O homem que lia. Surpresas na leitura
Um professor de 29 anos chegou naquela cidade que hoje conhecemos como Milão. Corria o ano de 383 d.C.. Poucas décadas depois do Império Romano ter abandonado seu Panteão de deuses e passar para o catolicismo. O professor Agostinho se apresentou ao bispo local, um amigo de sua mãe denominado Ambrósio. Nenhum dos dois imaginava que passaria a fazer parte de outro Panteão: o dos santos católicos.
Susto: ele lê em silêncio.
Agostinho ficou assustado com o que viu. Ambrósio lia em silêncio. "Quando ele lia, seus olhos perscrutavam a página e seu coração buscava o sentido, mas sua voz ficava em silêncio e sua língua quieta", escreveu Agostinho. Nem Agostinho e nem ninguém havia visto algo parecido na Europa. E nem veria nos séculos seguintes. A única forma concebível de se ler era em voz alta. Também não viam alguém ler sozinho. A leitura era um ato social. Era compartilhada pelos poucos leitores com os muitos analfabetos. Só lá pelo século XVII a leitura se tornará individual e silenciosa.
400 camelos carregam uma biblioteca.
Leitor voraz e ciumento de seus livros, um grão-vizir da Pérsia carregava sua biblioteca quando viajava. Acomodava seus livros em 400 camelos treinados para andar em ordem alfabética. Mas há outras histórias surpreendentes da paixão pelos livros. Uma belíssima prostituta de Veneza, em 1536, recebia seus clientes e lhes lia algum livreto de Petrarca, Virgílio ou Homero. Assim como há histórias funestas. Um dos maiores imbecis dentre todos os ditadores, foi o chileno Pinochet. Baniu o "Dom Quixote de la Mancha", de Cervantes, sob o argumento que o livro incitava à liberdade individual e atacava a autoridade instituída.