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O poder do sobrenome no mercado de trabalho

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 28/10/2024 07:07

A polêmica em torno dos chamados "nepo babies" — expressão que se refere a filhos de pessoas famosas ou influentes que se beneficiam da posição de seus pais para alcançar sucesso em suas carreiras — tem ganhado cada vez mais atenção na sociedade. O nome tem a origem de “nepotism baby” ou seja, bebê nepotismo, e se da exatamente por ser algo recebido dos pais ou de parentes que possam privilegiar em algo.

O termo "nepo babies" está ligada a percepção de que esses indivíduos, ao invés de conquistarem seu sucesso unicamente por mérito ou talento, estão ocupando espaços graças às conexões familiares e ao capital social que herdam. Em muitos casos, essas oportunidades são vistas como inacessíveis para a maioria das pessoas, especialmente aquelas sem vínculos com figuras influentes, gerando um sentimento de frustração e injustiça, particularmente entre aqueles que acreditam que o trabalho árduo e o talento deveriam ser os principais critérios de sucesso.

A proliferação de nepo babies pode perpetuar uma sensação de que a meritocracia, ideia de que o sucesso é alcançado apenas por mérito individual, é uma ilusão. Em vez de um campo de jogo nivelado, muitos veem os setores culturais e econômicos como arenas onde o privilégio e o nepotismo têm mais peso do que o esforço ou o talento. Isso pode ter um efeito desmotivador em quem está começando a carreira ou tentando entrar em indústrias altamente competitivas, pois a percepção de que "as cartas estão marcadas" gera uma descrença no sistema. O sucesso muitas vezes instantâneo desses indivíduos levanta questionamentos sobre o impacto dessas práticas no imaginário popular. Ao observar nepo babies sendo promovidos como talentos únicos ou recebendo grandes oportunidades, muitas pessoas questionam a legitimidade dessas narrativas e passam a enxergar o sistema como injusto.

Entretanto, é importante reconhecer que o privilégio familiar não necessariamente diminui o talento ou o esforço individual, muitos nepo babies se dedicam e demonstram habilidades excepcionais em suas respectivas áreas. Contudo, o ponto crucial da controvérsia reside no acesso às oportunidades, e não na qualidade do trabalho. O fato é de que muitos desses indivíduos têm portas abertas para eles desde o início, em comparação com aqueles que enfrentam barreiras substanciais para obter uma chance. Pensar sobre isso, portanto, vai além do entretenimento e da moda, e toca em questões estruturais sobre como o privilégio se reproduz de geração em geração.

Para lidar com esse fenômeno de forma construtiva, é importante que a sociedade tenha discussões mais abertas sobre privilégios e como esses influenciam as oportunidades, ter iniciativas que promovam maior diversidade e inclusão em indústrias dominadas por dinastias familiares podem ser passos importantes para garantir que talentos não sejam ignorados em razão de suas origens. Ao mesmo tempo, é necessário que a própria mídia e o público desenvolvam uma consciência crítica sobre as histórias de sucesso promovidas, questionando as condições de acesso e a verdadeira equidade nas oportunidades e é essencial abrir esses espaços para debates sobre como minimizar os impactos dessas dinâmicas e garantir que o mérito genuíno seja o principal critério de ascensão profissional.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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