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Manoel Afonso

O fracasso e frustração do ex-senador

Manoel Afonso | 17/01/2020 09:24

CRISTOVAM BUARQUE: “Durante 26 anos a República brasileiro teve 5 presidentes do mesmo bloco político...Não demos coesão nem rumo ao Brasil...deixamos nosso país com 12 milhões de adultos analfabetos e 100 milhões sem saneamento...Deixamos a economia em recessão alarmante e com desemprego em níveis dramáticos...o país ficou mais radicalizado,violento e corrupto...O Estado ficou mais ineficiente, aparelhado e endividado...Ficamos 26 anos consolidando a democracia, sem reorientar o país nos novos tempos que vivemos...”

E MAIS... “Eleitos para reformar ficamos contra as reformas...Aumentamos o número de carros oficiais e de privilégios da cúpula do poder: não reformamos a política, ao contrário, nadamos nela ...Nenhuma reforma fizemos no sistema financeiro/bancário; não reformamos o injusto, complicado e vulnerável sistema fiscal, mantivemos a maior carga fiscal, os piores serviços públicos da história, não tocamos no complicado e comprável sistema de justiça...

A OPINIÃO não é de um qualquer. Cristovam tem currículo invejável: engenheiro, economista, cursou a Sorbonne, ex-reitor da UNB, ex-ministro da educação, ex-governador do Distrito Federal e senador por 2 mandatos. Mas o que enseja essa abordagem é o fato dele só após a vida toda militando na esquerda chegar a essa conclusão. De nada valeram as graduações e cargos? Deveria ter rompido antes com o sistema e denunciado todas essas falhas que ‘descobre’ aos 75 anos de idade.

DESTACO o início das declarações do ex-senador: “ Durante 26 anos, a república brasileira teve 5 presidentes de um mesmo bloco político. Apesar de partidos, ideologias e comportamentos diferentes, Itamar, Cardoso, Dilma e Temer vêm do mesmo grupo que lutou contra a ditadura e defendeu posições progressistas em graus diferentes na economia, na sociedade e nos costumes. Foi portanto ¼ de século e de república governado por democratas progressistas...” Conclusão: o preparo intelectual nem sempre é o bastante na vida pública partidária. Mas ele sempre foi opaco e nunca encantou. Em homenagem a Sourbonne que curso – ‘Au revoir’.

INFELIZMENTE o ex-senador esqueceu de abordar o conteúdo utópico da nossa Constituição, onde esse ciclo penoso de erros começou. Na época, o ex-ministro Delfim Neto, tido como dinossauro pela esquerda por ter servido ao regime militar, ironizava a complexidade da Carta Magna ao tratar de matérias impensáveis no primeiro mundo. Ele alertou que a Constituição era generosa e paternalista demais ao só dar direitos e ignorar as obrigações do cidadão. Delfim insistia: “quem vai pagar essa conta de bondades”? Claro – o contribuinte!

RETROVISOR A Constituição foi alvo de críticas do ex-ministro Roberto Campos com frases inteligentes. Algumas delas: “Ela promete-nos seguridade social sueca com recursos moçambicanos. Já tivemos 7 Constituições e os americanos só uma e os ingleses nenhuma. O problema nunca foi de Constituições e sim de instituições. Elencam-se 34 ‘direitos’ ao trabalhador, nenhum dever de trabalhar, pois é irrestrito o direito de greve. A palavra produtividade só aparece uma vez no texto, e ‘direitos’ 76 vezes – enquanto a palavra ‘deveres’ é mencionada apenas 4 vezes”.

JOGO SUJO? Ex- presidente Dilma Roussef (PT) culpa a mídia venal e a elite política e econômica pelo seu afastamento ao se referir ao filme ‘Democracia em Vertigem’. Ora bolas! O impeachment foi fruto de sua incapacidade, arrogância, conivência com a corrupção através de empreiteiras (elites) que financiavam o PT e apoio de governadores políticos.. Detalhe: a diretora do filme é a comunista Ana Petra Costa, neta do fundador da Andrade Gutierrez – pega na corrupção pela Lava Jato. Tá explicado?

SUPERADO? Sobre a pretensão do ex-governador Zeca do PT em concorrer à prefeitura de Sidrolândia algumas questões devem ser analisadas. Nas eleições de 2016 o vencedor – dr. Marcelo Ascoli (PSL) obteve 11.605 votos contra Ari Basso (PSDB) com 9.922 votos. O terceiro colocado foi Haroldo (PEN) com apenas 1.514 votos. Lá – as lideranças são fortes, sem espaço para concorrentes eventuais. O PT só elegeu um vereador (Jean) e na sua candidatura ao senado em 2018 - Zeca do PT obteve só 7.393 votos em Sidrolândia. Acreditar na fidelidade dos assentados rurais é uma aposta perigosa.

ZECA DO PT tem um sítio naquele município. Mas será que isso basta como referencia convincente? No fundo o seu currículo pode pesar pouco, principalmente agora com seu partido em baixa e desmoralizado pelos escândalos. Serve como alerta a terrível experiência de Marcelo Miranda (PR) ao disputar a prefeitura de Paranaíba. Em nada influenciou o fato dele ter sido prefeito de Campo Grande, senador governador e diretor do Denit. Como sempre, muitos políticos evitam o espelho e o calendário. Até que um dia...

ESTIGMA Na política não se pode admitir fraqueza e medo. Claro! Sempre é preciso renovar o discurso para manter o grupo unido. Nas pesquisas de Campo Grande, Dourados, Corumbá e Três Lagoas percebe-se os nomes do MDB em baixa, hoje sem chances de chegar ao poder. É preciso levar também em conta o fato de que as velhas lideranças do partido estão sem mandato. Paira no imaginário popular de que o MDB, sócio do PT no poder, tem culpa pela situação do país. Na maioria dos casos de corrupção – inclusive aqui – há políticos do MDB envolvidos. Estigma que pesa!

SUMIU? A última vez que o engenheiro Marcelo Miglioli frequentou a mídia foi em outubro último ao se filiar ao Solidariedade e anunciar sua candidatura a prefeito de Campo Grande. Depois sumiu! Ora! Candidato precisa aparecer, expor ideias e debater projetos com o público para mostrar seu potencial. Aquela sua votação ao Senado é passado, não conta! O ideal seria contratar uma assessoria de imprensa para profissionalizar o projeto e até frequentar sessões de fonoaudiologia para aprimorar a dicção e entonação de voz. É a dica.

DESAFIO Ao somar os votos obtidos pelo PC do B, PSOL, PCO e PDT nas últimas eleições de Campo Grande chega-se a conclusão que esses partidos ajudarão muito pouco o Partido dos Trabalhadores nas eleições deste ano. Dessas siglas apenas o PDT elegeu 2 vereadores e o PT só Ayrton Araújo. Anote-se que Ademir Santana e Odilon de Oliveira – do PDT – devem deixar a sigla em breve. Para os observadores, a radicalização do discurso esquerdista poderá funcionar como uma espécie de bumerangue, pois o eleitorado da nossa capital é conservador, tendo elegido inclusive Lúdio Coelho.

ALTERNATIVA? A Constituição no artigo 14 – parágrafo 3º - exige a filiação partidária para quem pretende disputar a presidência da república. Com isso valoriza os partidos e os políticos através de seus estatutos e programas. Agora comentam na possibilidade de mudanças com a adoção das chamadas candidaturas avulsas. Solução ou equívoco? Surgem questionamentos envolvendo o compromisso dos candidatos avulsos. Estariam eles vinculados a quem? Às igrejas, empresários e aos seus financiadores por exemplo? Aqui, sem chances.

A PROPÓSITO Hoje quase 40% dos países adotam as candidaturas avulsas para o legislativo e executivo como forma de abertura para toda a sociedade sem as amarras partidárias. Estados Unidos, Chile, França e a populosa Índia são alguns deles. Enquanto isso o Brasil, Argentina e África do Sul por exemplo, estão no bloco que valorizam os partidos. Conclusão óbvia: corporativistas, nossos congressistas não chutariam a bola contra suas próprias redes, tirando-lhes direitos e privilégios que eles conquistaram ao longo da história. Pelo visto continuará do jeito que está!

‘PÉ DE BARRO’ O ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas ganhou esse apelido pelo seu estilo de visitar obras e locais alvos de ações urgentes. Ele tem a visibilidade da mídia apesar de ser discreto e pragmático ao responder perguntas. Formado pelo Instituto de Engenharia e Academia de Agulhas Negras é capitão do Exercito. Sua atuação no ministério vem arrancando elogios da opinião pública e de políticos até da oposição. Um bom nome num ministério cheio de atrativos para as empreiteiras corruptoras que gostam de fazer ‘bons negócios’.

NOTA 10 Outro nome que vem recebendo elogios da classe política e de empresários é Salim Mattar – responsável pela política de privatizações do Governo Federal. Aos 70 anos, o fundador da Localiza ( maior empresa de locação de veículos da América Latina) é defensor intransigente do liberalismo e neste primeiro ano tem obtido grande sucesso. Nas entrevistas e palestras ele combate a presença do Estado em empresas ou setores que poderiam estar produzindo mais nas mãos da iniciativa privada. Para ele, o Estado representa apenas um cabide de emprego caro e inócuo.

“Eleitos para reformar o país e ficamos contra as reformas” (ex-senador Cristovam Buarque-PPS)

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