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Em Pauta

Vivemos no ano 2018. Tem certeza?

Mário Sérgio Lorenzetto | 05/04/2018 07:04
Vivemos no ano 2018. Tem certeza?

Pode parecer estranho para alguns. Todavia, os calendários e as datas são apenas convenção. Ou melhor, uma imposição de governantes e religiões. Desde que se inventou o contar das estações - ao que parece foram os egípcios há 4.500 anos - cada cultura dispôs sobre sua própria cronologia. A nossa só é uma a mais.
Vejamos... você felicitou (ebriamente) a passagem para o ano 2018, pois saiba que em alguns lugares se afirmasse que está em 2018 seria considerado um turista com escassa capacidade de integração. Na Etiópia estamos em 2010. Em Java vivemos no ano 385. Na Malásia vivemos no ano 2.843. Se vivêssemos com os sij, estaríamos em 550, segundo o calendário nanakshahi. Para os muçulmanos andamos em 1.439 desde a Hégira. Os bereberes do norte da África afirmam que estamos no ano 2.968. Os bengalis dizem que estamos em 1.424. Para quem tenta escalar o Everest pelo Nepal, vivemos no ano 2.074. Se adotássemos o calendário dos filósofos gregos contaríamos o ano 2.784. E há mais. Na China, contam o ano 4.714, mas essa contagem de tempo não vale para os budistas. Para os adeptos dessa religião, estamos no ano 2.559. Para os maias (existe algum?) estaríamos em 5131. Os judeus estão em 5.778. Os hindús celebram o 5.120 da Era Kali, enquanto no Irã celebram o ano 1.396.

Vivemos no ano 2018. Tem certeza?

Os simpáticos calendários dos revolucionários.

Enfim, há algo simpático na esquerda: seus calendários. Para os revolucionários franceses a jornada que dá começo a essa história é o 1 de janeiro de 1789, ainda que a tomada da Bastilha tenha ocorrido alguns meses depois. Em outras palavras, hoje estaríamos no ano 229. Havia 13 meses de 28 dias com nomes sedutores como Moisés, São Paulo, Shakespeare, Aristóteles, Gutemberg, Carlos Magno, Frederico II, Bichat e Dante. Isso estava acompanhado por um novo "santoral" laico, novos "santos" para os revolucionários. Cada dia recebia o nome de uma figura cultural. Assim, por exemplo, a segunda semana do mês de Aristóteles tinha os dias de Sólon, Ienófanes, Empédocles, Tucídedes, Arquitas, Apolonio e para celebrar o domingo, tinham o dia de Pitágoras. Não me digam que não é atrativo.
A Rússia não aceitou a conversão para o calendário gregoriano e, por isso, a Revolução de Outubro, começou para um brasileiro, em 7 de novembro. Os vencedores dessa revolução - soviéticos - reformarão o calendário. Começaram passando o 31 de janeiro para 14 de fevereiro. O mais interessante é que as semanas soviéticas eram de cinco dias, com um dia de descanso. Uma ideia simpática.

Vivemos no ano 2018. Tem certeza?

Maria Madalena, de prostituta a apóstolo dos apóstolos.

Maria, a de Magdala - um pequeno povoado junto ao lago da Galiléia, mais conhecida como Maria Madalena é a mulher mais citada nos Evangelhos. Mais que a mãe Maria. É uma das maiores figuras bíblicas. Durante séculos, a igreja católica açoitou sua imagem: prostituta, possuída por sete demônios, pecadora... não faltaram calúnias a Madalena. Desde junho de 2016 é santa no calendário do Vaticano. Santa por desejo do Papa Francisco. Sua festa deve ser comemorada pelos católicos nos 22 de julho de cada ano. Mas ela não é mais uma santa, é "apostola apostulurum" - a apóstolo dos apóstolos.
Foi o apóstolo Pedro quem colocou a primeira pedra nas difamações que corriam a respeito de Madalena. Em verdade, Madalena financiou, junto com outras mulheres, os três anos de campanha de Jesus Cristo na Palestina. "Ajudou com seus bens", diz o Evangelho de Lucas. O entendimento que a igreja católica retoma é de Madalena era uma mulher temperamental e desejou impor sua autoridade como companheira predileta de Jesus Cristo e a melhor amiga de Maria, a mãe. Pedro já havia expressado que Madalena era tratada com carinho e deferência. A inveja se alastrou. Rapidamente começaram a surgir boatos de que Madalena era prostituta, que estava possuída pelo demônio, ou que não tinha força para comandar...
É possível imaginar a cena. Na hora da crucificação todos os apóstolos fugiram. Madalena esteve ao lado de Cristo até a morte. É a primeira pessoa para quem Jesus Cristo ressuscitado aparece.
Pedro havia criticado Madalena na presença de Jesus Cristo. O Mestre a defendeu. Não é imaginação. O conflito aparece em vários Evangelhos, oficiais ou apócrifos.

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