Na onda de se vingar de golpista, pai inventa divórcio e até vício para "filha"
Homem recebeu mensagem pelo Whatsapp de que alguém que se passava por filha e pedia dinheiro emprestado
Estelionato através de aplicativos de mensagem tem se tornado cada vez mais comum na cidade e já não assusta ninguém. Pelo contrário, as vítimas têm reagido às tentativas pela internet. Foi o caso do empresário Erasmo Neto, de 46 anos, que inventou um divórcio e até um suposto vício para a filha.
Ele afirmou que desconfiou da mensagem assim que a recebeu, porque sua filha é pequena e não tem celular. Além disso, ela estava na escola e não costuma chamá-lo de pai, só de papai.
“Estava em casa e recebi a primeira mensagem, é a primeira vez que recebo esse tipo de mensagem e foi bem fácil identificar que era golpe, ai já saquei e decidi entrar na onda”, disse.
A primeira mensagem do golpista foi pedindo que Erasmo adicionasse seu número. Ele respondeu perguntando como estava o relacionamento dela com o Jonas, suposto marido da filha.
A pessoa respondeu que estava tudo bem entre eles e pediu um favor, porque havia tido problemas em sua conta bancária e precisava de R$ 1.460 emprestado. Fingindo acreditar que conversava com a filha, Erasmo foi ainda mais longe na criatividade e questionou se ela havia voltado a usar drogas, e inventou outra dívida que ela tinha com ele, de R$ 17 mil.
O golpista seguiu pedindo o valor em questão e o pai solicitou a chave PIX, quando a recebeu, ele pesquisou o número e achou os dados do dono da conta que receberia o dinheiro. Foi então que ele foi mais a fundo na história de que a filha estava envolvida com drogas, e informou que pediria a um conhecido da polícia que puxasse a ficha criminal do dono da conta bancária.
“Falei isso para ele achar que eu tinha caído, para ver até onde ele ia chegar, aí a história foi se desenrolando. Perguntei se o dinheiro era para pagar dívida de boca de fumo, depois que eu falei que o Jorge estava na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) ele apagou a mensagem que tinha os dados da chave PIX e me bloqueou, aí eu denunciei o número para o Whatsapp”, explicou Erasmo.
Se o criminoso continuasse com a história, Erasmo diria que Jorge era seu outro filho, irmão da suposta filha com quem estava falando. No entanto, depois de jurar que não estava mais usando drogas, o golpista sacou que era uma brincadeira e bloqueou o pai no aplicativo.
“Eu queria deixar ele preocupado,achando que eu passei alguma informação para a polícia mesmo. Meu objetivo era fazer ele achar que eu cai no golpe e passei os dados dele para a polícia”, explicou.
Histórico - O crime de estelionato é o terceiro que mais faz vítimas em Mato Grosso do Sul, ficando atrás só das ocorrências de furto e violência doméstica, segundo estatísticas da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). Só entre 1º de janeiro até 19 de junho, foram 5.361 registros de estelionato, ou seja, 31 vítimas por dia.
Nos últimos meses disparam os golpes pelo WhatsApp e ofertas de vagas de emprego, com a facilidade de transferências bancárias via PIX. Conforme a Sejusp, em 2021 foram registradas 11.196 ocorrências. Se for comparar ao mesmo período deste ano, de janeiro a maio, em 2021 foram 4.790 golpes, e em 2022, 4.912 ocorrências de estelionato.
Campo Grande News já noticiou outro caso de um pai que enrolou o bandido. Dois minutos depois de falar com a filha por ligação, um eletrotécnico, de 47 anos, morador em Campo Grande, recebeu uma mensagem por WhatsApp da jovem pedindo dinheiro para consertar o celular. O intervalo entre a ligação e a mensagem foi o detalhe que fez o pai perceber que se tratava de uma tentativa de golpe. E o homem fingiu cair, até que o golpista desistiu.
Ele afirmou que os detalhes na conversa fizeram com que ele se atentasse de que se tratava de um golpe. "Se realmente fosse minha filha, ela não iria negar que eu fosse ao encontro dela. E outra, a gente havia acabado de se falar por ligação. Decidi divulgar o caso porque tem muita gente que cai ainda, às vezes a pessoa está preocupada, com outros problemas, fica nervosa e não presta atenção que pode ser golpe", alertou.