O grande mal estar atual, as migrações começaram há milhares de anos
Se há algo que a imensa maioria dos brasileiros adora fazer é copiar ideias e atitudes dos norte americanos. Desconfio que, caso os gringos resolvam suicidar em massa, faltará caixões no Brasil. Menos mal, quanto às migrações, pelo menos por enquanto, não compramos essa fantasia estrangeira. Sim, impedir migrações não passa de uma quimera, um sonho malandro ou idílico. Elas estão cravadas em nosso DNA. Migrar, desde o alvorecer da humanidade é uma necessidade tão premente como comer, beber ou respirar.
Saindo do purgatório.
A palavra “migração” é relativamente recente, só aparece no final do século XIX. É filha da Igreja da Idade Média. Vem de “transmigração”, que designava a passagem das almas do purgatório para o paraíso. Um tanto diferente da modernidade, “migração“ está mais para a passagem do inferno para um utópico paraíso terrestre. A primeira grande migração moderna ocorreu na Inglaterra da Revolução Industrial. As populações dos países colonizados pelos ingleses começou a mudar para a grande ilha europeia nessa época.
Out of África.
“Out of Africa” não é só um drama literário e cinematográfico convertido em clássico, é também a expressão usual para designar os movimentos da espécie humana fora de seu continente original. Se trata de um movimento chave na humanização do planeta. Ao que tudo indica, começou em pelo menos três regiões da África, chegou na região da atual Jordânia e de lá, criou dois ramos: um que foi para a Geórgia, dando origem aos europeus e, outro, em direção à China. Audaciosos, curiosos, amantes da aventura e, provavelmente, com fome por falta de melhores territórios para caçar, pegaram a “estrada“.
Em busca do paraíso mesopotâmico.
Nem Estados Unidos e nem a Europa, o primeiro “paraíso“ da humanidade foram as cidades construídas pelos povos da Mesopotâmia (Irã, Iraque e Turquia). Por lá, é óbvio, não existiam industrias, mas tinham uma organização agropastoril e alguns artesãos. Passados milhares de anos, serão esses mesopotâmicos a começar migrar. Suas elites guerreiras e comerciais, começaram a percorrer enormes distancias.
4.000 gerações.
Utilizando um bonito roteiro, é possível fazer algumas contas para percebermos que as migrações sempre foram difíceis. Utilizemos 25 anos como a idade media para cada humano falecer. Não está distante da realidade de milênios atrás. Cem mil anos equivalem a 4.000 gerações. Também imaginemos que eles conseguiam caminhar e mudar de território somente 50 quilômetros por geração. Ao longo de 100.000 anos, os humanos haviam efetuado uma viagem de 200.000 quilômetros. Assim, não é surpreendente que a humanidade tenha terminado por chegar à Lua. Todos os continentes foram ocupados. O mais difícil e surpreendente foi a Austrália. A conclusão é bem clara: podem expulsar quantos migrantes desejarem, eles continuarão sua longa marcha através da história. Em busca do “paraíso”.
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