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Em Pauta

Livros, eles procuravam livros. Sonhavam com uma biblioteca

Mário Sérgio Lorenzetto | 15/08/2022 06:30
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Misteriosos grupos de homens a cavalo percorrem todos os caminhos, conhecidos e misteriosos. Durante meses subiram montanhas, cruzaram desfiladeiros, ladearam rios, navegaram de ilha em ilha. Receberam uma estranha missão. Precisaram se aventurar em um mundo em guerra quase permanente. São caçadores em busca de presas de um tipo muito especial. O rei do Egito lhes confiou grandes somas ao enviá-los. Naquele tempo, viajar carregando uma grande fortuna era muito arriscado, quase suicídio. Livros, eles procuravam livros. O faraó daria a vida para conseguir reunir todos os livros do mundo em sua grande biblioteca de Alexandria. Nascia a primeira biblioteca publica da humanidade. Antes, só existiram bibliotecas privadas.


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As mentes mais prodigiosas do mundo.

Eram convidados para viver em Alexandria os melhores escritores, poetas, cientistas e filósofos da época. O farão lhes dava salário, moradia gratuita e uma mesa em um luxuoso refeitório coletivo. Os selecionados mantinham o cargo por toda a vida, livres de qualquer preocupação material, para que pudessem dedicar toda a sua energia a pensar e criar. Também não pagavam impostos, talvez o melhor presente.


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Descobertas e invenções assombrosas.

Durante séculos, Alexandria reuniu uma resplandecente constelação de nomes: o matemático Euclides, que formulou os teoremas da geometria; Estratão, o melhor físico da época; Aristarco, o grande astrônomo; Eratóstones, que calculou o perímetro da Terra com uma exatidão espantosa; Heródilo, o "pai da anatomia"; Arquimedes, o maior nome da hidráulica até hoje; Dionísio de Trácia, que escreveu o primeiro tratado de gramática. Em Alexandria nasceram teorias revolucionárias, como o modelo heliocêntrico do Sistema Solar. Quebraram o tabu das dissecações de cadáveres e compreenderam a anatomia humana. Criaram a trigonometria, a gramática e a conservação de livros. Inventaram o parafuso sem fim que ainda hoje é utilizado em bombeamento de água. E o mais sensacional - e pouco conhecido -, muitos séculos antes de Watt, Heron de Alexandria criou a máquina a vapor.


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Como pode um povo vivo viver fora da biblioteca?

Alexandria foi o modelo de todas as bibliotecas do mundo, de todo o saber organizado nas faculdades e nos centros de invenção que já existiram. Não há um só povo que tenha criado algo sem uma biblioteca. O saber não nasce nas armas, pelo contrário, as armas são frutos do saber acumulado em bibliotecas. Mas assim não age o Brasil. Fecharam quase 800 bibliotecas.


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Como destruir um país?

Lentamente, Alexandria foi mudando. Saiam os melhores cérebros e livros do mundo, entravam as armas. O processo lento e doloroso, que passou por um terremoto,  foi concluído nos anos turbulentos da Segunda Guerra Mundial, quando o Egito foi ocupado por tropas britânicas e virou um ninho de espiões e conspirações. Arrasou a cidade. Virou uma paisagem melancólica. Tanques enguiçados nas praias feito esqueletos de dinossauros, grandes canhões lembravam árvores caídas de um bosque petrificado, beduínos perdidos entre as minas explosivas. A cidade parecia um enorme urinol público, nas palavras de um cronista. A cidade emigrou para a memória dos livros,

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