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Em Pauta

Quando a medicina era imoral e proibida pela igreja

Mário Sérgio Lorenzetto | 02/03/2019 08:42
Quando a medicina era imoral e proibida pela igreja

Século XII. Essa é uma das épocas de maior transformação na humanidade. Uma era de profundas transformações no conhecimento. Para um desses conhecimentos, o da medicina, o efeito foi direto na vida das pessoas. Claro, a medicina em si não era nova. Existiam médicos no mundo antigo, especialmente no mundo grego e árabe. Na Europa, além de livros de tratamento com ervas, tinham livros sobre técnicas de sangria. Não existia, no entanto, nenhuma coletânea sistematizada de textos de medicina. Havia poucos médicos e nenhum cirurgião, além de nenhum curso de medicina.

Quando a medicina era imoral e proibida pela igreja

Medicina era imoralidade e heresia.

Predominava a crença até o XII de que intervenções médicas era uma tentativa de desfazer o trabalho de Deus. Os,principais pensadores da igreja, como Gregório Turonense, enfatizavam a imoralidade da medicina, já que seus praticantes buscavam alterar o julgamento de Deus. A cura só poderia ser realizada com o uso de óleos e água consagrados. O mais importante desses pensadores, Bernardo de Claraval, dizia que "consultar médicos e tomar remédios não convém à religião e é um ato contrário à pureza".

Quando a medicina era imoral e proibida pela igreja

A medicina era irmã da superstição.

A superstição cumpria um importante papel na prática da medicina. Receitas de remédios quase sempre incluíam excrementos e partes de corpos de animais, juntamente com feitiços e amuletos. Para tratar casos de câncer, por exemplo, a receita era bílis de bode e mel, misturando quantidades idênticas e aplicando no local. Outra receita para câncer, era incinerar uma cabeça de cão de caça e aplicar as cinzas no local.

Quando a medicina era imoral e proibida pela igreja

Ano 1.100, Salerno, sul da Itália, a primeira escola de medicina europeia.

Em 1.100, a cidade de Salerno já tinha fama de centro de ensino de medicina, graças principalmente à iniciativa de seu bispo, Alfano - um homem da igreja que combatia e venceria os mais famosos pensadores de seu tempo - que levou à essa cidade um grande número de de importantes tratados de medicina. Esses livros saíram da Tunísia onde foram traduzidos do grego e do árabe para o latim.
Logo a seguir, um plano de estudos foi criado para os estudantes de medicina da cidade. Denominado "Articella", consistia de uma antologia formada por livros de Hipocrates, Teófilo, Filareto e Galeno.

Quando a medicina era imoral e proibida pela igreja

Os médicos das cortes europeias: "...nunca recuse dinheiro dos ricos".

Os que conseguiam formar-se em Salerno podiam dar como certa a conquista de um emprego lucrativo nos castelos da nobreza europeia. Mas outros menos poderosos podiam beneficiar-se da presença de homens da medicina.
Conforme observado por João de Salisbury, um dos maiores pensadores da igreja dessa época, os médicos "têm olhos para apenas duas máximas: nunca se importe com os pobres e nunca recuse dinheiro dos ricos". Um pensamento presente até os tempos atuais.

Quando a medicina era imoral e proibida pela igreja

Regimes alimentares para os pobres.

Para os menos abastados, porém, logo foram criados métodos de preservação da boa saúde. Surgiram os regimes alimentares, as dietas praticadas até os dias atuais. Salerno também foi a escola que as criou. A divulgação dessas dietas seria impensável para a atualidade, eram receitas em forma de poemas. Médicos poetas.
Por volta de 1.200 já havia um pequeno, mas crescente, grupo de médicos qualificados que afirmavam conhecer os mecanismos que governavam a saúde do corpo e tratavam as poucas pessoas que tivessem condições de pagar por seus serviços.

Quando a medicina era imoral e proibida pela igreja

O primeiro ensinamento cirúrgico ocorreu no norte da Itália.

As cidades do norte da Itália viram Rogerio Frugardi divulgar seu livro "Pratica Chirurgiae". Por volta de 1.180, a cirurgia foi apresentada pela primeira vez por um médico ocidental como uma ciência metódica.
A farmacologia, a terceira das ciências médicas, passou a ser estudado no sul da Europa nessa mesma época. Mais uma vez os árabes mudaram as crendices médicas dos europeus. A tradução de Gerardo de Cremona do "Cânon de Medicina", de Avicena, revelou-se valiosa na formulação de uma teoria de medicamentos. Passaram a usar não apenas ervas, mas surgiram os minerais na medicina ocidental. Em 1.200, já criavam suas farmacopeias. O "Antidotarium Nicolai" foi editado mais ou menos nessa época, em Salerno. As superstições, amuletos e feitiços começavam a desaparecer.

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