Espelhos inteligentes cuidarão de nossa saúde
Levanta, caminha para o banheiro, olha o rosto, vê o que não quer, e ele o reprova. Há espelhos e espelhos; este, se você o tivesse no banheiro de tua casa, te diria que deveria ter evitado as últimas garrafas de cerveja e que a "azeitona" foi demais. Te diria que o nível de álcool em teu organismo está excedendo os limites, que o colesterol e os lipídeos ultrapassaram os índices recomendáveis. Este espelho é um inimigo disfarçado de amigo - ou vice-versa.
Vivemos em uma cultura em que olhamos excessivamente no espelho. Nos contemplamos sem parar. Mas durante milênios, os humanos não se viam. Os espelhos são inventos quase recentes. Os primeiros eram de cobre ou pedra e mostravam muito pouco. Os espelhos de vidro apareceram nos anos de Cristo. Desde então, durante séculos, foram luxo de ricos. O resto não se via, não tinha espelho. Quando muito, tinham visto o próprio rosto em um rio ou em uma caçarola. Desde então, passaram a destruir ilusões, a mostrar a dura e cruel realidade das faces.
Os espelhos eram superfícies pensadas para ver superfícies. Até agora. Em pouco tempo o espelho designará outra coisa. Esse vidro que você têm em tua casa está caminhando em direção ao lixo. É preciso agregar ao atual espelho a palavra "inteligente". Ele te verá a fundo.
O espelho inteligente é o produto de cientistas de uma empresa denominada "Semeoticons", comandados pela italiana Sara Colantonio, que há anos trabalha nesse projeto em Pisa. É uma superfície reluzente que esconde muitas câmeras e sensores desenhados para checar o fluxo sanguíneo, a oxigenação, a gordura sub-cutânea, a condição de saúde da pele...e muito mais. Com todos esses dados, te informa de teu estado de saúde geral. Mas vai além. Te alerta se há problemas cardiovasculares e diz que deve ir ao médico, te manda para a academia...diz o que você deve fazer.
O espelho inteligente de Semeoticons está na última fase de provas. É, de vários modos, um sinal dos tempos. Será, antes de mais nada, um desse policiais da vida que agradecemos tanto. Uma sociedade sob controle, multidões aguardando que as vigiem com a maior eficiência possível. Que modulam nossas condutas segundo suas leituras, suas análises e seus algoritmos sobre onde está o bem e onde está o mal. Em troca, nos prometem um pouco mais tempo de vida. Para ter esse tempo a mais, entregamos tudo. Sem exceção. Espelho, espelho meu... onde compro mais um dia de vida?
As marcas "envelhecem" os carros para forçar a troca.
Obsolescência programada. é uma estratégia de produção industrial e de marketing que torna impraticável o uso de uma certa máquina - computadores, por exemplo - a partir de certo tempo. Obriga o proprietário dessa máquina a substituí-la com regularidade. Na indústria automobilística, mesmo que os donos façam manutenções regulares, usam alguns para convencê-lo que está na hora de comprar um carro novo.
Depois de um carro sair de produção, as marcas têm, por lei, de garantir o estoque de peças por vários anos. No entanto, o truque é reduzir drasticamente a produção de peças de modelos que saíram de linha. É muito complicado fazer reparações em um carro com 10 ou mais anos. Os automóveis em si não deixam de funcionar, mas sem peças para substituição, acabam no ferro-velho.
Outro truque é fazer reestilizações do velho. Mudam algo na estética e no motor. Diferenças mínimas que enviam a mensagem da fábrica: "seu carro antigo deixou de ser preocupação nossa".
O terceiro truque está na segurança. Cada vez mais, os consumidores mostram-se atentos à segurança de um carro. Para forçar a compra de novos carros, as marcas "lançam" o mesmo carro com mais airbags, assistências à condução, faróis mais eficientes... Toda uma gama de diminutas mudanças que visa passar a sensação que seu carro velho é uma armadilha mortal, um perigo maior que os outros. Nesse caso, os governantes do mundo todo auxiliam as fábricas. Passam a exigir freios ABS e ESP, por exemplo. Cuidam de seus cidadãos e auxiliam a propaganda das fábricas para a venda de carros novos.