Levou séculos para sair da canoa de uma árvore, para a de tábua
Sempre estivemos atrás das melhores tecnologias. Durante dois séculos e meio, usávamos canoas feitas como as dos indígenas, de uma só árvore, denominada "monoxila". O desmatamento desenfreado, existente há séculos, nos obrigou a copiar a técnica europeia para a construção de barcos. Passaram a ser feitos de muitas tábuas. Um atraso que custou inúmeras vidas e perdas de riquezas consideráveis.
Queimadas e desmatamento explicam o abandono das canoas indígenas.
O sistema de queimadas e roças para a lavoura, pratica tanto de indígenas como de paulistas e mineiros que aqui chegavam, agravaram muito encontrar grandes árvores. Para encontrá-las, os homens saiam pelos braços dos grandes rios, internando-se nos matos meses a fio. Há, inclusive, o registro curioso de uma cidade que floresceu por ter conservado suas grandes árvores. Piracicaba, no interior paulista, era o único território, desde S.Paulo até o MS, onde elas eram encontradas. Foi construindo canoas, aproveitando as últimas grandes árvores, que ela enriqueceu.
Morgado de Mateus e a tecnologia dos barcos.
Os historiadores locais conhecem bem o Morgado de Mateus. Enquanto governador de S.Paulo durante dez anos - 1.765 a 1.775 - foi o responsável pela tentativa inglória de criar um forte (cadeia) no território onde hoje está localizado o município de Tacuru. Se tudo deu errado em Tacuru, D.Luis Antônio de Souza Botelho e Mourão, conhecido como Morgado de Mateus, foi o responsável pela substituição da construção naval por um meio mais conforme com as terras empobrecidas de grandes árvores. Em junho de 1.767, apresentou seu plano aos mandatários portugueses de construir grandes barcos - chamados apropriadamente de "barcões".
Chegam os barcos estilo viking.
Eles eram em tudo diferentes das canoas indígenas. Desde o casco, formado de diversas tábuas de qualquer qualidade, pregadas em "escama", uma sobre a outra, ao estilo dos vikings do século IX, passando pela adoção de velas quadrangulares, chegando a um longo remo, que na prática era um leme, tinha a maior vantagem de levar cargas muito maiores e não oferecer tantos perigos de naufrágio como as canoas. Morgado de Mateus nos trouxe um respiro de progresso.