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Positividade tóxica: o otimismo como solução universal

Por Lia Rodrigues Alcaraz (*) | 21/10/2024 07:05

A positividade tóxica se refere à imposição exagerada e inflexível de uma mentalidade positiva, mesmo em situações adversas ou de sofrimento, essa posição foi retratada recentemente no primeiro filme da Disney - Divertidamente (Inside Out). Essa abordagem, que a princípio pode parecer benéfica, frequentemente invalida as emoções negativas e o sofrimento legítimo, criando um ambiente onde expressar frustração, tristeza ou angústia é desestimulado ou malvisto. O conceito fala sobre uma "positividade a qualquer custo", que pode ser prejudicial, pois impede a aceitação genuína de emoções difíceis e a busca por soluções adequadas para os desafios emocionais da vida.

Hoje em dia, em que, grande parte da sociedade é influenciada pelas redes sociais e pela busca incessante pelo sucesso e felicidade, a promoção de uma cultura onde o otimismo é visto como uma solução é universal. É bem comum vermos frases como "tudo acontece por uma razão" ou "era o destino" “não veja pelo lado negativo” são comuns, mas muitas vezes simplificam realidades complexas e invalidam o sofrimento. A positividade tóxica ignora que, para o desenvolvimento emocional saudável, é necessário reconhecer e processar as emoções negativas em vez de reprimi-las ou substituí-las por uma atitude otimista superficial.

É importante reconhecer que as emoções negativas têm um papel essencial no autoconhecimento e no enfrentamento das dificuldades da vida, o medo, a tristeza, a frustração e a raiva são respostas naturais a situações desafiadoras e, quando reconhecidos e processados de maneira saudável, podem levar ao crescimento pessoal. Ignorar ou minimizar essas emoções, por outro lado, pode resultar em problemas maiores, como ansiedade reprimida, estresse crônico ou dificuldades relacionais, compreender quando a positividade excessiva está sendo tóxica é fundamental para desenvolver uma abordagem emocionalmente equilibrada.

Aceitar que nem sempre é possível ou necessário estar feliz, não é fácil, mas necessário.  As pessoas devem se permitir sentir emoções negativas sem culpa ou pressão para mudá-las imediatamente. Um exemplo prático é evitar o uso automático de clichês motivacionais quando alguém compartilha uma experiência difícil. Em vez de tentar "consertar" o problema com palavras otimistas, é mais produtivo ouvir ativamente e validar os sentimentos da pessoa. Frases como "eu entendo que você está passando por algo difícil" ou "é normal se sentir assim" criam um espaço seguro para que a pessoa processe suas emoções. A aceitação das próprias limitações e vulnerabilidades permite o desenvolvimento de resiliência de forma saudável.

(*) Lia Rodrigues Alcaraz é psicóloga formada pela UCDB (2011), especialista em orientação analítica (2015) e neuropsicóloga em formação (2024). Trabalha como psicóloga clínica na Cassems e em consultório.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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