Existe uma marca em que o consumidor decide o preço
Fica na Rue Saint Georges, no sofisticado bairro 9 de Paris. É onde trabalha Nicolas Chabanne. Foi ele que lançou no mercado, em 2016, "Quem é o chefe?", uma marca que protagonizou uma decolagem fulgurante: em seu primeiro ano vendeu, só na França, 33 milhões de litros de seu leite.
A ideia é o comércio justo, pensado para satisfação de consumidores e de produtores.
Em seus 18 meses de existência, passaram a vender 21 outros produtos - mel, ovos, farinha.... Tudo é elaborado à partir das condições e preços que são decididos online pelos consumidores mediante uma enquete. O próprio Chabanne visita os produtores e, em função das preferências expressadas, decide com quais trabalhar. A ideia foi exportada para dezenas de países e uma imensa rede de supermercados resolveu vender os produtos da marca "Quem é o chefe?".
De poeta a empresário bem sucedido.
Chabanne estudou letras na Sorbonne. Era leitor aficcionado de Rimbaud. Em um verão voltou a seu povoado e descobriu que a "Confraria do Morango", entidade que reúne os produtores da fruta, buscava um especialista em comunicação para expressar o mau momento por que passava o produto.
Sua primeira ação foi levar morangos aos Eliseus, o centro de poder de Paris. Ao contrário do que fazem produtores que protestam no Brasil destruindo seus produtos, eles doaram morangos a todos. Inaugurando uma tradição que é mantida até hoje. Assim começou sua carreira. Em 2014, fundou a marca "Les Gueules Casseés" (Os caras quebradas), uma associação em defesa das frutas feias por fora e boas por dentro. Agora, exporta "Quem é o chefe?", convencido de que a força do consumidor é imparável. De fato, Chabanne é o artífice de um método de venda revolucionário.
Pela primeira vez na história os consumidores dizem quanto devem pagar. Nada de estudos de mercado. Simplesmente perguntaram às pessoas o que queriam comprar e quanto aceitavam pagar. É muito lógico. Mas em nenhum país do mundo o comércio está organizado em função do consumidor. Mas nos últimos anos o comércio pode ser transformado devido à existência da internet.
É um novo sistema de prazer.
Quem é o chefe? está sedimentado em um sistema de prazer. Não se esqueçam que o ato de comprar alguma coisa está diretamente vinculado ao prazer. O prazer de saber que tantas famílias de produtores irão dormir felizes, que as vacas, galinhas e abelhas estarão mais protegidas... O resultado das vendas é dividido em 50% para a coleta, embalagem, logística e distribuição; 40% para o produtor; 5% de impostos e 5% para cada cooperativa. Chabanne aposta que a França não levará mais de 5 anos para que os produtos sejam todos divididos em dois grandes grupos: importados e os que têm participação direta dos consumidores, como sua marca. Ele afirma que não pensam em rentabilidade. Um financista lhe disse: "sabe quanto dinheiro poderia estar ganhando?
Eu respondi que não me importava. Nosso projeto se baseia nos sentimentos. Se funciona é porque apostamos em repartir e ajudar, por isso as pessoas nos seguem".