Bilhões da celulose, aeroporto e hotel gigante: novidades da “cidade do romance”
Município que mais cresce em MS foi batizado com nome do livro de Visconde de Taunay
Aos 65 anos, Inocência, a 331 km de Campo Grande, vivencia as maiores mudanças da sua história. Tradicionalmente terra do gado, atividade exercida pelos fundadores, mineiros que vinham ao então Mato Grosso em busca de vida melhor, a cidade testemunha a chegada de fábrica de celulose da Arauco (US$ 4,6 bilhões), terminal intermodal da Suzano (que escoa a produção da planta de Ribas do Rio Pardo para o Porto de Santos), aeroporto (investimento de R$ 15,4 milhões do governo estadual) e de hotel alojamento para 1.600 pessoas.
RESUMO
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Inocência, cidade a 331 km de Campo Grande, vive transformações históricas com a chegada de grandes investimentos. A Arauco está construindo uma fábrica de celulose de US$ 4,6 bilhões, enquanto a Suzano desenvolve um terminal intermodal para escoar produção. Um novo aeroporto e um hotel para 1.600 pessoas também estão em construção. A cidade, tradicionalmente pecuária, agora vê a economia se diversificar com eucalipto e outras culturas. A arrecadação municipal aumentou significativamente, refletindo o crescimento econômico. A população, que era de 8.400, pode chegar a 32 mil nos próximos anos.
Logo na entrada do município, a placa avisa ao visitante que estamos na “cidade do romance”. Inocência é o nome do livro de Visconde de Taunay, que retrata o conservadorismo do século 19 e acabou escolhido para dar nome à cidade.
O enredo é trágico e violento: a protagonista da história vivia isolada em seu quarto por autoritarismo do pai, mas acaba se apaixonando por um médico. Revoltado, porque a filha era prometida a outro, o pai a empurra, ela bate a cabeça e morre em razão da queda. O médico é morto pelo noivo de Inocência.
De volta ao século 21, Inocência surge com um Núcleo Industrial, onde obras de alojamentos gigantes se intercalam com boates. Em meio a tantas construções, o projeto do Alloggio Hotéis, empresa de Bauru (interior de São Paulo), se destaca na paisagem.
“A oportunidade, muitas vezes, bate à sua porta. Na verdade, o nosso ramo é de alimentação industrial, coletiva. E surgiu a oportunidade aqui na obra da Arauco. A gente enxergou um nicho maior. Alguns dos sócios já têm hotéis no interior de São Paulo. E resolvemos colocar esse empreendimento aqui, que não é pequeno” afirma Marcos Paes, gerente de obra.
A construção começou em setembro do ano passado, com 100% da mão de obra trazida de fora do Estado devido à falta de profissionais. “Mesmo os que vêm de São Paulo são da Bahia, Maranhão, Piauí e outros Estados. Hoje, estamos com 60 trabalhadores”, diz Marcos.
Ao todo, a estrutura vai comportar 1.600 pessoas, distribuídas em 512 quartos. A intenção é hospedar trabalhadores e viajantes. O investimento é de R$ 10 milhões.
“São suítes para três pessoas. Um hotel realmente, com estacionamento, que pensa no lazer das pessoas: área de vivência, quadra, campo de futebol society, vôlei de areia, área comum para churrasqueira. Estamos com uma cozinha com capacidade para até duas mil pessoas. Equivale a uma cidade pequena”, afirma Douglas Lopes, gerente de operações.
Roda da fortuna da celulose
Com mudanças na vocação econômica, onde a pecuária cede área para eucalipto, amendoim e laranja, Inocência vê a celulose, segunda commodity mais rentável da balança comercial do Estado, girar a roda da fortuna.
A Arauco se espalha pelo município. A fábrica será construída na MS-377, a cerca de 50 km da área urbana e a poucos quilômetros do Rio Sucuriú. O belo curso de água divide Inocência e Três Lagoas. O rio, aliás, dá nome ao projeto da empresa, batizado de Sucuriú.
Por enquanto, a obra está na fase de terraplanagem, envolvendo 2.400 pessoas. Na etapa da construção civil, devem ser 14 mil trabalhadores.
Da rodovia, por enquanto, o máximo que se consegue ver é a terra vermelha ao longe e algumas máquinas. Um cinturão verde oculta a movimentação.
Na entrada do local da obra, tenda para proteger do forte calor, portaria controlando entrada, videomonitoramento e Wi-Fi da internet distribuído, gentilmente, por QR Code a quem chega. Mesmo que não tenha obtido autorização para entrar na obra, caso da equipe do Campo Grande News.
No Centro de Inocência, a empresa montou a Casa Arauco. O espaço faz o meio de campo com os moradores e potenciais fornecedores. A estrutura de madeira, com energia solar e reaproveitamento de água, exibe painéis sobre a história do grupo, as fases da produção da celulose e a destinação para vários produtos: como papéis, fraldas e roupas.
Seguindo pela rodovia, mas à frente da área urbana, a Arauco surge em placa indicativa da entrada dos alojamentos da empresa. Mais uma vez, os valores são superlativos: investimento de R$ 242 milhões.
Ao lado da estrada, está o aeródromo da cidade, ainda em fase de construção, com pistas de pouso e decolagem, taxiway (que conecta a pista principal ao pátio), pátio de aeronaves e alambrado operacional.
Poucos quilômetros à frente, surge o porto seco da Suzano. O local faz a integração da rodovia com os trilhos. A celulose viaja de Ribas do Rio Pardo a Inocência em caminhões de 30 metros. No terminal, a carga é transferida para vagões. O destino é Santos, de onde parte para a exportação.
Arrecadação extra de R$ 33 milhões
O crescimento da cidade se reflete nos cofres municipais. A receita prevista pela Prefeitura de Inocência para 2024 era de R$ 115.433.168,45. Mas o resultado foi de R$ 149.288.287,62. Portanto, acréscimo de R$ 33,8 milhões.
O aumento na arrecadação foi alavancada pelo ITBI (Imposto sobre Transmissão de Bens Imóveis), responsável pela fatia de R$ 21.453.679, 95, e ISSQN (Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza), que resultou em R$ 18.799.419,09.
Para 2025, a previsão da gestão do prefeito Antônio Ângelo Garcia dos Santos (PP), o Toninho da Cofapi, é receita de R$ 160 milhões. No quadro atual, o município tem 1.300 empresas regularizadas.
Inocência tinha 8.400 habitantes, contando a população da área rural. Oficialmente, a prefeitura informa que atualmente são 8.500 habitantes, mas o cálculo informal é que já são 13 mil pessoas na cidade. A administração prevê que, nos próximos três anos, sejam 32 mil pessoas. Depois, a cidade deve se estabilizar com 19 mil habitantes.
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