Imigração de muçulmanos ameaça a nacionalidade?
Esse é um debate central e fundamental nos Estados Unidos e na Europa. Os Estados Unidos não vivem sem um inimigo. Esse é um dos mais fortes fatores de integração dos norte-americanos, caçam inimigos até a morte. Ontem eram os comunistas, hoje, os muçulmanos. Para a Europa a questão é bem mais complexa. Foram os europeus a impedir a união de povos tribais em nações autônomas, criaram países que não existiam para seu uso e abuso. Hoje, pagam a conta da miséria que criaram, ainda que relutem.
O Brasil não tem nada a ver com esse histórico. A ultima vez que criamos um inimigo foi no processo que redundou na Guerra do Paraguai. Apesar de não termos resolvido totalmente essa fatura, só nos restam a crise do trafico de maconha e as invasões guaranis das terras de fazendeiros a saldar. É uma conta diminuta. E nada mais. A maior divida com eles foi paga com os dividendos da Usina de Itaipu. Nada devemos a bolivianos, argentinos ou uruguaios. Como também não há um marco de beligerância com pequenas religiões como a islâmica. Mas os discursos no Congresso Nacional buscam a oportunidade da projeção fácil. Alguns poucos parlamentares estão criando uma "invasão islâmica" ao território brasileiro. Construíram, sem explicar a origem, um numero de muçulmanos chegando aos portos brasileiros. Seriam 1.800.000, com o beneplácito do Irã. Essa fobia a estrangeiro já fez muito mal ao Brasil há um século.
O medo brasileiro do imigrante
Embora no Brasil do século XIX o aumento da imigração europeia, especialmente italiana e portuguesa, tenha sido bem visto pelas autoridades, empresários e fazendeiros, logo a seguir começaram a surgir desconfianças e temores. Temia-se a ação política de anarquistas e comunistas. Também temiam que governantes europeus estivessem nos enviando navios de delinquentes, criminosos, inválidos e idosos.
Não estavam inventando como agora fazem nossos parlamentares, foram os italianos que criaram os sindicatos em São Paulo e fortaleceram as lutas em prol do anarquismo e do comunismo. Também foram os portugueses, no Rio de Janeiro, que mais processos de expulsão do país receberam por suas atividades anarquistas. Entre 1917 e 1930, foram expulsos 47 portugueses à partir de processos cariocas. Assim, de agentes civilizadores, os europeus, passaram a ser vistos como fonte de desordem e subversão.
O governo brasileiro restringiu as imigrações. Também adotaram os critérios que estavam na moda nessa época para "medir" a capacidade de uma pessoa ou de um povo. Instauraram a eugenia no Brasil. Só para estrangeiros, é claro. Africanos foram proibidos de entrar no país. Quem tinha antecedentes criminais ou de participação anarquista também eram vetados. Inválidos e idosos europeus tinham as portas fechadas. E à partir de 1920, cresceu o coro dos que viam na imigração uma ameaça à nacionalidade, o que levou, na década de 1930, à tentativa, pelo menos em relação a certas nacionalidades, de suspensão temporária. Esse fechamento de nossos portos (não existia aviação comercial) nos fez perder uma imensidão de "bons cérebros".
Muitos estrangeiros que pensavam em vir ao Brasil foram para Buenos Aires ou Manhattan, foram criar riqueza, inventos e artes, essenciais para o crescimento dos EUA e da Argentina que os acolheram sem temor.
O prazer de odiar
Não está morto quem deixa de amar, sim de odiar. O ódio produz um gozo intelectual, é um princípio de que a humanidade não consegue se desprender. Não é ódio que amamos e sim o prazer de odiar. Ele é visto por muitos como o motor que empurra a sociedade para a excelência. Como o amor, o ódio ao primeiro olhar também existe. É o ódio pelo cunhado desagradável, pela sogra inoportuna, pelo companheiro de trabalho negligente, um vizinho polêmico ou ruidoso, alguém que oferece oposição ao pensamento político dominante... tudo isso constitui um universo gratificante para os demais pois os dignifica quando se comparam com os que têm comportamentos reprováveis. Há uma afinidade secreta, uma ânsia pelo mal na mente humana; e necessitamos de um doce prazer pelo bem. Mas o bem, em seu estado mais puro, logo se torna insípido, e requer, então, o prazer de odiar, fechando o ciclo.
Em 2008, a University College London publicou um estudo sobre os circuitos cerebrais que se ativam quando odiamos. Tal como ocorre com o amor romântico ou o maternal, o ódio é um sentimento biológico muito complexo que ao longo da história impulsionou indivíduos a cometer atos tão heroicos quanto quebradiços, friáveis. Alguns cientistas apontam que essa emoção foi vital para nossa evolução, graças ao prazer de odiar, alguns caçadores não se sentiam mal por ter de roubar os alimentos de outros caçadores pois os odiavam; um militar pode matar tranquilamente outro de país adversário pelo prazer de odiar. O ódio nos manteve vivos, para eles. Os cientistas londrinos estudaram as partes do cérebro que se ativavam e desativavam quando os sujeitos - 10 homens e 7 mulheres - olhavam a fotografia de alguém que lhes era neutro, indiferente. Depois, mudavam a imagem para alguém que odiavam.
Os cientistas concluíram que "todos odeiam por igual". Quer dizer, o circuito cerebral que se punha em funcionamento era o mesmo em cada um dos indivíduos estudado. Algumas dessas partes também despertam quando experimentamos o amor. A diferença fundamental entre ambos, é que o ato de amar apaga parte do córtex cerebral relacionados com o juízo e a razão, coisa que não ocorre com o ódio.
Na Antiguidade, o grego Empédocles inventou uma teoria sobre a utilidade do ódio e do amor: o primeiro, para o grego, tende a romper a unidade que o segundo cria, provocando que os elementos separados se unam, formando algo novo e diferente. O progresso, na Antiguidade, era isso. Ou nunca perceberam como o ódio une tanto quanto o amor?