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Em Pauta

Obesidade: o que há por trás desse novo ódio?

Mário Sérgio Lorenzetto | 18/02/2019 07:00
Obesidade: o que há por trás desse novo ódio?

As histórias vem se repetindo. O gordinho é o último a ser aceito na seleção de empregos. A gordinha na capa de revista de moda desata uma tormenta de reprovações por "idealizar a obesidade", dizem, em palavras chulas, na internet. Somente uns poucos leitores elogiam a confiança da manequim por ser feliz com seu corpo. Os especialistas tem um nome para a atitude dominante: gordofobia. A discriminação e menosprezo, consciente ou inconscientemente, das pessoas percebidas como gordas. A gordofobia poderia ser definida como um sentimento de repulsão a quem sofre por excesso de peso e se distanciam dos padrões estéticos estabelecidos.

Obesidade: o que há por trás desse novo ódio?

"Sinto pena de quem está nadando em tanto ódio". Contando o número de piadas.

O crítico norte americano de cinema pegou pesado: "hipopótamo fêmea ", "do tamanho de um trator " e, ainda, "assustadoramente nojenta". Foram expressões que ele usou para a melhor comediante dos EUA Melissa McCarthy. Mesmo criticado, não voltou atrás. A reação da atriz foi caridosa: "Sinto pena de quem está nadando em tanto ódio". Talvez esse seja o ataque à gordofobia mais conhecido por sua ferocidade. Mas eles costumam se esconder sobre o manto prazeroso das piadas. São milhares. Basta acessar o Google. Milhões no Brasil, 118 milhões nos EUA, diz o buscador. "Era um sujeito tão gordo, tão gordo, que seu anjo da guarda tinha de dormir em outra cama", é uma das piadas mais acessada se "menos agressivas".

Obesidade: o que há por trás desse novo ódio?

No mundo do trabalho é pior que as piadas e comentários.

Na França, um homem gordo tem três vezes menos possibilidade em encontrar emprego que outro com currículo idêntico, todavia magro. No Brasil, o sobrepeso virou nota de corte em concursos públicos. O "adorável" apresentador de TV Roberto Justus decretou que não se deve contratar quem está acima do peso. Para ele, a obesidade é um sinal inequívoco de desequilíbrio e de falta de inteligência. Muitas campanhas governamentais contra a obesidade envergonham a quem deveriam ajudar. Esbofeteiam a quem deveria ter as mãos de ajuda estendidas.
A sociedade em que vivemos ensina que o valioso e saudável é o rápido, o ágil e o dinâmico. Portanto, tudo que se associa a lento, pesado e volumoso é percebido como inferior.

Obesidade: o que há por trás desse novo ódio?

Os grandes números da obesidade.

Para ficar bem claro: gordura corporal excessiva é, sim, um perigo. Está não é uma coluna de exaltação da obesidade. Mas devemos tomar cuidado com a generalização: algo como 30% dos obesos podem ter um perfil metabólico e cardiovascular dentro da normalidade.
No Brasil, o SUS vem gastando em torno de R$ 500 milhões anuais em tratamentos contra a obesidade. Segundo o Ministério da Saúde, pelo menos 51% dos brasileiros estão acima do peso considerado ideal. Sim, as campanhas contra a obesidade são necessárias - e urgentes - todavia, não podem ser campanhas contra o obeso, não podem favorecer o crescimento do preconceito. Os preconceitos são contra a estética. A ajuda é para combater um malefício para a saúde. Os gordos saudáveis devem viver em paz.

Obesidade: o que há por trás desse novo ódio?

As razões da obesidade são confusas.

São muitos especialistas buscando uma resposta. Até este momento, a ideia correta da existência da obesidade nas populações é que ela é uma patologia com "multicomponentes". Muito fatores. Mas há algumas coisas que influenciaram mais que outras. Por exemplo, metem os gordos a contar as calorias. Todavia, um dos melhores estudos diz que nossos pais engoliam muito mais calorias que nossas gerações atuais e eram bem mais magros.

Obesidade: o que há por trás desse novo ódio?

Será o tipo de comida que passamos a ingerir desde o final do século passado?

Há poço, o diário britânico se aventurou a sugerir uma resposta para acabas principal da obesidade. A principal razão seria o tipo de comida que passamos a consumir. O jornal fez a pesquisa e as contas. Diz que os ingleses compram, na atualidade, a metade de leite fresco que compravam em 1976. Em troca, compram 5 vezes mais iogurte que naquela data. Três vezes mais sorvete. E a mais surpreendente contagem: 39 vezes mais doces lácteos como mousses, flans... também adquirem a metade dos ovos que compravam em 1976. E continua: adquirem um terço a mais de cereais em pacote para o café da manhã. A metade de batatas frescas e, em contrapartida, três vezes a mais de sua variedade frita em bolsa. A venda de alimentos fabricados dispararam nos últimos anos. As empresas alimentícias investiram muito a partir de 1975 no desenho de produtos para driblar, enganar nossos mecanismos naturais de controle do apetite. É verdade que os obesos devem moderar seus apetites, mas a indústria alimentícia é a grande culpada.

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