Não sei para onde vou, sei que não vou por aí
O PT e seus aliados estão entalados. De um lado as medidas exigidas pelos agentes econômicos, bancos e empresários, todas em sentido contrário dos interesses da sua tradicional base de apoio. Para o governo as crises, políticas e econômicas, são asfixiantes. Mas eles sabem o que querem. E nesse momento, por incrível que pareça, isso faz diferença.
Dilma deseja enterrar de vez o já comatoso impeachment, terá de vencer o braço-de-ferro com o fragilizado líder do Congresso, Eduardo Cunha. Em paralelo terá de enfrentar o TSE para garantir sua permanência no poder. Lula visa sair o menos ferido possível das acusações de improbidade que lhe estão sugando a alma e os votos. Caso Dilma permaneça no poder e Lula livre-se da justiça, o PT, em seguida, tentará falar com a sociedade. Restabelecer o diálogo perdido é um grande anseio para aqueles com poucas esperanças. É verdade, os governistas estão encostados às cordas, esmurrando para todos os lados para que essas cordas não subam para seus pescoços. Mas eles sabem o querem. E isso não é pouco.
E a oposição? Sabe o que quer? A resposta é um sonoro não. E é por causa disso que se sente uma imensa desesperança nos ares brasileiros. A oposição está como a música que diz "Não sei para onde vou, sei que não vou por aí". É inacreditável, mas dos 90% que desaprovam o governo Dilma, quase todos não tem um nome, não tem um líder - e por consequência, um caminho. Reage pela negativa: sabe o que não quer - Dilma, PT, governo...mas não sabe o que quer.
O "sei que vou por aí", seria uma ressurreição política de Fernando Henrique Cardoso, hoje confortavelmente aposentado, tentando mostrar o caminho para seus rebentos irados. O "sei que vou por aí" seria uma transmutação do juiz Joaquim Barbosa que, provavelmente, está curtindo sua vida de aposentado em Miami, seu sonho mais prosaico. Nem FHC, nem Joaquim Barbosa são candidatos plausíveis. Só resta a canção.
Rio, o zika assassino e o temor nas Olimpíadas.
O Comitê Olímpico dos Estados Unidos será compreensivo com todo atleta que se negar a vir para o Rio de Janeiro. O comitê do Quênia coloca em dúvida a vinda de seus atletas ao Brasil. O debate na Espanha sobre vir ou não às Olimpíadas Rio está colocado em toda a imprensa. Cresce a preocupação com as Olimpíadas no mundo. Até o presente momento, o único comitê que afirma que virá ao Brasil, e que há exagero na avaliação dos perigos do zika, é o da Itália. Isso faz soar o alarma para o cimento do movimento olímpico, um tanto reduzido nos últimos anos com as denúncias de corrupção, de lucros exorbitantes de seus organizadores em detrimento dos países que os recepcionam.
Os gregos criaram os jogos na Antiguidade. Um francês chamado Pierre de Coubertín os restaurou, Londres é a única cidade que os organizou três vezes e a China ganha ultimamente um sem fim de medalhas. Mas os Jogos Olímpicos não se entendem sem os Estados Unidos. Se o Comitê Olímpico dos EUA anima seus atletas para não voarem ao Brasil, haverá problemas.
Os Jogos do Rio foram ganhos em um momento ímpar, mas nunca deveriam ter vencido. Uma coisa são os sentimentos, outra são os motivos racionais que deveriam ter sido analisados. Tão somente ser escolhido porque eles nunca ocorreram na América do Sul e devido ao Brasil viver um período de bonança, não garantiriam o enriquecimento da história olímpica. Mas fez engrossar o mundo das anedotas tenebrosas de tudo que diz respeito ao Brasil. Nossa imagem está rota por motivos econômicos e políticos. Pior, viramos motivo de piadas internacionais devido aos poucos cuidados com o zika.
O populismo econômico.
O populismo é sobejamente conhecido. Aqui mesmo nessa coluna já se mostrou sua origem na Rússia. Muitos dizem para não perder o tempo debatendo o populismo. É um chavão usado e abusado por qualquer um que deseje desancar o opositor. Mas há outro populismo que raramente é exposto: o econômico. Ele resume o abuso de políticas expansionistas de demanda e o desprezo pela escalada da inflação na tentativa de conquistar eleitores indignados. É essa a versão envergonhada do diminuto plano apresentado por Brasília para combater a grave e profunda crise econômica que eles nos meteram. Apenas populismo. Tão somente populismo que enche as páginas de jornais e telas de TV.
Casamentos e estupros a la romanos.
No Império Romano, o Estado não exercia poder sobre o indivíduo, mas sobre grupos familiares, uma vez que a sociedade se fundava sobre a família. Esses grupos familiares eram denominados "gentes". Quando se casava, a moça saia definitivamente de uma "gente" e ingressava em outra.
Depois que os acertos sobre o matrimônio entre o rapaz, ou seu intermediário, e o pai da moça eram concluídos, ela ficava comprometida com o rapaz. O matrimônio tinha duas fases bem distintas e cronologicamente separadas entre si, os "esponsais" (noivado) e as núpcias. Nos esponsais, era proclamada a união entre as duas famílias com um banquete. As núpcias indicavam o dia em que a esposa era acompanhada, com muita solenidade, à casa do marido. Nos esponsais só ocorria um aperto de mãos entre os jovens pretendentes, muito mais tarde o hábito mudou e foi introduzido o anel (primeiro século depois de Cristo) como símbolo de união. O noivo passou a enviar um anelzinho que ela deveria usar no dedo anular da mão esquerda. Um sinal de fidelidade e comprometimento.
O banquete das núpcias era, via de regra, na casa da noiva. E ela saia de sua casa com os festeiros. Ao chegar à porta da casa do marido, a esposa era ungida com óleos aromáticos e adornada com tecidos de lã. Era então carregada pelos acompanhantes para que não tocasse com o pé a soleira da porta da casa do noivo. Depois ia ao quarto do noivo. Sentada ou deitada sobre o leito nupcial fazia orações à divindade da nova família. A seguir, o esposo afrouxava suas vestes e distribuíam nozes às crianças. Todos se retiravam. No dia seguinte, a esposa se vestia com roupas sisudas de matrona e era realizado outro banquete.
Em todos esses momentos, o governo nem cogitava alguma participação. Todavia, se os noivos passassem a conviver sem ter celebrado ao menos os esponsais, a relação era considerada clandestina. Os romanos entendiam que era um tipo de concubinato. Proibido por lei, era denominado "estupro" (stuprum). Parece que nossos ancestrais não traduziram bem a ideia.
A internet vem do mar.
A maioria das pessoas não faz ideia, mas a internet vem do mar. Algo como 99% das comunicações correm por enormes cabos lançados no fundo dos oceanos. E o mais incrível é que as comunicações funcionam assim desde 1858. Essa é a data em que o primeiro cabo submarino foi lançado. Ligou o Canadá à Irlanda. A ideia foi de Samuel Morse, dois anos após demonstrar seu sistema telegráfico. Mas quem assumiu o desafio foi Cyrus Field, um magnata norte-americano. O cabo precisava ser muito resistente e a borracha utilizada para envolver os sete fios de cobre trançados não deu certo. Em 1858 veio a solução da Índia. Era onde crescia uma planta chamada guta-percha, que produz uma borracha mais resistente que a nossa. A primeira mensagem intercontinental da história ocorreu no dia 8 de agosto de 1858. Continha apenas 98 palavras e levou 17 horas para sair de uma ponta e chegar à outra. Para os que estão acostumados aos milésimos de segundos de uma comunicação com qualquer local do mundo, acreditem, foi uma enorme façanha.