Vikings: viagem à democracia mais antiga do mundo
Atenas ou Roma? Há séculos o Ocidente debate em qual dessas cidades a democracia foi fundada. Não conheciam Althingi, o primeiro parlamento da história da humanidade. É verdade que os vikings estenderam o terror por toda a Europa por mais de trezentos anos. Atualmente, podemos viajar - sem medo - seguindo seus rastros e visitando um lugar razoavelmente desconhecido. Tomem um corno de carneiro cheio de hidromel - a bebida alcoólica predileta dos vikings, empunhem seus machados favoritos e se preparem para conhecer essa verdadeira democracia instalada na Islândia.
Parque Nacional de Thingvellir, Althingi.
Começaremos nossa viagem no "norte do norte", na Islândia, onde o espírito dos vikings bate com intensidade nos fiordes - vales cheios de água entre montanhas - , nos campos de neve e nos profundos vales glaciares, mas, sobretudo, em Althingi, localizado no Parque Nacional de Thingvellir. Não há visitante da Islândia que não se aproxime desse lugar bem próximo da capital Reykjavik. É onde se situava o antigo parlamento estabelecido no ano 930 d.C.. Era um ponto de encontro anual de toda a população da Islândia para resolver conflitos e distribuir o poder. Ainda que agora se chegue comodamente por estrada asfaltada, naquele tempo era uma viagem que podia ser perigosa e alguns moradores levavam até duas semanas para chegar, cruzando glaciares e vadeando caudalosos rios. Hoje é considerado Patrimônio da Humanidade e é frequentado só por turistas.
No primeiro parlamento da humanidade a mulher tinha vez.
O parlamento islandês não só é famoso por abrigar a todos homens como também por dar voz e voto às mulheres. Era ali que os vikings se reuniam anualmente para aprovar leis e resolver conflitos ocorridos durante o ano. Sua arquitetura requintada para a época ficou famosa, especialmente nos últimos tempos onde as raríssimas turbulências políticas levaram milhares de islandeses às ruas.
Althingi também é considerado o maior e mais antigo salão do mundo - que não fosse religioso.
Qualquer um podia participar da reunião anual, desde que fosse cumpridor das leis. Acampamentos temporários- chamados Buöir - eram montados para que as pessoas participassem das reuniões e das festas. É claro que não é possível imaginar viking sem bebida, festa e muito barulho.
Lögrétta, era o Conselho, o coração pulsante do Althingi. As decisões eram tomadas pelo voto da maioria. Trinta e cinco anos mais tarde, dividiram o país em quatro regiões. Cada região elegia 36 membros do parlamento. Para que um veredicto pudesse ser válido, tinha de ter 31 votos.
As mulheres podiam divorciar durante o Althingi.
Algumas das principais inovações do Althingi foram dados pela capacidade da mulher pedir - e conseguir - o divórcio e a resolução dos problemas de propriedade da terra sem derramamento de sangue. Todavia, nos Althingi também eram resolvidas as acusações de bruxaria ou de mulheres que tinham tido filho fora do casamento. Nos dois casos, quando consideradas culpadas, eram queimadas ou afogadas. O incomum é que "apenas" quatro mulheres receberam essas sentenças. E por mais estranho que pareça, nada menos de vinte homens foram levados à fogueira.
A maior figura de autoridade no Althingi passou a ser o Lögsögumaöur, o Orador da Lei. Como não havia língua escrita entre esses vikings, era ele o encarregado de recordar as leis e repassá-las para as seguintes gerações. Também era ele que abria e fechava as reuniões.