Black Friday, Copa e Natal animam comércio; difícil é manter vendedor na loja
Setor estima abrir 2 mil vagas temporárias de fim de ano, mas esbarra na dificuldade de contratar funcionários
Pela primeira vez na história, o comércio vive um "boom" na criação de promoções para o fim de ano. O motivo são duas datas atrativas para o setor que serão realizadas próximas do Natal: a Black Friday e a Copa do Mundo. Apesar da expectativa para as datas que devem aquecer o mercado, a dificuldade na contratação pode ser um balde de água fria para os lojistas.
Muito confiante no aumento de pelo menos 30% nas vendas em relação ao ano anterior, o gerente Carlos Rogério, de uma das unidades da Casas Bahia que fica na região central da cidade, conta que a maior preocupação, no momento, é preencher o quadro de colaboradores para suprir a demanda.
"O nosso foco agora é contratar novos funcionários para atender essa clientela, mas não está tendo profissionais, e eu não digo nem em ser uma pessoa com experiência, porque aqui nós não exigimos, a gente mesmo investe na capacitação e damos treinamentos, a pessoa tem que estar disposta a permanecer no serviço", explica.
Ainda segundo o gestor, a unidade está com cinco vagas abertas para venda e estoque. Apesar de fazer muitas entrevistas, nem todos querem 'pagar o preço' pelo trabalho. "Às vezes a gente até anuncia a vaga, ai, vem um monte de gente, nós contratamos, ficam duas semanas e pedem para sair. Acredito que hoje os jovens não querem muito compromisso e olha que o salário dos nossos vendedores são bons, vão de R$ 2.500 a R$ 7 mil, além dos benefícios, como o vale-alimentação, entre outros", ressalta Carlos.
Em uma das unidades da loja Avenida, empresa de vestuários e calçadas, em Campo Grande, o supervisor Leonardo Cleto, diz que somente na unidade que administra, 20 vagas estão em aberto, para efetivo e temporário. "Aqui já começamos a contratar porque queremos dar um atendimento mais assistido e direcionado aos nossos clientes, então queremos ampliar o quantitativo no caixa, na venda e no estoque", detalha Leonardo.
A ideia é começar o mês com a equipe completa. Leonardo acredita a dificuldade na contratação pode estar relacionada às exigências do mercado de trabalho. "A gente percebe que os jovens estão preferindo trabalho informal, é muito mais fácil prestar um serviço, ganhar o dinheiro e ir para casa, o difícil é bater ponto e cumprir a tarefa todo dia", considera.
O mesmo acontece na Passaletti Calçados. Até o dia 21 de novembro, o gerente Etevaldo Castro, espera já ter contratado e treinado seis funcionários a mais que atuarão no período sazonal. "Na próxima semana estaremos recebendo currículos para já contratar e preparar os novatos. Não queremos deixar para última hora, mas tem sempre uma dificuldade. Os candidatos são chamados, até trazem os documentos para o registro em carteira e somem", conta.
O presidente da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) de Campo Grande, Adelaido Vila, avalia que o deficit pode estar relacionado a vários fatores, como o salário, carga horária e até mesmo na forma como são tratados pelos clientes.
"Aquele que trabalha no setor de atendimento e venda tem reclamado muito da forma desrespeitosa com que o cliente trata esse funcionário, o quanto ele tem sido rude e severo com quem está trabalhando. O patrão paga aquilo que pode, o consumidor não valoriza o trabalho e tudo isso colabora para afastar os jovens em busca do primeiro emprego", destaca Vila.
Este ano, Mato Grosso do Sul deve abrir quase 2 mil vagas temporárias no fim do ano, para o período de vendas do Natal. O índice é o maior dos últimos dez anos, conforme dados do levantamento feito pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).
As maiores contratações devem ocorrer no segmento de hiper e supermercados, com 945 vagas previstas. Em seguida está o setor de utilidades domésticas e eletroeletrônicos, com 309 vagas; vestuário e calçados, com 298 contratações. Livrarias e papelarias aparecem com 165 vagas; e demais segmentos totalizam 233 contratações.
Expectativa - No geral, o empresariado espera que os números se sobreponham às dificuldades. O Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) teve aumento de 3,7% em outubro, alcançando 142,5 pontos. O resultado é o melhor desde junho. Os dados foram apurados pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). A pesquisa foi realizada com 185 empresas de Mato Grosso do Sul.