Só com prevenção uma cidade luta contra o crime
Depois de analisar 323.000 chamadas com pedidos de auxílio à polícia de Minneapolis, nos EUA, o investigador Lawrence W.Sherman descobriu que 100% dos telefonemas por alguns delitos se concentravam em tão somente 5% das ruas da cidade. Nascia o conceito da polícia inteligente e, bem mais importante, da prevenção aos crimes como fator primordial. Sherman também afirmou que se sinalizássemos essas ruas com alfinetes sobre um mapa, detectaríamos a existência de "pontos quentes" que aglutinam a atividade criminal em uma cidade.
Durante décadas, o estudo da criminalidade esteve centrado nos delinquentes. Por que algumas pessoas cometem crimes e outras não? Quais fatores biológicos explicam a delinquência? Os fatores sociais ou econômicos são mais importantes que os biológicos? Mas chegou um momento em que os criminologistas, como Sherman, começaram a prestar cada vez mais atenção ao lugar em que ocorriam os crimes. Por que os delitos não se distribuem de forma aleatória e são mais frequentes em alguns lugares e não em outros? Se identificamos esses "pontos quentes" não será mais fácil prevenir a delinquência?
A prevenção é a maior arma contra os crimes.
Este tipo de perguntas deu origem, nos países desenvolvidos, a um diálogo constante entre a cidade e o combate à delinquência. Criaram o que chamam de "prevenção situacional". E vale a pena conhecer a história sobre sua origem. Nos anos 60, os lares britânicos começaram a instalar gás natural em substituição aos gases tradicionais que eram muito mais tóxicos. A polícia constatou que o número de suicídios quase desapareceu. Os potenciais suicidas, que antes usavam os gases tóxicos não se molestavam em procurar outras formas para sair da vida. Esse estudo dos policiais britânicos foi amplamente estudado nos países desenvolvidos. Ficou demonstrado que, se colocamos travas a uma conduta, ainda que seja muito extremada, é provável que desistam de suas intenções preliminares. Por que não ocorreria o mesmo com a delinquência? A primeira atitude foi colocar biombos contra roubos nas vitrines dos correios britânicos. Graças àquela decisão, os roubos dos correios caíram em 40%. Também adotaram estratégias mais sutis. Estudaram a ação dos vendedores de drogas e dos proxenetas e descobriram que seus pontos de ação estavam vinculados aos antigos "orelhões", telefones públicos que favoreciam as chamadas difíceis de detectar. O resultado do estudo levou os britânicos a mudarem os orelhões para o interior de lojas.
A nova prevenção contra o assédio e o estupro.
A Europa está assistindo a uma resposta de prevenção situacional para responder à crescente preocupação pelas agressões sexuais: permitem que as viajantes dos ônibus noturnos possam descer fora das paradas oficiais durante a rota. Essa prática espalhou-se por centenas de cidades. Por ser uma medida muito recente, ainda é cedo para avaliar sua eficácia na redução de delitos. O que importa é que não param de estudar como combater os crimes. Não se submetem a ideias simplistas e ineficientes, como a de armar todos os cidadãos. Estudam. Fruto das pesquisas de crimes, passaram a entender que devem combinar estratégias. Não existe uma só solução e sim um amplíssimo leque de prevenções e soluções. A primeira arma contra o crime é combater a mediocridade e a ausência de estudos.
A prevenção através do desenho urbano. Os melhores policiais são os cidadãos.
As cidades podem proteger-se do crime através de seu próprio desenho. Em algumas cidades britânicas e holandesas estão há anos construindo e remodelando bairros com a única ideia de que se cometam menos delitos. O sucesso é estrondoso, nada menos de 80% de queda de delitos nos bairros onde ocorreram as mudanças na arquitetura das casas e no planejamento das ruas. Há muitas formas de criar um novo desenho urbano para prevenir delinquência. Descobriram que as árvores nas cidades não devem ser muito altas e nem frondosas, que a arquitetura deve eliminar os ângulos mortos e jamais deve faltar uma só lâmpada nos "pontos quentes", nas ruas mais perigosas, nos parques e jardins. Também duplicaram a quantidade de luminárias nesses locais. São tão iluminados quanto um dia ensolarado.
Todas as medidas adotadas em muitas cidades europeias partem de um só princípio: os melhores policiais são os cidadãos. Só na Espanha, analisam diariamente mais de um milhão de informações oriundas das ações policiais e das chamadas telefônicas dos cidadãos. Esse big data, essa estrondosa quantidade de informações de delitos, lhes permite planejar não só o combate direto ao crime realizado pelas forças policiais, mas, especialmente as ações que as prefeituras devem adotar para a constante transformação de suas ruas. Uma das principais ações das prefeituras é a de fomentar o intercambio entre os cidadãos. Há uma imensa diversidade de ações para que os moradores de cada bairro se unam constantemente. Desde pistas de bocha a parques especiais para cães, tudo é possível para que os cidadãos se unam livremente. Entendem que a coletividade está no centro de toda ação eficaz de prevenção da criminalidade. Não basta a ação drástica de policiais, há de existir mudanças arquitetônicas e coesão social.