Em vez de jogar a política no lixo, é preciso recuperá-la
Há uma forte sensação de desarmonia na nossa democracia. Nem as promessas de maior participação são aceitas como verdadeiras por parte substantiva da população. Vigora a noção de que os políticos deixaram de atender os anseios da maioria, tornaram-se autônomos e não representantes dos eleitores. Daí os elevadíssimos índices de votos nulos, brancos e ausência nas urnas. Isso enfraquece ainda mais os políticos. Via de regra, eles pesam de acordo com a quantidade de votos que recebem. Se poucos, pouco eles valem, pouco eles lideram.
Para uma visão quase majoritária na opinião pública, a solução passa pelo repasse do maior número de funções governamentais a técnicos, que "seriam honestos e sabem o que deve ser feito". Ora, se assim fosse, ainda lhes faltaria a capacidade de liderar a alma e os anseios do povo. Se assim fosse, os técnicos do Chile de Pinochet, tidos como de alto nível, não teriam roubado tanto ou participado na carnificina daquele regime.
Também há uma visão nos Estados Unidos (sem cópia atual brasileira) de que o problema estaria mesmo no eleitorado e a solução seria a distribuição do voto segundo o conhecimento. O voto de alguns valeria o dobro ou o triplo de outros, teria peso maior. Se isso acontecer, obviamente que os menos informados nunca teriam vez no processo eleitoral. Esse modelo, similar ao que já existiu no passado do Brasil, onde o voto valia de acordo com a produção de mandioca (quem colhesse mais mandioca teria voto), não produziria melhores governantes.
São soluções elitistas e tecnocráticas, pecam por despolitizar, por ampliar ainda mais o fosso entre representantes e representados. Ao contrário, devemos pensar em como repolitizar essa relação.
Os partidos não representam a sociedade
Os partidos precisam mudar sua relação com a sociedade. Precisam estar presentes nas reuniões de tudo que a sociedade tem a dizer. Seja quando desejam aumentar impostos ou ouvindo as queixas dos moradores dos bairros mais carentes. Eles se afastaram definitivamente da sociedade.
Os partidos não podem viver apenas no mundo oficial, dos legislativos e repartições públicas. Para atrair mais pessoas, é preciso demonstrar que os milhares de debates existentes na sociedade tem impacto nas decisões da legenda. Atualmente, os partidos nem mesmo acompanham esses debates, nem sabem que eles existem. Perguntem a um presidente de partido o que pensam os dirigentes da Associação Comercial ou da associação de moradores do bairro Guanandi.
Obviamente isso só será obtido reduzindo o poder das cúpulas partidárias, que é gigantesco no Brasil, onde há donos de siglas ou pequenas oligarquias reinantes. Há de limitar todos os mandatos, tanto nos legislativos, como nos executivos e nos partidos. Ao mudar a lógica de funcionamento dos partidos, haverá mais estímulos para se atuar na política.
Os candidatos "não políticos"
É interessante observar nestas eleições uma onda de candidatos que se apresentam como "não políticos". Há aqueles que chegaram ao absurdo de se apresentar como "adversários da política", embora suas campanhas sejam, em grande parte, financiadas pelo fundo partidário. Há os cacarecos que seguem a lógica do Tiririca, atuando como político e se apresentando como palhaço. Ora, todos são políticos e devem dizer que querem mudar a política, e não substituí-la pela revolução do proletariado, pelo circo ou pela gerência de uma empresa. É evidente que os políticos devem se preparar melhor para o cargo que almejam. Conhecimentos de gestão na área pública, deve estar na cartilha de quem deseja participar das disputas eleitorais. Hoje, a regra é o pleno desconhecimento, uma enxurrada de absurdos e mentiras que os afastarão ainda da população.
Breve concílio de sapos
Durante duas décadas os dirigentes do partido, que agora se liquefaz, acreditavam que deveriam se preocupar com nada além de seus próprios prazeres. Eram surdos a tudo em seu redor. Zombavam de todas as demais ideias. Consideravam-se superiores. Deus não só era brasileiro, como vestia roupas vermelhas e usava barba. Esses dirigentes eram como um concílio de sapos na lagoa, coaxando a plenos pulmões: "Para nós foi criado o mundo". A lagoa secou. Todavia, será um erro histórico julgar a proibição desse partido. Não passa de perseguição travestida de justiça.