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Em Pauta

Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/12/2015 08:35
Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território

Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território.

O mundo ocidental utiliza dois modelos policiais - o francês e o inglês. O modelo francês divide as polícias em "nacional - que cuida das cidades com mais de 20 mil habitantes e das fronteiras -, e a "gendarmerie" - que cuida das fazendas e das cidades com menos de 20 mil habitantes. O marco da polícia inglesa é a aproximação com a população e ela atua de acordo com as regiões do país.

No Brasil nós construímos o pior dos mundos e, na verdade, temos muitas instituições policiais, algumas desconhecidas da população: a civil, a militar, os bombeiros (que não são propriamente policiais, mas atendem à estrutura da PM), a polícia científica (na maioria dos Estados deixou de ser um braço da polícia civil), a rodoviária, a federal, a força nacional e a Inspetoria Geral das Polícias Militares, um órgão do Exército, controlado por um general. É um órgão que foi criado em 1969, em princípio para não fazer nada, mas ainda continua dando muitos palpites, ainda tem poder. É dinheiro jogado fora.

Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território
Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território

A sociedade quer uma "policialização" das relações sociais.

Tudo no Brasil é "questão de polícia". Se no prédio tem um cachorro que late o dia todo, onde as pessoas vão reclamar dos latidos? Primeiro com o síndico, depois farão boletim de ocorrência na polícia. Pasmem: 25% dos casos registrados na polícia não são crimes. A polícia é entendida como uma instituição de funcionamento precário no Brasil, tem sua ideologia fechada e repressiva, mas procura responder às imensas demandas da sociedade.

Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território
Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território

A maioria dos crimes não é investigada nem punida.

O único crime cuja investigação é obrigatória é o homicídio. Todos os demais raramente são investigados. 2% dos roubos (com contato com a vítima) viram inquérito policial (dois mesmo e não vinte por cento). Furto (sem contato com a vítima) é uma investigação ainda mais rara - quase 0%. Vai para a cadeia no Brasil quem é pego em flagrante ou o sujeito que mata a mulher. Tivemos uma mudança com a Lei Maria da Penha. Hoje, ela pune os agressores das mulheres em enorme quantidade. Há estudiosos que afirmam que o número de presos pela Maria da Penha só perde para os traficantes de drogas.

Todavia, há um número absurdo de crimes registrados nas delegacias que têm relação com o patrimônio. Se levaram qualquer coisa minha, roubaram minha carteira com a identidade, para me garantir registrarei a queixa. Só que esses crimes não são investigados.

A Polícia Civil é uma fábrica de papel. Preenche B.O., faz um inquérito de 300 páginas, muitas vezes para chegar a conclusão nenhuma. Com as devidas e honrosas exceções, só há dois tipos de policiais civis - o "concurseiro" que só preenche papel, um burocrata, e os "viúvos da Constituição", aqueles que se queixam dos "bons tempos" da punição física, da tortura e dos sopapos.

Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território
Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território

O Brasil é o campeão mundial no desperdício de tempo para pagar impostos.

Perdeu muito tempo para pagar o "Imposto das Domésticas"? Essa é a regra de um país altamente burocratizado e pessimamente organizado. Segundo dados do Banco Mundial, o Brasil é o campeão mundial em tempo gasto pelas empresas para o cumprimento das obrigações tributárias. Desperdiçamos nada menos que 2.600 horas anuais de uma empresa de médio porte, mais do dobro do segundo lugar (que é tão caótico como o Brasil). Veja o Top 10.

Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território
Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território
Só no Brasil existem várias polícias para o mesmo território

Qual o risco que o terrorismo representa para a Olimpíada do Rio de Janeiro?

Na Copa do Mundo, a polícia federal, em parceria com agências de outros países, obteve sucesso em impedir a entrada de estrangeiros suspeitos de ligação com grupos terroristas. O evento que envolvia não apenas uma cidade, como a Olimpíada, mas 12 cidades, transcorreu sem incidentes.

Uma vantagem do Brasil em relação a outros países é a falta de evidências da existência de cidadãos brasileiros, morando no Brasil, aliciados por extremistas sunitas. Então a vigilância pode se concentrar no controle das fronteiras, que está muito longe do estado ideal, mas a presença de células terroristas no Brasil elevaria a ameaça a outro nível.

Em meados de 2003, foi investigada a suposta existência de células terroristas na Tríplice Fronteira - Foz do Iguaçu, Puerto Iguazú e Cidade do Leste (Brasil, Argentina e Paraguai). O que encontraram foram doações de comerciantes para orfanatos xiitas no Líbano que, por pertencerem ao Hizbollah, tiveram suas contas bancárias incluídas na lista do terrorismo dos órgãos de segurança dos Estados Unidos. Também encontraram uma disputa pela exclusividade da distribuição da marca de jogos eletrônicos Brick Game. Essa disputa levou um dos concorrentes, Ali Ahmad Zaioun, a se associar a um agente da inteligência paraguaia. A dupla forjou provas de envolvimento na arrecadação de doações para o Hizbollah, por parte do comerciante rival, Assaad Ahmad Barakat, cujo irmão, Akram, estava construindo uma mesquita filiada ao grupo xiita no sul de Beirute. Ficou comprovado que as doações não estavam destinadas a atividades terroristas.

Entretanto, é improvável que exista alguma célula terrorista no Brasil, mas não é impossível o nascimento de alguma célula. Esse nascimento é algo que acontece com rapidez vertiginosa. Também é digno de ser debatida a intolerância religiosa que começou a ganhar terreno no país. Até poucos anos era impensável assistir alguém chutar a imagem da Virgem Maria, o apedrejamento de crianças vestidas para o candomblé ou o uso político-eleitoral de algum tipo de moralismo religioso. Esses comportamentos tornaram-se realidade no Brasil. Não há o menor sinal de que o país possa ser arrastado para uma guerra religiosa sectária, mas poderemos ser surpreendidos pelo recrutamento de extremistas brasileiros. Vale lembrar que um jovem brasileiro foi para o terrorismo na Bélgica.

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