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Em Pauta

Violência nas primeiras cidades dos humanos

Mário Sérgio Lorenzetto | 28/06/2019 06:25
Violência nas primeiras cidades dos humanos

Depois de centenas de anos vagando pelo planeta, há uns dez milênios os humanos estacionaram. Nessa, que é tida a maior revolução humana, uns poucos passaram a viver do que colhiam e pastoreavam. Agora, o estudo dos mortos daquelas primeiras cidades mostra que seus habitantes sofreram níveis de violência que são próximos dos atuais, adquiriram enfermidades que desconheciam e passaram fome. Essencialmente, viviam como a maioria das populações vive até hoje.

Violência nas primeiras cidades dos humanos

Na Turquia, Çatalhöyük, tinha 8.000 habitantes.

Na planície da atual Konya, uma das cidades mais populosas da Turquia, foi descoberta, nos anos 60, a cidade de Çatalhöyük. As primeiras casas, feitas de adobe, têm 9.100 anos. Não é a primeira urbe da história, há aglomerações urbanas vários séculos mais antigas - Ain Ghazal, Beidha e Shkarat Msaied, todas no Oriente Médio - mas é a melhor conservada. Na cidade, que ocupa uns treze hectares, chegaram a viver até 8.000 pessoas, uma densidade de 600 habitantes por quilômetro quadrado (Campo Grande têm densidade de 97 habitantes por quilômetro quadrado). É uma cifra muito elevada para uma cidade onde todas as casas tinham apenas um andar.
Após 25 anos de pesquisas, os professores de arqueologia da Universidade de Ohis (EUA), estudaram 470 indivíduos completos e restos de outros 272. Enterrados sob o solo de suas casas, permitem dizer como viviam aqueles primeiros urbanitas.

Violência nas primeiras cidades dos humanos
Violência nas primeiras cidades dos humanos

Pedradas na cabeça, a violência explodia.

Era uma cidade sem ruas e seus habitantes entravam em suas casas pelo telhado... e isso degenerava em estresse social e violência. Uma mostra de quase 100 crânios revela uma violência não encontrada antes em registros de fósseis. Nada menos de 25 das cabeças têm marcas de ao menos uma fratura - algumas têm mais de uma. Só há uma lesão ocasionada por objeto pontiagudo. Todas as demais têm uma forma ovalada e com esmagamento do osso cranial. É típico de golpeamentos com pedras. Pedradas na cabeça. Para as mulheres, as pedradas eram nas costas. Todavia, a maioria das fraturas estão cicatrizadas, significando que não morreram desses golpes. Isso pode indicar que não havia intenção de matar e sim de castigar ou de controlar determinadas condutas. Uma forma de controle social mediante a coerção física.

Violência nas primeiras cidades dos humanos

33% tinha alguma infecção.

Ainda que sejam poucas as enfermidades que afetam os ossos, algumas infecções bacterianas podem deixar neles suas marcas. Algo como 33% desses ossos têm marcas de infecções. Encontraram até ovos de parasitas intestinais em coprolitos (fezes fossilizadas). Os estudiosos dizem que à medida que as populações de caçadores-coletores se estabeleceram para converterem-se em agricultores, tiveram as vantagens de uma alimentação estável, um aumento da fertilidade das mulheres e uma melhor defesa contra os animais selvagens. Todavia, entre as desvantagens, estaria uma propagação mais fácil e rápida de infecções devido ao lançamento de fezes e urina dentro ou nas proximidades das casas. Outro fator é que a separação entre homens e animais domésticos era feita com uma só parede de adobe.

Violência nas primeiras cidades dos humanos

Dentes careados.

Nos dentes ficaram gravados o que comiam os primeiros cidadãos. A base da dieta eram os cereais - especialmente de algum tipo de trigo - e de legumes. Essa dieta fez com que 10% dos dentes encontrados tivessem cárie e 100% tivesse "hipoplasia dental", a perda do esmalte. Analisam que como a média da amamentação fosse até os 3,5 anos, esse fator também contribui para a perda de esmalte posterior. A presença tão elevada de cáries é de esperar pela dieta baseada em açúcares e amidos. Os dentes também mostram que as cabras e ovelhas aportavam a parte essencial das proteínas que necessitavam. Só nos últimos anos de Çatalhöyük apareceram as vacas. Essa cidade foi abandonada em torno do ano 5.950 a.C. provavelmente pelo esgotamento de suas terras.

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