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Em Pauta

Ferramentas e trabalho, o inicio dos conflitos com os guaranis

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 26/07/2024 09:20
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Há uma rica documentação referente ao inicio dos conflitos com os indígenas guaranis da fronteira com o Paraguai em latas guardadas no Arquivo Público em Cuiabá. Esses papéis são pouco conhecidos, inclusive pela imensa maioria de nossos historiadores. Descortinam fatos raramente debatidos. Mostram com clareza como chegamos ao atual estado de disputas por terras entre fazendeiros e indígenas. Ao contrário do que muitos apregoam, no inicio, o desejo principal indígena era por ferramentas e trabalho digno. Não havia embates por terra. Também não deixam margem a dúvida: eram maltratados e sofriam todo tipo de violências. Há um mar de papéis naquele arquivo publico. Estão dispostos apenas pela data a que pertencem. Muitos são apenas burocráticos, insípidos e lacônicos. Não revelam nada da vida que os geraram. Todavia, outros emergem como pepitas de ouro em meio a um monte de areia e cascalho; nos servem para mostrar a realidade dos acontecimentos. Vamos a alguns deles. Transcrevo como foram escritos.


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Pobreza e desamparo: queriam ser aldeados.

“…uma quantidade de índios Cayoàz, Guaranys, trabalhando na lavoura e constando-me que elles ali vivem prejudicando aos moradores com pequenos furtos e estragos em suas roças, e que é devido ao estado de abandono em que elles ali vivem….esta provado a facilidade de serem aldeiados por que são os próprios a procurarem auxílio….a noticia que corre de serem muito bárbaros é falsa….nada tem deles sofrido”. O documento é de 26 de outubro de 1.874.


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Querem ferramentas.

“Nada entendendo do idioma delles todavia comprehendeu por acênos o dezejo delles de serem aldeiados por que manifestavão muita pobreza e mizeria, devido a falta de recurços sobre tudo de ferramentas para o trabalho das roças, e é este o motivo que obriga a elles fazerem assaltos nos moradores com o fim único de obterem ferramentas. Se fossem malvados como se supõem terião alguma coiza feita a aqueles passageiros….”. Fonte: lata 1.874.


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De milhares para apenas cem indígenas.

"Milhares de indígenas mansos, porem no estado semi selvagem, povoão as margens dos rios Dourados, Brilhante e Ivinhema, Parana, Anhambahy e Iguatemy, falando todos a língua guarani, com pequenas alterações e pertencentes as famílias payaguas, guarany e Cayoá. Mais de trezentos destes últimos, há poucos annos, formavam um possante aldeiamento entre as cabeceiras do Aquidaban e Ponta-porá….e ahi se entregavam a agricultura por conta própria. Esses indígenas que pouco conhecem o valor da moeda e dos objetos que lhes fornecem, contentavão com o pouco que recebião….. a pessima alimentação e os castigos físicos, tão communs nestas paragens, postos em acção, tem cooperado para o despovoamento desse aldeiamento, que ainda hoje, conta cem pessoas, mais ou menos”. Documento datado de 10 de outubro de 1.888.

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