Qual será o legado do Papa Francisco?
Francisco, conforme suas próprias palavras, vive um clima de pressão. Seu pontificado atravessa uma fase decisiva. Após cinco anos, algumas de suas reformas encalharam, outras estão sobrevivendo com problemas. A transformação econômica, a estratégia de comunicação do Vaticano, a luta contra os abusos e a reformulação da cúria, deram resultados díspares.
É bem verdade que Francisco conseguiu algo muito difícil: montou um Colégio de Cardeais à sua medida - são 59 votos garantidos contra 47. Dispõe de imensa maioria dos votos. As finanças e os céus nunca foram amigos, sempre se deram mal. Depois de anos de caos, o Vaticano homologou suas regras e controles às dos demais países do mundo. "Moneyval" - organismo europeu que vigia a lavagem de dinheiro - certifica essa verdade. O Banco do Vaticano (IOR), que gestiona quase seis bilhões de euros, fechou mais de 5.000 contas suspeitas a partir de 2013. Também reduziu substancialmente o déficit e há novos órgãos de inspeção. Os ex-banqueiros do IOR expiam seus pecados nos tribunais.
Em sua chegada, Francisco anunciou que continuaria com a política de tolerância zero com os abusos sexuais, política iniciada por Bento XVI. Criou uma Comissão Pontifícia para prevenir esses casos. Mas as duas vítimas que incluiu nesse organismo abandonaram a comissão dando declarações de que existem obstáculos intransponíveis para suas propostas.
Uma vez perguntaram a João XXIII quantas pessoas trabalhavam no Vaticano. O Pontífice respondeu ironicamente: "Mais ou menos, a metade..."A realidade é que são mais de 4.800 pessoas. Uma pesada estrutura que requer transformação, parece com os organismos governamentais brasileiros - lotados de ineficientes. Houve mais nomeações de mulheres. Reduziram o número de dicastérios - ministérios do Vaticano. A estrutura é mais horizontal. Também estão avançando no degelo com a China, acreditam que até 2019 terão relações normalizadas com o gigante asiático - única forma de crescer naquele continente.
Francisco foi a reação audaz e fulgurante da Igreja ao descomunal desprestígio que atravessava. Aos ventos de mudança que sopravam no mundo. A Divina Providencia entendeu o que estava em jogo. Tudo devia ser novo. O primeiro papa jesuíta, o primeiro americano e também o primeiro que convive com outro papa. Mas ninguém consegue antever qual será seu legado. Os poderes da Igreja nos EUA, uma de suas mais ricas sedes, não se cansam de torpedear Francisco, querem que siga os passos de seu antecessor e vá para a aposentadoria.
Esses homens que acreditam ser Cristo.
Os cristãos estão há mais de dois mil anos aguardando o retorno de Cristo. "Sim, voltarei", rezava o antepenúltimo versículo do Novo Testamento. Deixava uma porta entreaberta a uma nova ressurreição e um álibi possível a todos aqueles que asseguram ser o Messias renascido. Não são poucos. É quase impossível não existir alguém que se diga Jesus Cristo em qualquer estabelecimento psiquiátrico. Mas alguns, fora de instituições psiquiátricas, têm discurso estruturado, uma comunidade de crentes aceitável e uma clara missão - muito discutível - de evangelização.
Entre eles, se encontra Vissarion, que criou uma igreja alternativa nos bosques da Sibéria, onde vive com mais de 5.000 pessoas em uma comunidade idílica. Nesse lugar, o Natal é celebrado em 14 de janeiro, dia do aniversário do messias apócrifo.
Ninguém supera Apollo Quiboloy, que fundou uma mega-igreja nas Filipinas que já conta com mais de 6 milhões de fiéis. Quiboloy têm uma frota de heicópteros, uma universidade própria e um canal de televisão. Também há o japonês Jesus Matyoshi, que pronuncia seus sermões desde uma camionete, algo semelhante a um carro usado em eleições. O objetivo do japonês é virar ministro de seu país e, depois, secretário geral das Nações Unidas. A ideia é transformar o planeta instituindo a Lei de Deus. Nas últimas eleições, mais de seis mil pessoas votaram nele. Enquanto isso, em Zâmbia Bupete Chibwe Chisimba ganha a vida conduzindo um táxi ilegal, um ofício ultra modesto. Tão modesto quanto são seus acólitos: apenas duas pessoas seguem sua doutrina. Nem mesmo sua mulher acredita que Chisimba é a reencarnação de Cristo. Tampouco têm fiéis o ex-agente dos serviços secretos britânicos David Shayler. Ele costuma predicar nos campos, algumas vezes vestido como mulher - nesses dias, se faz chamar Dolores a uma paróquia formada por meia dezena de adeptos.
Inri Cristo, o brasileiro que acredita ser Jesus Cristo.
Ele rebatizou com as iniciais que Poncio Pilates mandou colocar na cruz que Cristo carregou. "INRI" é o acrônimo da frase em latim Iesus Nazarenus, Rex Iodaeorum (Jesus Nazareno, Rei dos Judeus). Inri, 69 anos, vive em Brasília, junto a uma congregação abundante e formada majoritariamente por mulheres. Não recusa convites para participar de programas humorísticos, já trabalhou com teatro e consegue entrevistas, nas quais, é tratado com ironia. Ergueu um culto ao redor de si mesmo e está sempre acompanhado de mulheres sorridentes que usam vestidos longos azuis e maquiagem. Para além do humor, pouco se sabe sobre elas. A rotina delas envolver muitos segredos. Elas dividem com o "messias" uma casa construída no Gama, a 30 quilômetro do Plano Piloto, centro de Brasília. O terreno de vinte mil metros quadrados abriga o "Reino de Deus na Terra", fundado em 1986 por dezenas de mulheres e poucos homens. Todos entregaram, por livre arbítrio, seus destinos nas mãos de Inri. Abdicaram da vida sexual - celibato é obrigatório -, abandonaram suas famílias e profissões para viver em uma comunidade onde ele dita as regras. Inri diz como elas devem se vestir, agir e pensar, se alimentar e até a se limpar. Todos e todas mudaram de nome. Há uma profusão de Assinoê, Ádri, Alara, Adeí...., sempre começando com a letra "a". Reconhecem, sem pestanejar, que Inri é Jesus.
