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Em Pauta

Medicina boa e medicina golpista. Como roubar um aluno

Mário Sérgio Lorenzetto | 28/08/2021 07:40
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Dificilmente houve pesquisador menos reconhecido que Albert Schatz (1920 - 2005). Schtaz vinha de uma família de fazendeiros pobres de Connecticut. Inicialmente, estudou biologia do solo, não por ser apaixonado pelo assunto, mas por falta de opção. A lei nos Estados Unidos permitia apenas uma determinada proporção de judeus em cada universidade. Mas, no seu entender, qualquer coisa que aprendesse sobre fertilidade do solo ao menos seria de alguma utilidade na fazenda da família.


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A penicilina não curava a tuberculose.

Em 1943, ainda aluno de graduação, Schatz conjecturou que micróbios do solo poderiam fornecer um antibiótico que curasse a tuberculose e matasse todas as bactérias. Gram negativas uma vez que a penicilina não produzia esse efeito essencial. Schatz testou pacientemente centenas e centenas de amostras e em menos de um ano descobriu a estreptomicina, primeiro medicamento a combater esse tipo de bactérias. Foi um dos maiores avanços da medicina no século XX.


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O professor deu o golpe.

O professor que supervisionava os trabalhos de Schatz, de nome Selman Waksman, percebeu na mesma hora o potencial da nova droga. Fez Schatz assinar um contrato cedendo a patente para a Universidade de Nova Jersey. Logo a seguir, assumiu todo o crédito pela descoberta. Começou a embolsar altos lucros. Logo, estava recebendo mais de dois milhões de dólares por ano.


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O processo mal sucedido.

Na época, processar um professor no mundo acadêmico, era muito mal visto. A Schatz, após o processo, restou uma ínfima quantia dos milhões de dólares e nenhum reconhecimento. Só conseguiu publicar seu trabalho em uma revista de odontologia do Paquistão. E só conseguiu emprego em uma pequena faculdade agrícola da Pensilvânia.


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Prêmio Nobel para o golpista.

Em 1952, numa das supremas injustiças da medicina, Selman Walksman recebeu o Prêmio Nobel. Schatz ficou a ver navios. Walksman continuou levando a fortuna gigantesca e a fama até sua morte. Quando morreu, em 1973, muitos o descreveram como o pai dos antibióticos, coisa que certamente nunca foi. Vinte anos depois, a Sociedade Americana de Microbiologia fez uma tentativa um tanto tardia de pôr panos quentes convidando Schatz a falar por ocasião do décimo quinto aniversário da descoberta da estreptomicina. Sem perder muito tempo, concederam a Schatz a suprema ironia: uma medalha denominada Selman Walksman. A vida às vezes pode ser extremamente injusta.

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