Suicídios: cientistas mostram caminho para impedir
Em um ano, 925 pessoas tentaram o suicídio em Campo Grande. No Brasil, ultrapassaram a marca de 12 mil tentativas. E vem crescendo. A Organização Mundial da Saúde fala em epidemia de suicídios no mundo. Mas o combate também avança. Os cientistas chamam de "planejamento de resposta a crises de suicídio.
Bastam trinta minutos e uma ficha médica. Isso é tudo que um profissional treinado - médico ou psicólogo - necessita para conduzir essa nova técnica. "Conte-me a história sobre o dia em que você tentou se matar", é a primeira pergunta do profissional. Então ele escuta e acompanha o relato com o tipo de pergunta destinada a criar confiança e revelar sinais de alerta. "Como você saberia que está ficando estressado?". O modo planejamento vem a seguir, identificando formas de autogestão, tais como exercícios. O profissional também pergunta sobre as razões para viver. "O que é bom em sua vida embora as coisas estejam ruins?". Por fim, na ficha, o paciente escreve de próprio punho uma lista de recursos emergenciais: um número de telefone para crises, um terapeuta, o número da polícia, um pronto-socorro.
"Quando havia trilhos no centro de Campo Grande era neles que tentavam tirar a vida"
A nova abordagem se concentra em pensamentos e comportamentos suicidas.
Esta abordagem simples difere em vários aspectos de terapias mais tradicionais. Ela se concentra em pensamentos e comportamentos suicidas, em vez de sintomas de depressão, transtorno de estresse pós-traumático ou outra doença mental. Ela dá opções para o que as pessoas possam fazer, em vez de lhes dizer o que não fazer. Tudo ao contrário do "Contrato para Segurança", há muito preconizado, que remonta ao início dos anos 1970, e pede aos suicidas que prometam não se machucar. O método é rápido e é possível ser administrado até por não médicos ou psicólogos. Basta um bom e intenso treinamento. E o que é mais importante, ele funciona. No ano passado, um grupo de 97 pessoas com pensamentos e comportamentos suicidas, aqueles que se submeteram a esse planejamento foram 76% menos propensos a tentar o suicídio nos seis meses seguintes do que os tratados de outras maneiras.
O suicídio espreita nas sombras.
Os excelentes resultados surpreenderam os cientistas da Universidade de Utah, nos EUA, que desenvolveram essa nova técnica. Mas, eles dizem, "existe essa nova explosão de pesquisas que questionam antigas suposições que pesquisadores, prestadores de serviços de saúde e pessoas comuns têm sobre o suicídio". Por décadas, o suicídio têm espreitado nas sombras, sob o peso do estigma. Antes considerado um crime, o ato de se matar ainda é visto como um pecado. Mesmo aqueles que sabem que decorre de uma doença mental têm evitado ou compreendido mal o assunto. Hospitais e escolas hesitam em realizar exames para detectar sinais dessa epidemia. Pesquisas nas indústrias farmacêuticas excluem pacientes suicidas. Bancos se mostram relutantes em apoiar pesquisas entre seus funcionários - um dos grupamentos sociais mais atingidos pela epidemia de suicídios.
As taxas estão aumentando, mas o instinto é de autopreservação.
No Brasil ha um aumento de 12% da taxa de tentativas de suicídio. Pior é nos Estados Unidos, onde as taxas estão subindo a 28%. O aumento atinge mulheres e homens de meia-idade, com crescimento de 64% e 60% respectivamente. Entre meninas de 10 a 14 anos, a taxa mais que triplicou. Por fim, o suicídio tornou-se um problema grande demais para continuar sendo ignorado.
Apesar do crescimento, o instinto humano de autopreservação é forte. O que, então, leva alguém a tentar se ferir? Teorias de suicídio sempre postularam uma mistura de isolamento social, dor esmagadora - principalmente psíquica - e desesperança. Ainda não um consenso. A Universidade da Califórnia propôs o conceito de "capacidade adquirida". Este diz que por em prática pensamentos suicidas requer superar aversão natural a ferimento e morte, algo que nem toda pessoa angustiada consegue. Um trabalho conjunto das Universidades de Utah com a da Colúmbia Britânica observa que praticidade (disponibilidade de armas de fogo), disposição (tal como personalidade), e experiência (exposição a combate) são fatores que contribuem para a capacidade de suicídio.
Também há muita descrença nas ideias anteriores. A Universidade de Harvard é a mais surpreendente. Diz que "Médicos não são melhores do que tirar cara ou coroa no que tange a prever quem está em risco". A depressão, por exemplo, que sempre esteve entre os principais sinais de alerta, para Harvard também é uma avaliação ineficaz para a predição. "O suicídio perpassa todos os diagnósticos; portanto, diagnósticos não importam tanto", afirmam os pesquisadores de Harvard. A outra tese defendida por cientistas, de relevante valor, é a de que alguém que sai vivo de uma tentativa de suicídio, quando bem administrado, não necessariamente voltará a tentar o ato de tirar a vida. A antiga dizia o contrário, que uma vez tentado, o suicida continuará tentando.