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Em Pauta

O advogado contrário ao feminismo que enche o teatro

Mário Sérgio Lorenzetto | 11/03/2019 09:06
O advogado contrário ao feminismo que enche o teatro

Há uma nova moda na França que se chama "intrusismo cênico". Cada vez mais personalidades alheias ao mundo teatral parecem dispostas a ganhar a glória sobre o palco. Eles suprem seus déficits de técnica com um plus de autenticidade que vem conseguindo lotar as salas.
O ex-ministro Frédéric Miterrand foi um dos primeiros. Encheu salas com uma leitura dramatizada de sua autobiografia "A má vida", onde reconhece ter recorrido aos serviços de jovens prostitutos em Bankoc, o que quase lhe custou o cargo em 2009. Há outros que "dramatizam" a uberização da sociedade e aqueles que defendem a Europa unida.

O advogado contrário ao feminismo que enche o teatro

O advogado criminalista que virou ator de sucesso.

Nenhum consegue rivalizar com o êxito de Éric Dupond-Moretti, o advogado criminalista mais famoso da França. Já está há dois meses subindo no palco com as entradas esgotadas. O monólogo "À la barre" (algo como "No estrado") não têm data para sair de cena tamanha a procura. A cada noite, deixando atrás o Tribunal de Justiça, o advogado que defendeu o jogador do Real Madrid Karim Benzema ou a família do terrorista Mohamed Merah, aparece no palco com um longo monólogo sobre sua vida, sua obra, sua maneira de exercer o ofício. Quem assistiu, afirma que é um belo espetáculo de oratória, essa disciplina de que os franceses nunca se cansam. E uma prova adicional de que a advocacia e interpretação são mundos interconectados.
"Na sala de um tribunal também há gente fantasiada. Uma sirene anuncia o início da audiência. Um protagonista sai ao cenário. Nos julgamentos há teatralidade", afirma o advogado-ator. Ele se orgulha de nunca ter rechaçado um cliente por motivos ideológicos.

O advogado contrário ao feminismo que enche o teatro

O advogado que não aceita o feminismo.

Com o fragor de sua voz de ultra-tumba, alternando com longos silêncios, Dupont-Moretti denuncia uma sociedade polarizada em clãs. Carnívoros contra veganos. Fumantes contra aiatolás do fumo. Caçadores contra defensores dos animais. Não custa adivinhar em qual lado ele se situa. Esse advogado de 57 anos também entoa sua oposição ao feminismo e a qualquer movimento que chama de "almofadinhas". "Que assobiar a uma mulher se converteu em uma infração penal me parece espantoso", reza uma de suas citações mais célebres. Nega ser nostálgico ou reacionário. Mas não se reconhece em uma sociedade liberticida "que transforma qualquer nimiedade em um escândalo". A plateia aplaude e o protagonista marcha satisfeito. Corajosos franceses. Há algum advogado brasileiro disposto a seguir seus passos?

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