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Em Pauta

Itália: Salvini será o novo Mussolini?

Zingaretti comanda a oposição

Mário Sérgio Lorenzetto | 19/03/2019 07:10
Itália: Salvini será o novo Mussolini?

Enquanto os Estados Unidos têm Donald Trump e o Brasil é governado por Bolsonaro, a Europa procura por seu ídolo maximo. Matteo Salvini é o único candidato ao posto de líder da extrema direita europeia. A história se repetirá? Será da Península Itálica o novo voo de um líder carismático disposto a todo e qualquer belicismo?
Tudo começou na França. Matteo Salvini (Milão, 1973) subiu a um apartamento do hotel em Lyon. Visitava a cidade francesa a convite de Marine Le Pen, a candidata da extrema direita gaulesa. Salvini tirou a camisa e colocou uma gravata verde sobre o peito desnudo. Era 30 de novembro de 2014. Marine Le Pen entrou em êxtase ao ver o italiano em seu comício.

Itália: Salvini será o novo Mussolini?
Itália: Salvini será o novo Mussolini?

Som e fúria na Itália. Um tumulto na internet por dia.

O líder da Liga - antigo partido seccionista da Lombardia, no norte italiano, transformado em um coquetel de trumpismo mediterrâneo - liquidou o equilíbrio de forças da política italiana e colocou o país em um temporal de som e fúria. O Ministério do Interior que Salvini lidera se converteu em uma casa de "reality show" desde o de retransmite sua vida, suas refeições com Nutella, suas decepções com as frequentes derrotas do A.C. Milan, as rupturas com suas namoradas ou os processos judiciais a que responde. Tudo é contado na internet. Salvini é o político que tem mais seguidores na Europa. Dispara o software em que se apoia para escutar o zumbido da web e cavalgar o estado de ânimo dos europeus a cada momento.
Mas o verdadeiro motor de sua força, todavia, é um instinto predador que foi subestimado por seus aliados e pelos rivais. A estratégia é bem clara, buscar um inimigo e atacá-lo: geralmente são os imigrantes, mas pode ser Emmanuel Macron, da França, ONGS, Bruxelas... não importa. Salvini busca um inimigo diariamente. E tira suas almas, transforma em esqueletos políticos. "Ele está contra a Alemanha?", perguntou preocupada a chanceler alemã Angela Merkel, em uma conversa que foi captada pelas câmeras que estavam na Conferência de Davos. A resposta tirou um pouco de suas preocupações: "Está contra todos", disse o primeiro ministro italiano Giuseppe Conti.

Itália: Salvini será o novo Mussolini?

"O Capitão" sobe.

"Il Capitano", como é chamado por seus fiéis defensores, chegou ao poder graças ao acordo que firmou com o Movimento 5 Estrelas, um partido de esquerda comandado por um comediante. À época, sua Liga estava bem colocada no rico norte italiano e tinha a mesma quantidade de votos de seu aliado. Só na Itália para a extrema direita se unir à extrema esquerda. Hoje, Salvini se diverte fazendo piadas de seu aliado. Sua Liga tem 31% dos eleitores e o Movimento 5 Estrelas tem 25%. O apetite político de Salvini engoliu seus dois mentores quando dava os primeiros passos na Liga. O mesmo instinto que triturou Silvio Berlusconi que o tratou como principal aliado até as últimas eleições. "O objetivo era levar nossos votos. E Salvini conseguiu. Não nos resta nada", assinala um dos homens que sonhava suceder Berlusconi.

Itália: Salvini será o novo Mussolini?

Quando era vereador, ligava-se à propostas da esquerda.

A carreira meteórica de Salvini guarda algumas semelhanças à de Mussolini. No início, estava ligado à esquerda. Em 1990, aos 20 anos, foi eleito vereador em Milão. Era a época em que a política italiana estava sendo destroçada pela Mani Pulite, a ação judicial que envolveu 1.233 pessoas. Destruiu o centro e a esquerda italiana. Emergia a figura burlesca de Silvio Berlusconi e começava a chamada Segunda República. Um grande momento para militar em um partido que tinha sido criado só há dois anos e disposto a tomar de assalto o governo com o grito "Roma ladrona". Salvini estava no lugar certo. Logo se converteu no líder dos jovens de seu partido. Já tinha essa imagem de homem forte.
Il Capitano flertava com ideias de esquerda. Sua primeira luta foi impedir a desocupação do Centro Leoncavallo, uma casa ocupada em Milão por movimentos sociais. Também não era o racista e xenófobo que é hoje.

Itália: Salvini será o novo Mussolini?

O impossível acontece. Salvini odiava o sul italiano, mas por ele se elegeu.

Uma câmera o imortalizou em 2009 no encontro anual de seu partido. Com um jarro de cerveja nas mãos, cantava a plenos pulmões: "sentem o fedor, fogem os cachorros, chegam os napolitanos". O sul da Itália parecia a Salvini outro país. Um pobre país para ser odiado. Dez anos depois, Salvini elegeu-se senador pela Calábria, um dos mais fortes bastiões da esquerda, da pobreza e da Camorra, a mais forte máfia da península.

Itália: Salvini será o novo Mussolini?

Salvini aspira vencer as próximas eleições do Parlamento Europeu.

O lugar de Salvini não está circunscrito às fronteiras italianas. Ele sonha em tomar de assalto o Parlamento Europeu. Para isso, conta com seus aliados franceses. Tanto os seguidores de Marine Le Pen quanto os jalecos amarelos grevistas estão a seu lado. Há pouco, o governo de Macron retirou todos de sua Embaixada na Itália, um gesto que não ocorria desde o tempo de Mussolini. O motivo? Os ataques e as frequentes reuniões de Salvini em solo francês com seus adeptos da extrema direita. A Europa atacada pelo Brexit de Theresa May, perdida em suas lutas existenciais, encontrou esse homem forte. Ser vencedor? O centro e a esquerda acabam de encontrar alguém para lhe fazer oposição. Zingaretti é seu nome.

Itália: Salvini será o novo Mussolini?

Zingaretti, o líder sem estridência.

A estrondosa vitória de Nicola Zingaretti nas eleições primárias da centro esquerda italiana dá um tubo de oxigênio para a comatosa esquerda. Os militantes deram a ele um massivo respaldo. Na semana passada, unificou a esquerda e, talvez, o centro. Zingaretti é tido como um líder com vontade de unir e não por demarcar diferenças. Seu eixo de atuação se baseia em um projeto social atrativo e inclusivo. Ainda é cedo, mas Zingaretti desponta como o líder que confrontará com Salvini. Ele é o atual governador da região do Lacio, cuja capital é Roma. Ele não apresenta soluções fáceis. Diz que "os problemas complexos não têm respostas simples". Representa a moderação, a calma e a paciência. Seu PD, Partido Democrata, têm sofrido inúmeras derrotas nos últimos anos. Estava esfrangalhado. Esse partido, há um ano, entregou as chave do poder para a Liga e o Movimento 5 Estrelas. Todavia, no mesmo debacle eleitoral do PD, Zingaretti foi reeleito, com enorme diferença de votos, para governar o Lacio. Será ele o homem que conduzirá a derrota de Salvini?

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