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Compulsão e obsessão por notícias negativas

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 18/11/2024 13:50

O termo é usado para descrever o hábito de passar longos períodos navegando por notícias negativas ou alarmantes, especialmente nas redes sociais ou em sites de notícias. A palavra combina "doom" (ruína, desgraça, em inglês) com "scrolling" (rolar, no sentido de rolar a tela para baixo). No tempo em que a informação está cada vez mais acessível, principalmente nos acessórios, além do celular, relógio, óculos e até anéis, fica muito difícil não ser bombardeado de notícias em tempo real do mundo.

Esse comportamento compulsivo, tornou-se mais comum em momentos de crises globais, como a pandemia de COVID-19, desastres naturais ou instabilidade política, quando as pessoas buscam informações incessantemente, mesmo que isso as deixe ansiosas ou sobrecarregadas, e é visto principalmente um dos motivadores da ecoansiedade, os medos e angústias excessivos gerados por mudanças climáticas drásticas.

Primeiramente, é importante reconhecer o papel psicológico do doomscrolling. A busca incessante por notícias negativas frequentemente reflete um instinto humano de vigilância, ou seja, a tentativa de se preparar para o pior ao se manter informado. Contudo, esse hábito pode sobrecarregar o indivíduo com um fluxo constante de informações alarmantes, intensificando sentimentos de ansiedade, estresse e até depressão. Estudos apontam que a exposição prolongada a conteúdos negativos aumenta os níveis de cortisol, o hormônio do estresse, prejudicando a qualidade de vida e a saúde emocional.

Além disso, o doomscrolling pode impactar as relações sociais e a visão coletiva do mundo, quando uma pessoa é bombardeada por notícias de desastres, violência ou crises globais, pode desenvolver uma percepção distorcida da realidade, acreditando que esses eventos são mais comuns ou inevitáveis do que realmente são. Essa visão pessimista não apenas desencoraja o engajamento em ações positivas, como também alimenta a sensação de impotência, enfraquecendo o senso de comunidade e solidariedade.

Não é algo sem resolução, é possível diminuir os efeitos negativos do doomscrolling ao adotar estratégias conscientes de consumo de informações. Estabelecer limites para o tempo gasto em redes sociais, diversificar as fontes de notícias e priorizar conteúdos construtivos são algumas das maneiras de equilibrar o acesso à informação sem comprometer a saúde mental. Além disso, práticas de autocuidado, como meditação e exercícios físicos, acompanhamento psicológico e psiquiátrico também ajudam a reduzir o impacto do estresse associado a esse comportamento, importante é saber identificar quando os comportamentos ultrapassam o usual e fazem mal.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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