Óvulos esgotados e reprodução assistida que falta
Mais um debate, forjado nos Estados Unidos, faz barulho no Brasil. O que é bom na "gringolândia" é bom no Brasil? A justiça norte-americana colocou obstáculos ao aborto. Parcela das feministas brasileiras, imediatamente, aderiu às manifestações contrárias. Agem como se não existisse a "pílula do dia seguinte", que tornou liliputiana essa polêmica. Muitas jovens carregam na bolsa essa pílula. Mas, se alguns gritam pelo direito ao aborto, ninguém, absolutamente ninguém, luta pelo inverso, pelo direito dos casais, com algum problema de fertilidade, ter filhos. A pauta da reprodução assistida é inexistente no Brasil.
Brasil lidera ranking em reprodução assistida.
Ainda que seja exclusividade de casais de classe média e ricos, o Brasil lidera o ranking dos países latino-americanos que mais realizaram fertilização in vitro, inseminação artificial e transferência de embriões. Pelo menos 83 mil bebês brasileiros nasceram por meio de reprodução assistida. A Argentina figura em segundo lugar com menos da metade e, logo a seguir, vem o México. O número de nascido por meio de reprodução assistida no Brasil, todavia, é diminuto frente aos números europeus. Temos pouco mais de 1% dos bebês nascidos por meio de reprodução assistida, enquanto na Europa esse percentual chega a 9%. É possível que tenhamos espaço, interesse, para chegarmos a mais de 700.000 bebês nascidos por reprodução assistida. Caso essa simples matemática se converta em estudo, a saúde pública brasileira deveria mudar sua perspectiva.
O que há de novo na reprodução assistida.
A Catedral de Milão é dedicada ao nascimento da Virgem Maria, a mãe por antonomásia para os cristãos. Uma mãe que, aliás, concebeu diferente das demais mães. E foi nessa belíssima cidade, dedicada à maternidade, que ocorreu, na semana passada, o Congresso Anual da Sociedade de Reprodução Humana e Embriologia. Aclamaram, nesse congresso, três pautas. A primeira é pedir a todos os governantes que estimulem as mulheres e os médicos a procederem, com frequência, a "prova do hormônio antimulleriana", que permite estimar a reserva ovárica, a quantidade de óvulos que ainda restam para elas. Sabemos que as mulheres nascem com um restrito número de óvulos e, se souberem, quantos ainda tem, podem fazer um bom planejamento da concepção de filhos.
Inteligência artificial para escolher embrião.
Outra novidade, saída do congresso, foi a incorporação de Inteligência Artificial para selecionar embriões. Atualmente, os médicos escolhem, por experiência própria, os embriões que tem mais chances de serem implantados no útero e sair ao mundo como um bebê sadio. A Inteligência Artificial dá melhores resultados, não está propensa a variar de critério e acelera o trabalho dos médicos. Outra conclamação do congresso é pela dedicação aos estudos da infertilidade masculina. Eles são quase inexistentes. Sabemos apenas a quantidade de espermas em cada ejaculação e sua capacidade de "nadar" até o óvulo. Uma das raras pesquisas nesse campo é sobre o sêmen. Esse líquido, que envolve o esperma, tem algumas proteínas que podem levar o óvulo a não aceitar o esperma. É quase nada de conhecimento novo.