Só acredito no que quero ouvir
É comum que as pessoas reafirmem suas opiniões mesmo quando lhe são apresentadas provas incontestáveis de seu erro. O motivo é que esses dados põem em perigo sua visão de mundo. Os criacionistas, por exemplo, rechaçam as provas da evolução e o DNA porque os poderes laicos estão ocupando terreno de sua fé religiosa. Os inimigos das vacinas desconfiam da indústria farmacêutica e pensam que o dinheiro corrompe a medicina. Isso os leva a crer que as vacinas causam autismo, apesar do único estudo que afirmava essa besteira tenha sido desmentido e seu autor acusado na justiça por fraude. Há quem defenda teorias da conspiração em torno dos atentados de 11 de setembro, as milhares de vidas ceifadas pelos radicais do islamismo seriam vítimas do governo dos EUA que desejava construir uma nova ordem mundial. Há quem acredite que Lula da Silva cure doenças com um simples toque de suas mãos. Os defensores dessas teorias estão convencidos de que aqueles que os contestam são inimigos que põem em risco sua visão de mundo. Rechaçam os dados.
O fato de que as convicções sejam mais fortes que as provas são devidos a dois fatores: a "dissonância cognitiva" e o denominado "efeito contraproducente". A primeira, dissonância cognitiva, é a incomoda tensão que surge quando se pensam duas coisas contraditórias ao mesmo tempo. O exemplo clássico da dissonância é o caso da seita que dizia que os OVNIs chegariam em uma determinada data. Não chegaram e eles continuaram a opinar que chegariam em outras datas. Nunca admitiram o erro. As pessoas manipulam os dados para evitar a destruição de ideias preconcebidas. Também demonstraram que no início das eleições as pessoas estão próximas, mas à medida que o tempo passa, suas convicções vão se acentuando, até terminarem em campos definitivamente opostos. Já o "efeito contraproducente" nada mais é que as pessoas se aferrarem a sua visão de mundo cada vez mais à medida que mais e mais provas contrárias aparecem.
Se os dados que desmentem a visão de mundo das pessoas só servem para piorar as coisas, o que podemos fazer para convencer o público de seu equívoco? Em primeiro lugar, manter as emoções distantes. Discutir, mas não criticar. Nada de ataques pessoais e nada de falar em Hitler. Escutar com atenção e tentar demonstrar com calma a outra postura. Mostrar respeito. Reconhecer que é possível alguém pensar daquela forma. É provável que nem sempre esse conjunto de atitudes mude a forma de pensar, a visão de mundo do outro, mas é bem possível que ajudem a não termos tantas divisões desnecessárias.
Para narcotraficantes e yahadistas o problema é a vida e não a morte.
Eles disparam em garrafas. Procuram algo que se assemelhe a formação militar... o uso de uma faca, o sonho de uma metralhadora. Tudo isso têm a ver mais com a formação como homem que com a formação criminal. Uma transição para a idade adulta, uma coisa tribal.
Quando falam não sabem nem quem governa, se Dilma ou Temer. Mas sabem que é gente que nunca matou. Alguém que "não têm força, não têm responsabilidade". Armas e matança. Esse é o pensamento de um homem do século XVI. Um rei que não tinha matado era débil. Esses jovens pensam igual. E não veem a hora de matar alguém, por que assim é um homem.
Não há tempo. Seus filhos nascem quando têm 16, 18 anos. Muitos morrerão com 19 ou 20 anos. Eles sabem do tempo que lhes resta. Não há uma promessa de felicidade. Enxergam seus pais na borda do desespero, com um futuro de merda. Qual futuro os espera? Se não há trabalho para eles.
Esses rapazes não creem em nada. E dizem: "O que é mais importante na vida? Ter o tênis da moda". Sentem-se mal se não têm esse tênis. Que mais conta na vida? Para eles é não precisar entrar na fila da festa. Poder jogar o maior tempo possível no PlayStation e ter o celular de último tipo. Basicamente, estes são os códigos. E como podem ter tudo isso só trabalhando em um escritório? Sabem que é impossível. Então, é melhor pegar uma arma e disputar com a facção vizinha o comércio da cocaína e da maconha.
Para eles, a vida de todos é como a deles. Todos ferram com todos. Todos adoram as histórias da máfia, das gangues, dos yahadistas. A máfia é nossa vida sem fingimento. Um capo é idêntico ao chefe do escritório. Bom, mal, simpático... só que no escritório te despedem, na máfia e nas gangues te matam. A fascinação nasce daí, nasce de um relato autêntico. Gostam de "House of Cards" porque é autêntico. A crueldade é autêntica.
Não há diferença essencial entre membros de gangues, facções ou yahadistas. A morte é um elemento essencial em suas vidas. Não há diferença em como se comunicam. Escopetas, metralhadoras, cabeças cortadas, carros... igual. A morte é o que têm em comum. O destino desses jovens é ser preso ou levar um tiro, condição para ganhar algum dinheiro. Cada vez que tentam melhorar de vida se dão conta que têm uma vida de merda. Entram e saem dos cárceres, tomam tiros. Dá sentido à vida. Se tornam famosos. A imprensa os enaltece ao publicar suas "façanhas". O problema é viver, não morrer.
Presença de pessoas suspeitas é denunciada com música.
Aboliram a sirene da polícia. Eliminaram os apitos dos guardas. Entraram em cena músicas da melhor qualidade. O "Voo do Besouro", de Rimski-Kórsakov, é uma peça musical que as pessoas gravam facilmente e, segundo a prefeita de "Les Coves de Vinroma", na Espanha, "coloca em alerta qualquer pessoa em poucos segundos". Mas essa pequena cidade, que está sendo copiada na Europa, conta com uma lista de hits musicais para informar de tudo que ocorre nas ruas.
O zumbido da música "Voo do Besouro" é o último hit musical adotado. Serve para alertar os moradores da cidade da presença de suspeitos transitando nas ruas ou no comércio. Quando se trata de informações da prefeitura, a música adotada é o "Hino da Alegria", de Beethoven. Vale para eventos, festas, obras que cortarão a água... O "Viva a gente" é lançado todos os dias às 13:00 horas para lembrar que é hora do almoço e de "recuperar um pouco de energia positiva". A trilha sonora do filme "Doutor Jivago" é utilizada para mensagens de particulares, como a perda do celular.
A igreja é o centro do repertório. Quem cuida da musicalidade - e de alertar para possíveis problemas - da cidade são aposentados que reúnem-se na igreja. A prefeita afirma que tudo o que ocorre em sua pequena cidade ocorre nas grandes, só que ali, ao invés da balbúrdia sonora, optaram por belas músicas.