ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, SEGUNDA  23    CAMPO GRANDE 27º

Economia

Aumento da inflação faz embalagens diminuírem de tamanho na Capital

Fabricantes podem mudar tamanho de embalagens de itens, mas têm de seguir normas federais

Guilherme Correia e Cleber Gellio | 12/05/2022 12:15
Em mercados da Capital, caixa de ovo é encontrada com 20 unidades. (Foto: Cleber Gellio)
Em mercados da Capital, caixa de ovo é encontrada com 20 unidades. (Foto: Cleber Gellio)

A assistente social Maria Campeiro, de 43 anos, foi até um atacadista na manhã desta quinta-feira (12) e o sabão em barra, um dos produtos que estava em sua lista de compras, está “menor” do que costumava ser, anteriormente. Segundo ela, o pacote passou a vir com quatro unidades, ao invés de cinco.

A consumidora ressalta que o produto evidencia no encarte que há mudança, com os dizeres "novo formato anatômico". Já a caixa do sabão em pó indica que os novos 800 g rendem o mesmo que 1 kg.

"800 g rende igual 1 kg" indica embalagem de sabão em pó que perdeu tamanho. (Foto: Cleber Gellio)
"800 g rende igual 1 kg" indica embalagem de sabão em pó que perdeu tamanho. (Foto: Cleber Gellio)

Reduzir o volume dos itens e manter o preço original tem sido uma das estratégias que empresas têm adotado para não perder a fidelidade do consumidor, em meio ao aumento constante na inflação, no Brasil.

Campo Grande teve o terceiro maior aumento no último mês e acumula a quarta maior alta dos últimos 12 meses, de todo País. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística), os mesmos produtos, no geral, custam 12,85% mais caro, no último ano.

Júlia já notou diferença na embalagem do leite em pó. (Foto: Cleber Gellio)
Júlia já notou diferença na embalagem do leite em pó. (Foto: Cleber Gellio)

A confeiteira Júlia Martins, de 59 anos, compra leite em pó com frequência e relata que pagava R$ 5,80 no produto que tinha 450 g. Agora, esse mesmo item é vendido a cerca de R$ 8, com 380 g. “Fazer o que? A gente tem que sobreviver, né, não tem como escapar. Mas o jeito é pesquisar.”

Proprietária de uma padaria junto ao marido, a empresária Vanessa Scherer, de 36 anos, costuma comprar muitos ovos quando vai ao mercado, por conta de sua produção, e já percebeu a diferença. Segundo ela, a cartela de ovos passou de 30 unidades para 20, ainda que o tamanho desses tenha aumentado.

Se você não prestar atenção na embalagem, você acaba se enganando e levando uma de 20 ovos, achando que está levando 30.”

Vanessa ressalta que outros itens acabam sofrendo na qualidade, não apenas na quantidade, como o iogurte, que tem vindo cada vez “mais fino”. “Antes, eram mais espessos. Talvez tenha uma diferenciação, para deixar o produto mais barato”, nota.

“Como a gente compra muitos ovos porque a gente fabrica pães, a gente consegue perceber. A gente tem um olhar mais clínico. Mas quem é leigo, que não compra esse produto todo dia, não percebe”, opina.

A autônoma Nerci Lima, de 63 anos, identificou que a caixa de bombom, por exemplo, segue com a mesma embalagem, mas com menos doces. “A caixa continua do mesmo tamanho, mas o peso é outro. O preço não para de subir.”

Quem não percebe, né? Olha só, vai desde o sabonete até a balinha. Se você comparar a balinha, vai ver que ela está menor”, aponta a consumidora.

Legislação - Mudar o tamanho dos produtos não é ilegal, mas fabricantes têm de informar claramente as mudanças, conforme a Lei.

De acordo com portaria da Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), pasta do Ministério da Justiça, a informação de redução de volume deve constar no rótulo do produto por seis meses a partir da data de alteração, escrito em caixa alta, negrito e seguindo outros critérios de legibilidade para que o cliente possa ser informado da mudança.

As regras, inclusive, foram endurecidas, para evitar que o consumidor seja levado ao erro. Até então, a exigência era de que as informações constassem na embalagem por três meses.

O consumidor, geralmente fiel a determinada marca, não percebia a diminuição da quantidade [...] o lapso temporal aumentou para seis meses, pois entende-se que os três meses anteriores não eram suficientes”, justifica a Senacon, em nota divulgada à imprensa.

Ao jornal O Globo, o coordenador do Núcleo de Varejo e Supermercados da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Rio, Ulysses Reis, a estratégia não é nova e se intensifica em períodos inflacionários.

“As empresas ficam com medo de subir os preços e perderem clientes para marcas menores e mais baratas, porque uma vez que o cliente migre para o concorrente, esta pode se tornar a marca mais querida."

Caixa de fósforos da marca Fiat Lux "perderam" 40 palitos desde o ano passado. (Foto: Cleber Gellio)
Caixa de fósforos da marca Fiat Lux "perderam" 40 palitos desde o ano passado. (Foto: Cleber Gellio)

Reduflação - Essas mudanças já são notadas pela população e, na internet, o truque ganhou o apelido de “reduflação” - uma junção das palavras “redução” com “inflação”.

Uma publicação no Twitter gerou dezenas de milhares de curtidas, com muitas pessoas se identificando e corroborando com a situação. A caixa de 240 fósforos da marca Fiat Lux, por exemplo, passou a ser de 200 unidades. Esta mudança, contudo, aconteceu em 2021 e seguia as normas de publicidade.

Produtos de limpeza também passaram por mudanças - o lava roupas líquido Brilhante e o sabão glicerinado Ypê perderam 10% de volume cada. Ao jornal O Globo, a empresa informou que sua linha de sabão em barra foi relançada com "novos benefícios", como "evolução na ergonomia". A Ypê considera “cenário de aumento expressivo do preço dos insumos”, mas pondera que “procurou repassar o mínimo possível ao consumidor".

O Goiabinha da Piraquê teve embalagem reduzida de 100 g para 75 g, enquanto o Wafer de Chocolate passou de 160 g para 100 g. A empresa justificou que os novos pacotes visam cobrir o avanço dos custos de produção, especialmente devido à alta do trigo e demais commodities, evitando o aumento de preço dos produtos nas gôndolas.

Os biscoitos das marcas Bono e Nesfit, ambas da Nestlé, ficaram menores 10% e 20%, respectivamente, enquanto o achocolatado Nescau diminuiu em 7,5%. A fabricante declarou que a adoção de novos formatos e tamanhos visa seguir tendências de mercado, garantir a adequação a inovações tecnológicas ou também padronizar a gramatura dos produtos das marcas, de forma a manter sua “competitividade”.

Nos siga no Google Notícias