EUA.
Já fiz essa afirmação e, desta vez, provo empiricamente. No final dos anos 90, e início do novo século, vários governos latino-americanos - especialmente o brasileiro - passaram a vender suas empresas públicas: energia, comunicações, transportes, minerais... centenas foram levadas a leilão. Quase nenhum capital norte-americano tentou comprá-las. Ao fim, capitais europeus adquiriram mais de 90% dessas empresas. No caso brasileiro, não precisamos checar a verdade com dados dessa época. Aconteceu no início do governo atual. Colocaram à venda uma bacia petrolífera e nenhuma empresa ou fundo de investimento dos EUA veio comprar. Os chineses fizeram o "favor" de adquirir essa bacia.
Querem recuperar seu quintal?
Leiam os discursos de Biden ou de Trump. O primeiro tem compromisso eleitoral de defender a Amazônia. Compromisso eleitoral é tão fugaz quanto as nuvens, mudam a cada instante. Pouco estão se interessando pelo Brasil ou por qualquer país latino-americano. A Ásia e o Oriente Médio são suas preocupações cotidianas. Teremos um golpe de Estado no Brasil? Caso ocorra, como deseja boa parte do bolsonarismo, não esperem mais de algum discurso mambembe de Biden ou de Trump. Cada vez mais, queiram ou não, a América Latina volta ao século XVI.... um quintal europeu, com a novidade de alguns poucos lotes chineses. Os brasileiros que cuidem de sua sempre frágil democracia.