É proibido morrer. A cidade dos "imortais"
Há 45 anos o brasileiro assistia "O Bem Amado". Foi a primeira novela em cores da televisão. A obra, escrita por Dias Gomes fazia um retrato satírico da sociedade brasileira. A trama se passava no fictício município de Sucupira e girava em torno da ambição de Odorico Paraguaçu, prefeito da cidade, personificação do que há de pior em um político com discurso vazio e autoritário, cujo lema era "vote em um homem sério e ganhe um cemitério". Sua principal plataforma era construção de um cemitério. A história, embora pareça fantasiosa, é baseada em fatos reais. A cidade de Guarapari, no Espírito Santo, não possuía cemitério.
Longyearbyen é uma pequena cidade do arquipélago de Svalbard. É o lugar habitado - apenas 2.000 pessoas vivem alí - mais ao norte do mundo. As ruas de Longyearbyen possuem bares, lojas, igrejas, escolas, hotéis, restaurantes, um hospital, concessionárias de carros e a redação de um jornal. Todavia, não há nem rastro de cemitério. Ninguém morre na cidade desde 1950. A cidade norueguesa ganhou o apelido jocoso de "cidade dos imortais". Sim, é proibido morrer em Lonyearbyen. Além de proibirem mortos na localidade, os velhos não são mal vistos. Para entender a estranhíssima proibição temos de voltar ao início do século XX. Foi nessa época que os cientistas descobriram que os cadáveres se conservavam em perfeito estado por causa da enorme camada de gelo que cobria e rodeava os ataúdes. Essa singular característica acabou criando um problema: surgiu uma febre entre os escandinavos a de morrer nessa ilha com a esperança de ser descongelado e ressuscitado algum dia. A criogenese era o terror de Lonyearbyen. Para evitar a enxurrada de pessoas que queriam alí morrer, veio a proibição de morrer e a hostilidade para com os idosos. Por lá, não há asilos ou qualquer tipo de casas e tratamentos para os mais velhos. Não permitem a construção de rampas. As pessoas enfermas ou idosas são transladadas para morrer em outras cidades. Se descumprirem a lei e insistirem em morrer, o cadáver é imediatamente transladado, de avião, para outros lugares.
A "Arca de Noé" está em Longyearbyen.
Se o apocalipse acontecesse neste momento, todos morreríamos, de fome ou outro mal qualquer. Menos em Longyearbyen. Lá, jamais faltará comida, por causa da "Arca de Noé". Com a finalidade de salvaguardar a biodiversidade, em 2008 construíram uma enorme câmara a prova de bombas nucleares e terremotos, que guardam mais de 100 milhões de sementes de plantas alimentícias. O Banco Global de Sementes, apelidado de Arca de Noé, conservam as sementes a 120 metros de profundidade e à temperatura constante de -18 graus Celsius. Condições que garantem sua existência por centenas de anos.
É fácil ganhar uma casa em Lonyearbyen.
As autoridades certamente te facilitarão a mudança para essa cidade, desde que seja jovem e disposto a trabalhar. Te doarão, no mínimo, um terreno para construir tua casa. É possível que cheguem a te doar uma casa toda mobiliada. Interessa aos governantes que a cidade esteja habitada. Mas a vida não é fácil na cidade. Os raros dias "quentes" não superam os 16 graus e os frios, sempre estão em torno de -50 graus. São condições climatológicas extremas. A primeira apresentação surpreende. Explicam que nada ali é belo ou transcendente, tudo deve ser simples e útil. Por outro lado, não há um só desempregado e os salários são os mais elevados da rica Noruega. Além disso, para os noruegueses há uma ajuda de R$100.000 para quem se dispuser a viver nessa cidade. Apesar da cidade estar sob o manto da soberania norueguesa, o status não é aceito e nem definido pela ONU. Isto quer dizer que qualquer pessoa pode chegar em Longyearbyen e lá se instalar com total liberdade e trabalhar nos muitos empregos relacionados ao ambientalismo, na mina de carvão, no turismo ou em serviços. Um simples operário da mina de carvão ganha entre R$18.000 a R$20.000.
A cidade têm mais ursos que seres humanos. Ao mesmo tempo que lutam para preservar os mais de 3.000 ursos que vivem nas imediações da cidade, ninguém abandona o núcleo urbano sem levar um rifle. A vida não é simples. Não crescem árvores e nem é possível plantar um pé de alface. A madeira é um produto de luxo. Todavia, há compensações. Não há qualquer tipo de imposto em Longyearbyen e a educação e a saúde são considerados excelentes. As bebidas alcoólicas também são incentivadas com imposto zero.